Resumo
A Baixa dos Sapateiros, cantada por Ary Barroso e lar da lendária Mulher de Roxo, vem sendo abandonada desde meados dos anos 1970. O surgimento de shoppings, a diminuição das linhas de ônibus, as compras pela internet e a deterioração do patrimônio arquitetônico explicam a decadência da região. Moradores se mobilizam na campanha Carta do Centro Histórico – Preservar para Perpetuar.
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A Baixa dos Sapateiros, no Centro Histórico de Salvador, há décadas passa por um processo de degradação que atinge a fase crítica. O comércio popular, que foi o mais forte da capital baiana, vem fechando as portas; importantes patrimônios arquitetônicos se deterioram, como o Cine-Teatro Jandaia; moradores reclamam da violência e da presença de usuários de drogas.
Neste ano, pela primeira vez, a Baixa dos Sapateiros não recebeu decoração natalina oficial. “Ficamos muito tristes”, diz Maricélia Santos de Oliveira, presidente Associação dos Empreendedores da Baixa dos Sapateiros Barroquinha e Adjacências (Albasa).
A Associação fez um ofício expressando “repúdio” ao órgão municipal de iluminação pública, mas não adiantou. Segundo Oliveira, 100 das 300 lojas da Baixa dos Sapateiros estão fechadas. A conta não inclui os boxes dos shoppings.
O Shopping Baixa dos Sapateiros com 120 espaços. Seu administrador, Robério Pedreira, tocava um restaurante no local, mas mudou por falta de público. “Tem pouquíssimas lojas abertas e a tendência é muito ruim. A situação beira o pior”, diz Pedreira.
Só lamentos: é como se pode resumir as conversas com moradores que vivenciaram o apogeu da Baixa dos Sapateiros e hoje convivem com a degradação. “Eu andava com a minha mãe por ali desde os cinco anos de idade, vendo vitrines e fazendo compras. Era o comércio mais forte de Salvador”, lembra Adalberto Borges, advogado, professor, escritor e cantor.
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“Agora o movimento está muito baixo, a criminalidade está afastando as pessoas. A maior parte dos locais está degradado”, diz Borges. Sua opinião é parecida com a de Solange Santos, 70 anos, que trabalhou por 17 anosmc sportseis lojas da Baixa do Sapateiro.
Aposentada, sai pouco de casa, mas “na última vez fui lá, quando eu vi as lojas fechadas, chorei, não aguentei não, é muita emoção, voltei ao passado”. Ela lembra do movimento intenso, de fanfarrasmc sportfrente às lojasmc sportdias de promoção.
Há três cinemas históricos na Baixa dos Sapateiros: Tupi, fundadomc sport1956, exibindo filmes pornográficos; Pax, de 1950, com 1.500 poltronas, abandonado; e o Cine-Teatro Jandaia, o primeiro da cidade, inauguradomc sport1911.
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O Jandaia tinha um palco por onde passaram nomes como Carmem Miranda, Elis Regina, Grande Otelo, entre outros artistas de sucesso. Havia 2.200 lugares nas ruínas tombadas pelo patrimônio estadual.
A decadência do Jandaia revolta pessoas como o professor de História Adson Brito do Velho. “Vamos ser sinceros: o primeiro passo é a tomada de consciência histórica e social daquele espaço”, diz sobre o Jandaia.
Em relação à Baixa dos Sapateiros, “virou um lugar deserto, parece uma cidade fantasma. É uma espécie de periferia, como se fosse um quintal de Salvador, algo a parte”, descreve Velho.
Clarindo Silva, 82 anos, morador conhecido da região, diz que “o processo de degradação é muito perverso. Pelourinho é o coração, mas ele não funciona sem as artérias, sobretudo a Baixa dos Sapateiros”.
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Ele se emociona. “Passo por ali desde menino, ali estão os cinemas onde se apresentaram grandes nomes, hoje estãomc sportruínas. O Mercado Santa Bárbara está degradado, o shopping com lojas fechadas”. Silva é um dos envolvidos na articulaçãomc sportprol da revitalização, o movimento Preservar para Perpetuar, recém-lançado.
Degradação teria começado na década de 1970
Os fatos citados pelos entrevistados para explicar a decadência da Baixa do Sapateiro coincidem. Um primeiro baque teria acontecidomc sportmeados da década de 1970, com a inauguração do primeiro shopping de Salvador. As pessoas começaram a comprar lá.
A redução das linhas de ônibus diminuiu o fluxo na região, além de construções de valor arquitetônico, tombadas ou não, terem sido abandonadas, como é o caso dos cinemas. Outros fatores teriam sido as compras pela internet, potencializadas pela pandemia, e a ascensão do comércio nos bairros.
Há ainda um fator cultural: associar o Centro Histórico de Salvador somente ao Pelourinho faz com que ele acabe sendo priorizado por turistas e ações do poder público. Mas toda a região tem marcos importantes, como a capela de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros.
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Tânia dos Reis de Jesus, 65 anos, nascida e criada no bairro, é uma das organizadores da festa de Santa Bárbara, que fica expostamc sportsantuário dentro do mercado homônimo. “Precisa de reforma, revitalização, o comerciante aqui está vivendo na resistência, a Baixa dos Sapateiros está quase para ser enterrada”, resume.
O que dizem a prefeitura e o governo estadual?
A Prefeitura de Salvador informa que realizou “uma série de obras” na Baixa dos Sapateiros na última década, como a revitalização do Mercado São Miguel, do Camelódromo e inaugurou o Quarteirão das Artes.
Sobre o edital Primeiro Desafio de Inovação Aberta, lançadomc sport2023 para promover a recuperação econômica da Baixa dos Sapateiros, três projetos foram premiados. Dois “não deram continuidade às suas soluções” e um está “em estágio de ideação”.
A Prefeitura não respondeu se existe alguma iniciativa de revitalização para o Cine Jandaia e afirma que “não é possível estimar” a representatividade econômica da Baixa dos Sapateiros, como a arrecadação de impostos.
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Segundo o governo estadual, a Baixa dos Sapateiros “foi totalmente requalificada” através do projeto Pelas Ruas do Centro Antigo, entre 2014 e 2017.