b1 bet online-Calor excessivo, secas e chuvas torrenciais: por que Brasil poder ser um dos países mais afetados pela mudança climática
b1 bet online
Eventos climáticos extremos serão cada vez mais fortes e frequentes no mundo e no Brasil. A boa notícia é que país tem condições de conter as emissões do efeito estufa e, ao mesmo tempo, trazer benefícios à sociedade e à economia. Como fazê-lo será um dos debates da COP28, que começab1 bet onlineDubai.
André Biernath - Da BBC News Brasilb1 bet onlineLondres
b1 bet online de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar
O ano de 2023 parece ter apresentado uma espécie de "amostra grátis" do futuro climático do planeta.
Só no Brasil, foram registradas oito grandes ondas de calor, secas sem precedentes na Amazônia e chuvas torrenciais, alagamentos e deslizamentos no litoral paulista e no Rio Grande do Sul.
Muitos desses eventos extremos, como são conhecidos pela Ciência, já apareciam nas projeções feitas pelos especialistas ao longo das últimas décadas.
Também é consenso que eles estão relacionados — e são potencializados — pelas mudanças climáticas causadas pela ação humana.
O tema está no centro dos debates da COP28, cúpula do clima organizada anualmente pelas Nações Unidas e que começa nesta quinta-feira (30/11)b1 bet onlineDubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Mas o que o futuro nos reserva? Como o Brasil já é e será cada vez mais afetado pelo aumento das temperaturas?
Publicidade
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o cenário traz, ao mesmo tempo, grandes ameaças e boas oportunidades.
Por um lado, o Brasil certamente sofrerá com ondas de calor intensas, períodos prolongados de seca e chuvas inclementes.
Por outro, há uma série de condições e características do território que, se bem aproveitadas, representam uma série de vantagens estratégicas para os brasileirosb1 bet onlinecomparação com outras partes do mundo — como o potencial de gerar energia limpa ou de reduzir rapidamente a emissão de gases do efeito estufa.
Entenda todos os detalhes desse cenário a seguir.
Aumento da temperatura média
Os registros históricos não deixam dúvidas: a temperatura média do planeta (e do Brasil) subiu de forma consistente desde o início da Revolução Industrial, a partir de meados dos séculos 18 e 19.
"Isso se deve a uma decisão tomada a partir dessa época, quando a geração de energia passou a ser baseada na queima de combustíveis fósseis, principalmente petróleo e carvão mineral", diz o meteorologista Gilvan Sampaio, coordenador geral de Ciências da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Publicidade
A grande questão é que essa queima joga, de forma contínua, toneladas e mais toneladas dos famosos gases do efeito estufa na atmosfera — um dos principais deles é o dióxido de carbono (ou CO2).
Esses gases permanecem na atmosfera durante décadas (ou até séculos) e bagunçam a forma como o calor é dissipado. Para resumir, o resultado desse acúmulo é o aumento médio da temperatura ano após ano.
Esse fenômeno pode ser observado no gráfico a seguir, que traz dados do Brasil nos últimos 121 anos.
Em 1901, a temperatura média do país foi de 24,91ºC. Jáb1 bet online2022, subiu para 25,54ºC.
Essa diferença de 0,63ºC parece pequena, mas já faz uma grande diferença no fino balanço climático do país e do mundo.
Esse aumento progressivo da temperatura gera uma série de eventos extremos, como aqueles que ocorreram nos últimos meses — que, além de serem influenciados pelas mudanças climáticas, ainda tiveram a contribuição do El Niño, fenômeno marcado pelo aumento acima da média da temperatura nas águas superficiais do Oceano Pacífico nas proximidades da Linha do Equador.
Publicidade
"Esses eventos estão acontecendo de forma cada vez mais frequenteb1 bet onlinetodo o planeta", observa o cientista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
"Segundo o Copernicus, a instituição climática da Europa, 2023 é o ano mais quente já registrado não apenas nos últimos dois séculos, mas desde o período interglacial, há 125 mil anos."
Os efeitos disso já podem ser observados na prática.
"Episódios de chuva com volume maior que 50 milímetros por dia eram rarosb1 bet onlineSão Paulo até a década de 1950. Hoje, são sete a dez episódios do tipo todos os anos", afirma Sampaio.
