mc sport-Baixa dos Sapateiros virou periferia no Centro Histórico de Salvador

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Moradores reclamam que comércio perde importância há décadas. Prédios históricos, como Cine Jandaia, estão caindo
19 dez 2024 - 15h45
Resumo
A Baixa dos Sapateiros, cantada por Ary Barroso e lar da lendária Mulher de Roxo, vem sendo abandonada desde meados dos anos 1970. O surgimento de shoppings, a diminuição das linhas de ônibus, as compras pela internet e a deterioração do patrimônio arquitetônico explicam a decadência da região. Moradores se mobilizam na campanha Carta do Centro Histórico – Preservar para Perpetuar.
Cine-Teatro Jandaia, de 1911, o primeiro de Salvador, tinha 2.200 lugares. Exibia filmes e no palco se apresentaram nomes como Carmem Miranda e Grande Otelo.
Cine-Teatro Jandaia, de 1911, o primeiro de Salvador, tinha 2.200 lugares. Exibia filmes e no palco se apresentaram nomes como Carmem Miranda e Grande Otelo.
Foto: Fulvio Bahia

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A Baixa dos Sapateiros, no Centro Histórico de Salvador, há décadas passa por um processo de degradação que atinge a fase crítica. O comércio popular, que foi o mais forte da capital baiana, vem fechando as portas; importantes patrimônios arquitetônicos se deterioram, como o Cine-Teatro Jandaia; moradores reclamam da violência e da presença de usuários de drogas.

Neste ano, pela primeira vez, a Baixa dos Sapateiros não recebeu decoração natalina oficial. “Ficamos muito tristes”, diz Maricélia Santos de Oliveira, presidente Associação dos Empreendedores da Baixa dos Sapateiros Barroquinha e Adjacências (Albasa).

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A Associação fez um ofício expressando “repúdio” ao órgão municipal de iluminação pública, mas não adiantou. Segundo Oliveira, 100 das 300 lojas da Baixa dos Sapateiros estão fechadas. A conta não inclui os boxes dos shoppings.

As reclamações mais frequentes de moradores e comerciantes da Baixa dos Sapateiros são lojas fechadas e degradação urbana.
Foto: Fulvio Bahia

O Shopping Baixa dos Sapateiros com 120 espaços. Seu administrador, Robério Pedreira, tocava um restaurante no local, mas mudou por falta de público. “Tem pouquíssimas lojas abertas e a tendência é muito ruim. A situação beira o pior”, diz Pedreira.

A pandemia agravou ainda mais a baixa no comércio. Em 2021, a imprensa local noticiava que 40% das lojas fecharam durante o surto de covid-19.

A visão de quem viveu o processo

Só lamentos: é como se pode resumir as conversas com moradores que vivenciaram o apogeu da Baixa dos Sapateiros e hoje convivem com a degradação. “Eu andava com a minha mãe por ali desde os cinco anos de idade, vendo vitrines e fazendo compras. Era o comércio mais forte de Salvador”, lembra Adalberto Borges, advogado, professor, escritor e cantor.

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As lojas da Baixa dos Sapateiros têm cada vez menos clientes. Eles vão para os shoppings, compram pela internet ou no comércio dos bairros.
Foto: Fulvio Bahia

“Agora o movimento está muito baixo, a criminalidade está afastando as pessoas. A maior parte dos locais está degradado”, diz Borges. Sua opinião é parecida com a de Solange Santos, 70 anos, que trabalhou por 17 anosmc sportseis lojas da Baixa do Sapateiro.

Aposentada, sai pouco de casa, mas “na última vez fui lá, quando eu vi as lojas fechadas, chorei, não aguentei não, é muita emoção, voltei ao passado”. Ela lembra do movimento intenso, de fanfarrasmc sportfrente às lojasmc sportdias de promoção.

Solange Santos não acredita que revitalização resolva o problema. “É como eu lhe disse: teve a abertura de vários shoppings, tem as lojas de bairro, as pessoas preferem comprar perto de casa para não precisar ir para o centro, a violência está grande, tem a dificuldade de transporte”, lista.

Na principal via da Baixa dos Sapateiros há lojas fechadas, lixo nas calçadas e poucas pessoas comprando às vésperas do Natal.
Foto: Fulvio Bahia

Cine-Teatro Jandaia, o Palácio das Maravilhas

Há três cinemas históricos na Baixa dos Sapateiros: Tupi, fundadomc sport1956, exibindo filmes pornográficos; Pax, de 1950, com 1.500 poltronas, abandonado; e o Cine-Teatro Jandaia, o primeiro da cidade, inauguradomc sport1911.

