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Sou Alexya Lucas Evangelista Salvador. Travesti, mãe, reverenda, professora, transmilitante dos Direitos Humanos e empreendedora. Tenho 42 anos e sou natural de Mairiporã, na grande São Paulo.
A minha relação com a igreja e com a vida comunitária norteia minha vida. É uma relação que faz parte de mim. Eu não saberia existir no mundo sem isso porque é nessa relação que eu me encontro, que eu me percebo, que me sinto tão feliz, me sinto chamada e vocacionada.
Essa relação começou quando eu ainda era criança, aos sete anos, quando procurei o catecismo na igreja do bairro onde morava. De lábetnacional ou betanodiante, me tornei catequista e coordenadora de grupo de jovens. Participei de várias pastorais da Igreja Católica, o que culminou na minha ida para o seminário, por volta dos 20 anos de idade. Essa relação com a fé e a igreja sempre permeou a minha vida, sempre foi muito presente.
Venho de uma família cristã. Sou filha de cristãos católicos, mas meus pais não são aqueles católicos praticantes, não são de ir à missa diariamente. Entretanto, sempre me ensinaram, e minha irmã também, os valores e os princípios cristãos desde muito pequenas.
Eu rompi com a Igreja Católica aos 28 anos quando entendi que não era um lugar para mim. Na mesma época,betnacional ou betano2009, conheci meu marido. Através de uma busca do Google, encontramos as Igrejas da Comunidade Metropolitana (ICM).
Em outubro de 2009, fomos recebidos por um reverendo e comecei a frequentar a ICM, participando dos cultos. Fui me envolvendo. Depois de quase um ano e meio, fui ordenada diaconisa e, nesse mesmo tempo, fui fazendo a minha transição de gênero. De lá pra cá, já são 14 anos.
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Eu fui me descobrir mesmo, ter certeza que eu era uma travesti aos 30 anos graças à Igreja da Comunidade Metropolitana. No passado, a Igreja Católica me oprimia com o discurso de gênero, dizendo que ser LGBTQIA+ era condenável, que eu iria para o inferno, que eu era uma abominação. Então, eu não tinha recursos internos para fazer a transição.
Quando eu descobri a ICM e começei a fazer parte da comunidade, a igreja passou a exercer sobre a minha vida uma outra função. Não mais a função colonizadora, que condenava no passado, como a Igreja Católica, mas, sim, a afirmativa na qual me deu subsídios internos e comunitários para eu me entender enquanto pessoa e de fato me assumir como travesti, como mulher.
Eu encontrei acolhimento na ICM, na Igreja Protestante. Encontrei acolhida, conforto, um espaço seguro para ser quem eu era e para me descobrir e me perceber enquanto pessoa. A ICM me mostrou que a fé deve estar alinhada com as pautas de justiça social. Sem isso, ela se torna algo insalubre.
Ser uma reverenda é fazer parte do clero, da denominação de uma Igreja. No caso da ICM, eu tive que me formarbetnacional ou betanoTeologia e também fazer um curso próprio da instituição, com professores do mundo todo e com disciplinas que não existem na faculdade de Teologia convencional, como por exemplo "Identidade de Gênero" e "Teologia Queer".
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Desde que me tornei pastora leiga,betnacional ou betano2017, na ICM São Paulo, eu recebo ataques, ofensas e discursos de ódio. Quando fui ordenada reverenda,betnacional ou betanojaneiro de 2020, a coisa ficou mais intensa e não só recebi ofensas, mas ameaças de morte mesmo por ser uma reverenda travesti, a primeira na América Latina.
As Igrejas da Comunidade Metropolitana ordenam pessoas LGBTQIA+ desde 1969. E, hoje, nós estamos presentesbetnacional ou betanomais de 40 países no mundo. Diariamente, eu recebo ameaças de morte por ocupar esse lugar dentro do cristianismo e por anunciar um amor totalmente inclusivo e afirmativo de Jesus para todas as pessoas.
Muitas pessoas duvidaram da minha fé por eu ser uma travesti e ter um corpo dissidente. Mas isso também me alimenta de alguma forma porque faz com que eu não desista do meu chamado e da minha vocação, que eu continue lutando e anunciando que essa vivência cristã é para todas as pessoas, independente do corpo, gênero ou sexualidade.