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Imagine a alegria de conquistar um dos papéis principaisiau cbetuma novela da Globo e, ao mesmo tempo, a tristeza de ser rejeitado pela maioria dos telespectadores.
Aconteceu com Zezé Mottaiau cbet‘Corpo a Corpo’, exibida entre novembro de 1984 e junho do ano seguinte na faixa das 20h da emissora.
O autor Gilberto Braga ousou ao criar um núcleo de negros bem-sucedidos, situação até então inédita na teledramaturgia marcada por pretosiau cbetpapéis de escravos, empregados domésticos e bandidos.
Zezé interpretava a arquiteta Sônia, uma mulher talentosa, elegante e sexy. O jovem herdeiro Cláudio (Marcos Paulo) se apaixona por ela, apesar da resistência do pai dele, o racista declarado Alfredo (Hugo Carvana).
O casal inter-racial horrorizou a parcela conservadora e preconceituosa do público. Zezé e Marcos ouviam comentários assombrosos.
Um homem questionou se o ator estava passando fome quando “aceitou a humilhação de beijar uma negra na TV”. Outro afirmou que desinfetaria a boca com água sanitária se tivesse de beijar Zezéiau cbetcena.
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Uma doméstica confessou mudar de canal toda vez que Sônia e Cláudio surgiamiau cbetcena porque não gostava de ver uma preta e um brancoiau cbetmomentos românticos. Em reclamações enviadas à Globo, telespectadores chamavam a atriz de “negra feia”.
Com 40 anos na época, Zezé sentiu na pele a resistência da sociedade com a ascensão de um artista negro a uma posição de destaque.
Anomalia vista agora com Vini Jr., 22 anos, o craque do Real Madrid que enfrenta manifestações de racismoiau cbetpartidas do campeonato espanhol.
Os torcedores aceitam um jogador preto desde que seja no seu time, para gerar alegrias à comunidade local. Se o atleta estiver na equipe adversária, não sentem pudoriau cbetxingá-lo de ‘macaco’ e fazer ameaças.
O mesmo comportamento cruel se nota quando um ator ou atriz de pele escura é escalado para um personagem empoderado.
Em ‘Insensato Coração’, também do vanguardista Gilberto Braga, Lázaro Ramos viveu o designer André, um incontrolável sedutor.
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Negro retinto, assim como Vini Jr., e fora do padrão de galã incensado por décadas, ele causou estranhamentoiau cbetparte dos noveleiros e atéiau cbetalguns críticos de TV.
Os contrariados argumentavam ser pouco crível que um negro como Lázaro levasse tantas mulheres – a maioria, brancas – para a cama com tanta facilidade.
Na ficção, tudo acabou bem: Sônia e Cláudio se casaram, André retomou a vida de conquistas após superar um câncer de testículo.
Na vida real, Vini Jr. está longe de conseguir um final feliz emiau cbetbatalha contra o racismo vergonhoso nos estádios da Espanha. Mas, ainda bem, não luta sozinho.
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