O climatologista José Antonio Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), destaca que o Rio Negro, na Amazônia, chegou a 12 metros de profundidade no dia 20 de outubro.
Publicidade
"Esse é o volume mais baixob1 bet online121 anos de observações. Além disso, tivemos as ondas de calor muito fortesb1 bet onlinesetembro, outubro e novembro", diz.
"Falamos de uma sequência de eventos extremos que, combinados, geram consequências e são preocupantes."
Calorão nas alturas
O aumento das temperaturas não deve parar por aí: as projeções feitas pelos cientistas reunidos no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas apontam que o planeta pode ter um acréscimo de 1,5ºC a 4ºC na temperatura média até o final deste século.
A meta é reduzir ao máximo essa subida dos termômetros — o Acordo de Paris, assinadob1 bet online2015, traz uma série de metas que precisam ser cumpridas pelos países signatários para cortar a emissão de gases do efeito estufa e limitar esse aumento ao mínimo de 1,5ºC.
Mas o que tudo isso significa para o Brasil?
A oceanóloga Regina Rodrigues, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), aponta que as projeções sobre o futuro climático do Brasil são um pouco incertas, porque muitos dos modelos levamb1 bet onlineconta a realidade e as características do Hemisfério Norte (onde muitas dessas ferramentas foram desenvolvidas).
Publicidade
"De maneira geral, podemos projetar um clima muito mais seco para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e partes do Sudeste, com um aumento do volume das chuvas no Sul", diz a pesquisadora, que também representa o Programa Mundial de Pesquisa Climática da Organização Mundial de Meteorologia.
"Teremos também mais ondas de calor, como essas que tivemos ao longo de 2023."
Segundo os dados compilados pelo Banco Mundial, esse aumento da temperatura média no Brasil vai variar bastante, de acordo com o ritmo da emissão dos gases estufas daquib1 bet onlinediante.
Em um dos cenários mais otimistas (em que as emissões são zeradas um pouco depois de 2050), os termômetros brasileiros passariam de 25,84ºCb1 bet online2014 para uma média de 26,67 ºCb1 bet online2100.
Já a possibilidade mais pessimista,b1 bet onlineque as emissões globais dos gases do efeito estufa dobram, a temperatura média do Brasilb1 bet online2100 saltaria para 30,88ºC — uma diferença que ultrapassa os 5ºCb1 bet onlinerelação aos patamares atuais.
Publicidade
Mas por que o aumento da temperatura gera mais eventos extremos? A mudança nos padrões climáticos conhecidos e registrados ao longo de décadas e séculos modifica o fino balanço dos ecossistemas, que dependem dos ciclos de chuvas, secas, calor e frio para manter as mais diversas formas de vida.
As ondas de calor no oceano, por exemplo, fazem mais água marítima evaporar. Parte dessa umidade vaib1 bet onlinedireção ao continente e gera chuvas torrenciais — que causam enchentes e deslizamentos.
Já a elevação da temperaturab1 bet onlineoutros locais tem um efeito contrário: gera secas extremas, que matam a vegetação acostumada com certo nível de umidade e desequilibram toda a cadeia alimentar. Como mencionado anteriormente, os efeitos da estiagem na agricultura também podem ser dramáticos.
Quanto maior for esse aumento da temperatura, piores serão as consequênciasb1 bet onlinetermos de eventos extremos, como os calorões, as estiagens e os temporais, como apontam especialistas.
Publicidade
"O Brasil tem vulnerabilidades enormes. Grande parte da nossa economia é baseada no agronegócio, que sofrerá uma queda de produtividade com a diminuição das chuvas e o aumento das secas", destaca o físico Paulo Artaxo, professor da USP.
O Brasil já é mais propenso aos eventos extremos, porque é um país tropical, explica ele.
"Um aumento de 3 ºC na Suécia pode até ser benéfico para o clima na região. Agora, 3 ºC a mais para quem morab1 bet onlineTeresina, Cuiabá ou Palmas pode significar a diferença entre a vida e a morte", complementa.
Nobre lembra que essa vulnerabilidade climática também é influenciada pela condição socioeconômica do país.
