cassino online crash-Escravidão, evasão fiscal, resistência: 11 pessoas africanas nas minas de ouro da América do Sul
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Ana Angola foi capturada no reino de Ndongo e passou mesescassino online crashum navio antes de viajar por terra, onde foi forçada a trabalhar nas minas de ouro de Antioquia.
Por:Paola Vargas Arana, Research Associate in African History, University of Manchester
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O comércio transatlântico de pessoas escravizadas foi um dos processos mais devastadores e desumanos da história humana. Ele é objeto de muitos estudos, mas as histórias de vida individuais da chegada e da sobrevivência dessas pessoascassino online crashterras estrangeiras permanecemcassino online crashgrande parte silenciada.
Uma ação judicial movida contra um traficante de pessoas escravizadascassino online crash1589cassino online crashAntioquia (uma província na atual Colômbia) me permitiu traçar os caminhos de 11 mulheres e homens africanos escravizados. Esse traficante precisava provar que os cativos entraram legalmente tanto nos navios na África e quanto na operação de mineração na América do Sul.
Suas vidas foram extraordinariamente desafiadoras. Elas foram capturadas perto da costa atlântica da África, no entorno dos rios de Guiné-Bissau e Serra Leoa. Uma delas, Ana, foi capturada no reino do Ndongo,cassino online crashAngola, no centro-oeste da África.
Em uma viagem difícil, que levou meses no fundo de embarcações de madeira imundas, eles foram transportados à força pelo Oceano Atlântico. Em seguida, viajavam por terra até as minas de ouro da América do Sul operadas por colonizadores espanhóis.
Como estudiosa da história da África, tenho dedicado minha pesquisa a recuperar as histórias individuais dessas pessoas escravizadas e suas contribuições culturais nos países da América do Sul.
Minha pesquisa de arquivoscassino online crashvários continentes revelou mapas antigos, registros de vendas e de crimes, além de relatos que revelam narrativas complexas de sobrevivência. Entre os anos 1500 e 1800, cerca de 12 milhões de pessoas africanas foram escravizados por europeus e seus descendentes nas Américas. Minha pesquisa recente esclarece as experiências de 11 deles.
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Ela desafia as narrativas históricas que reduziram as populações escravizadas a mercadorias econômicas e reformula nosso entendimento sobre a identidade, a resistência e a agência do povo africano que sofreu o tráfico escravista.
Ouro sul-americano e africanos escravizados
Os espanhóis começaram a explorar as Américascassino online crash1492 e encontraram civilizações altamente avançadas, incluindo os astecas, incas, tayrona e muisca. Apesar disso, eles imediatamente procuraram se estabelecer e controlar vastos territórios.
Eles escravizaram a população nativa para extrair metais. No entanto, os indígenas americanos não tinham imunidade às doenças europeias, o que levou ao extermínio maciço da população. Muitos outros morreram devido à brutalidade da escravidão e do armamento europeu. Os historiadores estimam que 90% a 95% dos indígenas americanos morreram logo após a chegada dos europeus.
Mulheres lavam ourocassino online crashAntioquia, 1852.Henry Price/Biblioteca Nacional da Colômbia
A abundância de metais americanos foi igualada apenas pela cobiça europeia. A demanda ilimitada gerou a maior migração forçada da história mundial. As pessoas africanas, separadas de suas famílias e terras, foram condenadas a suportar condições inimagináveis nas Américas.
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Entretanto, eles não foram vítimas passivas. Juntamente com homens e mulheres indígenas americanas, eles resistiram continuamente. Elas se rebelaram, sabotaram, atacaram e, o mais importante, construíram novos laços comunitários e identidades nas Américas.
Uma ação judicial de 1589
Um dia de sorte no Arquivo Geral da Nação, na Colômbia, proporcionou uma descoberta crucial: uma ação judicial detalhada de 1589. Ela exigia que um proprietário de escravizados provasse a entrada legal de 11 pessoas africanas nas minas chamadas Zaragoza. A decifração desse antigo textocassino online crashespanhol consumiu meses, mas acabou revelando dados incríveis sobre esses cativos.
Essa era uma épocacassino online crashque até mesmo os nomes das pessoas escravizadas eram sistematicamente apagados. Minha primeira surpresa foi descobrir nomes no documento. Esses não eram seus nomes originais, é claro, mas rótulos criados por comerciantes de escravos com basecassino online crashcoisas como as características geográficas do local onde foram capturados.
