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“Eu me ajeitei com todo esmero. Caprichei no cabelo e na maquiagem. O vestido e a sandália eram um pouco usados, meio velhuscos, mas não tinha nada melhor”. Ela contava, olhos brilhando.
Prosseguiu: “Era uma ocasião especial. Afinal, depois de mais de dois meses de namoro, ele me convidava para passear, para ir ao restaurante. E, bem, eu sabia do esforço dele para economizar e pagar aquela noite de comemoração”.
PublicidadeIndaguei: “Você lembra com clareza?” Ela abriu um sorriso enorme. Indicou: “Ah! Sim! Sim! Já faz muito tempo, mais de cinquenta anos. Mesmo assim, lembro detalhes. Da noite, das ruas da cidade, do lugar”.
O semblante tomou expressão séria. Ela explicou: “Outra época. Comer fora era bem mais caro e incomum. Jovens, lutávamos para juntar o dinheirinho do ingresso pra o cinema. Imagina a fortuna de um jantar fora? Luxo total. Ele, sempre forte e jeitoso, precisou se desdobrar”.
Balancei a cabeça, acompanhando a narrativa. Ela, discreta, secando com a ponta do indicador uma minúscula lágrima que descia pela curva no nariz, continuou: “Ali percebi que ficaríamos juntos pela vida toda. Ele, como comentou depois, também. A comida não me importava, estava aproveitando a companhia”.
Eu já estava encantada com a força de união presente na história. Mas alegrou-me o desfecho, simbólico e poético. “Então, Marina”, adiantou recuperada dos ventos da saudade, com emoção firme outra vez: “Inesquecível, mesmo, foi um pequeno acontecimento; uma cena, uma situação que marcou nossas vidas”.
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