"O IBGE calcula que 2 milhões de brasileiros vivemb1 bet onlineáreas de altíssimo risco para deslizamentos ou inundações e não podem continuar nesses locais. Além disso, 10 milhões moramb1 bet onlineregiões de alto risco", diz o cientista.
"E sabemos que o impacto de eventos extremos é muito menor nos países que protegem melhor as suas populações."
Publicidade
Como exemplo, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citam os casos de Holanda e Bangladesh — que têm boa parte do território abaixo do nível do mar — ou de Japão e Turquia — onde terremotos são frequentes (que não estão relacionados ao clima, mas são eventos que geram grandes catástrofes).
Em ambos os casos, os impactos desses eventos (inundações ou terremotos) nas nações mais ricas e com planos de contingência (caso de Holanda e Japão) costumam ser bem menores do que nos lugares mais pobres e sem uma estrutura para proteger a população (como Bangladesh e Turquia).
Vantagens estratégicas
Se, por um lado, o presente (e o futuro) do clima do Brasil gera preocupações, a boa notícia é que a missão do país de mitigar os riscos pode ser relativamente mais fácil do que a de outras nações.
"O Brasil tem uma vantagem estratégica enorme, que nenhum outro país do mundo possui: nós conseguiríamos reduzir nossas emissões de gases do efeito estufab1 bet online50%, pela metade, se parássemos o desmatamento da Amazônia", diz Artaxo.
Publicidade
"E nós conseguimos fazer isso a um custo baixíssimo e num curto espaço de tempo."
Nobre lembra que o Brasil pode ser o primeiro grande país a zerar as emissões de gases do efeito estufa.
Para contextualizar, as cinco nações que jogam mais CO2 na atmosfera são China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Brasil.
Mas há uma diferença importante nesse grupo: a emissão de gases do efeito estufa dos quatro primeiros países tem a ver com a geração de energia e a queima de combustíveis fósseis (como carvão e petróleo).
Já no Brasil, como é possível conferir no gráfico a seguir, a maior parte das emissões está relacionada à agricultura, ao uso da terra e ao desmatamento.
Em termos práticos, isso significa que China, Estados Unidos, Índia e Rússia precisam fazer toda uma transição energética, abandonar os combustíveis fósseis e criar uma nova rede baseadab1 bet onlinefontes renováveis (como placas solares, usinas eólicas, hidrelétricas…).
Publicidade
Isso tem um custo financeiro alto e gera impactos na economia desses países.
Já a "lição de casa" brasileira consiste basicamenteb1 bet onlinereduzir drasticamente — e eventualmente zerar — o desmatamento.
Essa, aliás, é uma das grandes promessas do país nas negociações da COP28.
Os especialistas ainda sugerem recuperar as áreas degradadas — regiões que foram desmatadas e hoje não são usadas para nenhuma atividade comercial, mas podem ser regeneradas e virar floresta (ou campo para agricultura ou pecuária).
Energia para dar (e vender)
Outra vantagem estratégica do país está na geração de energia.
"A nossa matriz energética já é majoritariamente limpa. Cerca de 75% de nossa eletricidade vêm das hidrelétricas, que produzem um impacto no ambiente, mas que é bem menor do que o dos combustíveis fósseis", compara Rodrigues.
Sampaio avalia que o Brasil talvez seja o país com as maiores possibilidades de geração de energia do mundo.
Publicidade
"Temos uma dimensão continental e estamos localizadosb1 bet onlinegrande parte na região tropical, que recebe muita radiação solar durante todo o ano. Isso pode ser usado para gerar energia fotovoltaica", propõe.
"Também temos diversas regiões do país com grande possibilidade de gerar energia eólica, principalmente no Nordeste e no Sul."
O diretor do Inpe destaca outro fator que pode ser explorado no futuro para a obtenção de eletricidade: o movimento das marés, uma vez que o país tem uma extensa costa.
"Isso sem contar a liderança mundial do Brasilb1 bet onlinerelação aos biocombustíveis, como o etanol feito a partir da cana-de-açúcar", complementa.
A engenheira Suzana Kahn Ribeiro, professora do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisab1 bet onlineEngenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coope-UFRJ), diz que esse potencial energético pode ser aproveitado nos projetos de reindustrialização do país.
