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Se somos o que fazemos, pelo tamanho e imponência de tudo que realizou, podemos dizer que Senhora Gal Costa, nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, trouxe para o cenário musical duas características fundamentais da1 5 gols apostaspersonalidade sofisticada: a força estranha e a sensualidade irrefreável. Sempre ouvi referência à sensualidade natural da Gal Costa. Crescendo entendi do que se tratava. Gal foi símbolo de sensualidade no sentido estrito da palavra: a capacidade de compreender, trabalhar e transmitir o sentido real das coisas. É um poder cada vez mais raro. Pessoas sentem, somos movidos a sentimentos e sensações. Mas não percebemos, nem entendemos e, frequentemente, evitamos assumir, compreender e expressar o que sentimos. Daí somos menos do que poderíamos ser.
São esses dois traços de personalidade que costuma-se atribuir a mulheres pessoalmente poderosas e que as fazem ser também muito temidas e evitadas.
E essa era a provocação fundamental contida na pessoa de Gal Costa, a denúncia de uma contradição da1 5 gols apostasexistência: se o mundo não gosta de mulheres pessoalmente poderosas, como Gal Costa conseguiu se consolidar como figura única, fundamental e, portanto, poderosa para além dos limites da1 5 gols apostasarte?
Resposta aparentemente simples, mas profunda demais: sem se preocupar1 5 gols apostasser, apenas sendo. Sendo e inspirando todos a serem também.
Mas ser o que? Ser o que se é, oras!
Então, podemos dizer sem medo de ser clichê que Gal Costa era senhora de si. A própria mulher livre. Quem é livre ganha de presente a onipresença. A força estranha. A sensualidade irrefreável. A senhora. Senhora não exatamente como pronome de tratamento atribuído aos mais velho, mas no sentido mais amplo de poder pessoal, de força, de liberdade de ser e estar no mundo sem pedir licença nem dar justificativas por estar aqui, nessa terra ainda provinciana, que exige das mulheres o oposto do que Gal Costa foi. Senhora como na canção composta por Gil e Torquato defendida por ela1 5 gols apostas1966, no I Festival Internacional da Canção:
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Minha senhora
Onde é que você mora?
Em que parte deste mundo?
Em que cidade escondida?
Dizei-me, que sem demora
Lá também quero morar
Minha Senhora, Gilberto Gil e Torquato Neto
Como pessoa pública jamais permitiu que invadissem1 5 gols apostasvida,1 5 gols apostasintimidade. Jamais permitiu que a julgassem, jamais permitiu que a confinassem no lugar da beleza da voz e da aparência. Imagina! Muito pelo contrário. Gal Costa não se deixou limitar. Quando entoou a lendária canção de autoria de Cazuza, Brasil,1 5 gols apostas1988, o fez com a voz, o corpo e a alma, se colocando com tamanha autoridade que virou exigência popular: todo mundo queria saber qual era a cara corrupta do país. Isso é ser sensual.
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Do mesmo modo que duas décadas antes,1 5 gols apostas1967, no festival da Record, disse também com a voz, o corpo e a alma que não tínhamos tempo de temer a morte. Dissipou o medo e preparou a aura rebelde que lutou pelas “Diretas Já”. Isso é ser sensual.
Agora,1 5 gols apostas2022, não titubeou e nem recuou do lugar de autoridade para apoiar a recondução do Brasil para os caminhos da democracia. Força estranha. Sensualidade irrefreável. Talvez por isso seduzia tão distraidamente que ninguém percebia direito quando e como, mas, de repente, já estava fisgado pela1 5 gols apostasonipresença. Isso tem uma importância tão grande para os tempos atuais,1 5 gols apostasque temos muito discurso de independência e emancipação, mas estamos sempre presas ao olhar e achismo do outro, limitadas pelo medo da política do cancelamento, reduzidas pelas disputas e competições por protagonismos vazios de significado mas cheios de armadilhas sociopolíticas.
Mulheres da geração da Gal Costa não precisavam se dizer lutadoras pró-liberdade feminina. Elas inclusive questionaram esse “feminino essencial”, tão limitador. Muitas sequer chegaram a pensar no significado da palavra feminismo, mas todas, inclusive Gal Costa, subverteram os lugares pré-estabelecidos e se posicionaram onde quiseram. Viveram suas liberdades individuais com tamanha despretensão que devemos tomá-las como estudo de caso ou aulas naturais de como contrariar as estruturas sem fazer muito alarde e sem cair1 5 gols apostassuas armadilhas predatórias.
Gal Costa ensinou a toda e qualquer pessoa que quis aprender que ser sensual, para além da aparência, dos trejeitos, da voz de veludo é expressar todas as ideias, sensações e sentimentos que o corpo e a existência permite, sem contrariar o que o nosso DNA pessoal estabeleceu, mas sem se curvar totalmente diante do que ele pautou. No caso dela, sendo doce e bárbara, rebelde e despretensiosa ao mesmo tempo. Ser sensual é não se reduzir a um só lugar, não parar no tempo e nem maldizer1 5 gols apostaspassagem com discursos de aceitação que denunciam nas entrelinhas conflitos internos e amarguras pela força dele que é superior a nossa, como tem sido feito na onda anti-etarismo. Gal Costa foi tão livre que sequer envelheceu.
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Ser sensual é não admitir e nem se encaixar1 5 gols apostasrótulos e lugares. É não precisar de discursos por emancipação e, sim, vivê-la1 5 gols apostastempo real. Sem pedir licença e nem se justificar por ser ou ter sido. Ser sensual é ser Gal.