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O Jandaia tinha um palco por onde passaram nomes como Carmem Miranda, Elis Regina, Grande Otelo, entre outros artistas de sucesso. Havia 2.200 lugares nas ruínas tombadas pelo patrimônio estadual.

A decadência do Jandaia revolta pessoas como o professor de História Adson Brito do Velho. “Vamos ser sinceros: o primeiro passo é a tomada de consciência histórica e social daquele espaço”, diz sobre o Jandaia.

Fachada do Cine-Teatro Jandaia. Primeiro cinema da cidade ainda resiste após mais de um século na Baixa dos Sapateiros.
Foto: Fulvio Bahia

Em relação à Baixa dos Sapateiros, “virou um lugar deserto, parece uma cidade fantasma. É uma espécie de periferia, como se fosse um quintal de Salvador, algo a parte”, descreve Velho.

Clarindo Silva, 82 anos, morador conhecido da região, diz que “o processo de degradação é muito perverso. Pelourinho é o coração, mas ele não funciona sem as artérias, sobretudo a Baixa dos Sapateiros”.

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Ele se emociona. “Passo por ali desde menino, ali estão os cinemas onde se apresentaram grandes nomes, hoje estãomc sportruínas. O Mercado Santa Bárbara está degradado, o shopping com lojas fechadas”. Silva é um dos envolvidos na articulaçãomc sportprol da revitalização, o movimento Preservar para Perpetuar, recém-lançado.

Mercado Santa Bárbara, onde está o santuário de Santa Bárbara, tem dois bares funcionando na Baixa dos Sapateiros,mc sportSalvador (BA).
Foto: Fúlvio Bahia

Degradação teria começado na década de 1970

Os fatos citados pelos entrevistados para explicar a decadência da Baixa do Sapateiro coincidem. Um primeiro baque teria acontecidomc sportmeados da década de 1970, com a inauguração do primeiro shopping de Salvador. As pessoas começaram a comprar lá.

A redução das linhas de ônibus diminuiu o fluxo na região, além de construções de valor arquitetônico, tombadas ou não, terem sido abandonadas, como é o caso dos cinemas. Outros fatores teriam sido as compras pela internet, potencializadas pela pandemia, e a ascensão do comércio nos bairros.

Há ainda um fator cultural: associar o Centro Histórico de Salvador somente ao Pelourinho faz com que ele acabe sendo priorizado por turistas e ações do poder público. Mas toda a região tem marcos importantes, como a capela de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros.

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Espaços fechados e à venda mostram o quanto a Baixa dos Sapateiros vai deixando de ser uma área de interesse.
Foto: Fúlvio Bahia

Tânia dos Reis de Jesus, 65 anos, nascida e criada no bairro, é uma das organizadores da festa de Santa Bárbara, que fica expostamc sportsantuário dentro do mercado homônimo. “Precisa de reforma, revitalização, o comerciante aqui está vivendo na resistência, a Baixa dos Sapateiros está quase para ser enterrada”, resume.

O que dizem a prefeitura e o governo estadual?

A Prefeitura de Salvador informa que realizou “uma série de obras” na Baixa dos Sapateiros na última década, como a revitalização do Mercado São Miguel, do Camelódromo e inaugurou o Quarteirão das Artes.

Sobre o edital Primeiro Desafio de Inovação Aberta, lançadomc sport2023 para promover a recuperação econômica da Baixa dos Sapateiros, três projetos foram premiados. Dois “não deram continuidade às suas soluções” e um está “em estágio de ideação”.

Em 2024, pela primeira vez, a Baixa dos Sapateiros não recebeu iluminação especial de Natal, comomc sportoutras áreas do Centro Histórico.
Foto: Fúlvio Bahia

A Prefeitura não respondeu se existe alguma iniciativa de revitalização para o Cine Jandaia e afirma que “não é possível estimar” a representatividade econômica da Baixa dos Sapateiros, como a arrecadação de impostos.

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Segundo o governo estadual, a Baixa dos Sapateiros “foi totalmente requalificada” através do projeto Pelas Ruas do Centro Antigo, entre 2014 e 2017.

Fonte: Visão do Corre

Fontes de referência

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