"Temos condições de atrair uma nova industrialização baseada numa economia verde, com baixo carbono, geração de emprego e crescimento econômico", afirma.
Publicidade
"Precisamos de um ambiente jurídico e político estável e previsível para atrair esses investimentos."
Nobre concorda com a avaliação e entende ser possível aproveitar a biodiversidade brasileira nessas cadeias produtivas sem gerar danos ao meio ambiente.
"Nossos biomas, a Amazônia, a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, os Pampas, o Pantanal, são muito biodiversos. Mas essa biodiversidade ainda não tem representatividade na economia", avalia.
"Essa nova industrialização, baseada na biodiversidade, é essencial para tornar o Brasil um país de classe média e menos desigual."
Para isso virar realidade, Ribeiro aponta ser necessário investirb1 bet onlineeducação e pesquisa.
"Quando o Brasil decide focarb1 bet onlinealguns setores, vira exemplo mundial. É o caso dos biocombustíveis", diz.
"Nós temos um capital fantástico, agora precisamos de uma densidade intelectual para saber como aproveitá-lo."
Publicidade
Rodrigues lembra que não há mais uma oposição entre preservar o meio ambiente e desenvolver a economia.
"As duas coisas andam juntas. O Brasil nunca foi competitivo no modelo antigo, baseado nos combustíveis fósseis", afirma.
"A crise climática pode servir como oportunidade para que o país desenvolva tecnologias e possa virar essa nova referência."
Adaptar é preciso
Além dos potenciais e das vantagens estratégicas, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil chamam a atenção para a necessidade de fazer adaptações e desenvolver planos de emergência.
Afinal, as mudanças climáticas até podem ser mitigadas, mas, mesmo nos cenários mais otimistas, haverá um aumento da temperatura e dos eventos extremos.
"Nós estamos muito atrasados na agenda da adaptação climática", constata Artaxo.
"Precisamos reestruturar todo o nosso sistema de defesa civil e pensar nos impactos à saúde causados pelas mudanças climáticas."
Publicidade
Um exemplo prático: na avaliação dos pesquisadores, os 2 milhões de brasileiros que vivemb1 bet onlineáreas com risco altíssimo para deslizamentos e enchentes precisam ser remanejados com urgência, porque correm risco de morte a cada nova tempestade.
Para as ondas de calor, que ficarão cada vez mais intensas e frequentes, os serviços de saúde devem estar preparados para absorver o aumento da demanda nos pronto-socorros.
Será necessário pensarb1 bet onlineabrigos para proteger os mais vulneráveis, como crianças e idosos.
As regiões afetadas pela seca necessitam de cisternas e reservatórios, para garantir o suprimento de água.
Agrônomos e agricultores já realizam pesquisas sobre cultivares que sejam mais resistentes às estiagens.
Cidades litorâneas devem pensarb1 bet onlineestratégias para conter o avanço do mar — e muitas vezes, a solução está na própria natureza, com a revitalização dos manguezais, que pode servir como uma barreira verde.
Publicidade
"Essa não me parece uma questão de recursos financeiros, mas de uma integração de ações governamentais", pontua Artaxo.
Ao contrário das ações de mitigação das mudanças climáticas, que envolvem negociações internacionais para reduzir a emissão de gases do efeito estufa do mundo todo, a agenda de adaptação é muito particular: cada cidade pode (e deve) desenvolver soluções próprias, baseadas na realidade local.
"Os planos de adaptação às mudanças climáticas não são apenas um documento bonito, escritob1 bet onlineletras douradas, que fica exposto numa prateleira", diz Marengo.
"Ele precisa ser prático, conhecido por todos e mostrar o que fazer para prevenir ou minimizar os danos relacionados aos eventos climáticos extremos", complementa ele.
Para Nobre, esses planos também envolvem educar e conscientizar a população sobre o que fazer para ficar mais resguardadob1 bet onlinesituações como essas.
"Por mais que os brasileiros estejam adaptados ao calor, estamos batendo todos os recordes de temperatura. A secura do ar pode causar desidratação e uma série de doenças", explica ele.
Publicidade
"As pessoas precisam ser orientadas para saber como se proteger diante dessa nova realidade."
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.