Esses rótulos continham pistas valiosas sobre suas origens. A Ana Angola se destacou como a única do grupo proveniente da África centro-oeste. Os outros eram da África Ocidental. Maria, Francisco, Pedro, Domingo e Juan compartilhavam o sobrenome Biafara, ligado a uma sociedade na atual Guiné-Bissau. Felipa, Ana, Pedro e Pedro-Cacheu tinham o sobrenome Bran, associado à sociedade Manjaku de Guiné-Bissau. O processo também mencionou Ximón, associado à sociedade Sapi, originária da região de Serra Leoa.
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Após uma viagem marítima de três meses, essas mulheres e homens africanos aportaram no Caribe continental do Panamá. Esse era um ponto de entrada inicial comum para as populações escravizadas no século XVI. Aqui, outra descoberta significativa surgiu do processo.
Garimpagem de ourocassino online crashConcepción
Os traficantes aparentemente desembarcaram os africanoscassino online crashum pequeno porto do Panamá chamado Concepción. Esse não era um porto oficial reconhecido pela monarquia espanhola que controlava o território naquela época. A motivação era clara: ao usar portos não oficiais, os traficantes podiam evitar a tributação sobre as pessoas escravizadas.
Esses cativos africanos trabalharam na garimpagem de ourocassino online crashConcepción por cerca de sete anoscassino online crashcondições extremas. Eles estavam localizadoscassino online crashuma densa floresta tropicalcassino online crashmeio a um clima de inquietação. O empreendimento colonial era constantemente desafiado pela resistência dos indígenas americanos e dos africanos escravizados que haviam escapado das correntes.
Então, sem aviso, eles foram forçados a fazer outra viagem difícil.
Uma viagem por terra
Os espanhóis contrabandearam os 11 africanos escravizados por terra para a Colômbia, onde o ouro era mais abundante. Eles fizeram várias paradascassino online crashuma viagem que poderia ter durado meses, passando por florestas tropicais e cadeias de montanhas. Ana, com seu idioma e formação cultural distintos, provavelmente teve dificuldades para estabelecer conexões fáceis com seus companheiros.
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Isso acrescentou outra camada de injustiça à história deles. Os contrabandistas de pessoas escravizadas aumentaram seus lucros, evitando impostos, enquanto essas mulheres e homens africanos enfrentavam rotas cada vez mais arriscadas, sem garantia de sustento básico ou abrigo.
Homens garimpando ourocassino online crashAntioquia, 1852.Henry Price/Biblioteca Nacional da Colômbia
Histórias não contadas
O processo não revela se os 11 escaparam ou permaneceramcassino online crashcativeirocassino online crashAntioquia. Mas, no decorrer de minha pesquisa, encontrei evidências de amplos padrões de resistência. Na mesma região, outras pessoas africanas haviam escapado com sucesso da escravidão, estabelecendo comunidades autônomas. Essas 11 pessoas provavelmente viveram muito próximo das comunidades notáveis de fugitivos.
Uma crônica do século XVI registrou uma realidade demográfica impressionante: 3.000 africanos trabalhavam ao lado de 300 espanhóis nas minas da Colômbia na épocacassino online crashque Ana Angola e seus companheiros chegaram. Uma proporção de dez para um.
Isso ilustra a profundidade com que as culturas criadas pelas mulheres e homens africanos e seus descendentes podem ter influenciado essa região. Países como o Panamá e a Colômbia carregam ricas heranças culturais que foram reconfiguradas pelos africanos - na comida, na dança, na espiritualidade e nas estruturas familiares.
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Reconstruir a vida dessas 11 pessoas permitiu refletir sobre como as viagens forçadas podem ter afetado seus trajetos de vida. As longas mobilidades podem ter tido um impacto sobre a natureza de suas respostas à escravidão e as identidades que criaram nos novos contextos sociais das minas.
Iluminar suas histórias constituiu um ato de libertação que permite fazer com que essas vidas africanas saíam do silêncio, recuperando o valor que têm suas lutas e sabedoria para o presente da América Latina. É com satisfação que essas 11 mulheres e homens não pertencem mais nas sombras da marginalização e do esquecimento. A importância das suas vidas têm sido reconhecida.
Paola Vargas Arana recebeu financiamento de 9 anos do CNPq e da CAPES Brasil, da Academia Britânica, da Universidade de Edimburgo, do King's College London e da Universidade de Manchester.
Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons