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betano em baixo-Análise: uma sociedade que não valoriza ciência é presa fácil para desinformação e autoritarismo

betano em baixo

Na luta contra a desinformação que se espalha pelas redes sociais, é fundamental incentivar mais pessoas a entenderem o mundo através do olhar científico. E só cientistas e pesquisadores têm esse poder
16 set 2024 - 05h10
(atualizado às 10h16)
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betano em baixo de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar

Neste mês de setembro,betano em baixoque completa um ano de vida, o The Conversation Brasil publica uma série de artigos que discutem a essência do nosso trabalho: os rumos da divulgação científica e seu papel na sociedade. Em temposbetano em baixoque a mentira e as informações falsas viraram ferramentas estratégicas e poderosas no universo das redes sociais, uma divulgação científica que seja ao mesmo tempo acurada e eficiente na transmissão de conhecimento para camadas mais amplas da população é fundamental para frear o flerte com a ignorância e o autoritarismo que parece cada vez mais ameaçador na sociedade contemporânea. No terceiro artigo desta série, o professor do Instituto de Física da Unicamp Leandro Tessler traça uma relação entre a histórica baixa prioridade do ensino de ciência na educação básica brasileira e o impacto que a propagação de desinformação pode ter provocado no número de vítimas da pandemia de Covid no Brasil.

Ciência é talvez a mais importante aventura da história da humanidade. Graças à invenção da ciência vivemos mais e melhor. Graças à ciência entendemos os mistérios da natureza, da vida, do universo e tudo mais. Não conhecer as bases do pensamento científico condena as pessoas a ficarem excluídas de uma parte fundamental da cultura humana. O pleno exercício da cidadania exige conhecer pelo menos as bases e métodos da ciência.

Apesar da importância da ciência, a educação básica brasileira não tem tido sucesso na formação científica de seus estudantes. Por motivos que não discutirei aqui, dentro do utilitarismo que pauta a formação dos brasileiros, a sociedade não associa conhecimento científico com oportunidades de ascensão social.

Ao contrário do que ocorrebetano em baixooutros países, a formaçãobetano em baixopensamento matemático e científico não é considerada fundamental. Confunde-se o aprendizado de ciência com memorização de fórmulas abstratas e fora de contexto, sem relação com a realidade próxima do estudante. Não surpreende que os brasileiros não cogitem usar ciência para ajudar a tomar decisões.

Eu recebi um choque de realidade que me marcou para sempre quando fui convidado,betano em baixo1991, para dar um curso de física experimental para professores de física da rede pública da região de Campinas, financiado pelas Nações Unidas. Eu era um recém contratado professor da Unicamp.

Encontrei um público bastante heterogêneo. Poucos professores tinham formaçãobetano em baixofísica. Raríssimos eram capazes de fazer um gráfico de uma grandezabetano em baixofunção do tempo.

Para a grande maioria, física era uma atividade realizada por grandes cientistas europeus ou norte-americanos, que se traduziabetano em baixomontes e montes de fórmulas. Cabe aos estudantes memorizá-las, dado que pode cair no vestibular ou no ENEM. Alguns até inventaram musiquinhas ou poemas para facilitar a memorização. Nenhuma ou quase nenhuma atividade experimental.

Só tem um problema: longe de ensinar ciência, esse tipo de iniciativa apenas transmite a negação do pensar científico para as novas gerações.

Várias tentativas de introduzir atividades científicas na formação escolar vêm fracassando ao longo do tempo,betano em baixogrande parte devido à percepção de mundo dos alunos, suas famílias e também dos próprios professores. É muito difícil mudar uma cultura já enraizada, especialmente numa sociedade onde o conhecimento é menos valorizado do que os títulos das pessoas.

Cultura científica

Para mim ficou claro que é muito mais importante para o país um cientista ativo estar envolvidobetano em baixodivulgar a ciência e a cultura científica do quebetano em baixopublicar artigosbetano em baixorevistas internacionais de alto prestígio.

Tenho buscado conciliar essas duas atividades ao longo da minha carreira. Isso é feitobetano em baixodiferentes frentes. Mas tenho convivido com um problema bastante sério: a progressão profissional nas universidades públicas brasileiras está estritamente relacionada com produção científica.

Atividades de divulgação contam nada ou quase nada. Assim, a maior parte dos docentes percebe atividades de divulgação como uma perda de tempo que atrapalha suas atividades de pesquisa que resultambetano em baixopublicaçõesbetano em baixorevistas de alto prestígio. Pouquíssimos são ativosbetano em baixodivulgação.

Há anos eu escrevia um blog justamente chamado Cultura Científica,betano em baixoque discutia essencialmente assuntos ligados à ciência, pseudociência e ciência mal feita (bad science). Obviamente acabei atraindo a atenção e a ira de adeptos de práticas de saúde sem base científica, como homeopatia e quiropraxia.

Eu sempre respondia aos comentários e evitava ao máximo julgar o que as pessoas fazem para cuidar debetanobetano em baixobaixosaúde, mas chamava a atenção para a ausência de evidência científicabetano em baixosuas práticas e como é importante entender o que isso significa.

Outro aspecto fundamental para a divulgação científica é, sempre que possível, atender e dialogar com a imprensa. Há muita necessidade de levar explicações científicasbetano em baixolinguagem simples e compreensível para os canais pelos quais as pessoas se informam. Se nós cientistas não fizermos isso, esse espaço é rapidamente ocupado por charlatães.

Com o desenvolvimento de redes sociais, o Twitter (atual X) passou a ser meu principal ambiente de atuação. Do jeito que a rede vem sendo tratada por seu novo dono, tolerando agressões contra divulgadoresbetano em baixonome da liberdade de expressão, isso não vai durar. Já estou ativo no Bluesky. Depois da proibição da operação da rede no Brasil, só uso esta alternativa.

Pandemia: entender a ciência nunca foi tão importante para salvar vidas

Então chegou a pandemia de Covid. Mais do que nunca, as pessoas precisavam entender o que estava acontecendo, e para isso precisavam lançar mão de ciência. Acontece que a pandemia ocorreu num momento da históriabetano em baixoque as redes sociais impuseram uma nova dinâmica para o conhecimento.

O grande público brasileiro não entendia o que estava acontecendo. Aconteceu então um fenômeno muito perigoso: escolher uma explicação estava mais associado à posição política da pessoa do que à compreensão de fenômenos naturais básicos. Fontes oficiais logo tomaram posições anticientíficas, ignorando tudo o que sabemos sobre modelagem epidemiológica.

Assessorado por médicos incompetentes ou mal intencionados, o então presidente do país decidiu minimizar a letalidade da doença, para tentar manter a economia funcionando e agir como se nada estivesse acontecendo.

Ele argumentou que a Covid era algo menor, uma "gripezinha", que só mataria idosos e portadores de condições preexistentes. Afirmou que a população jovem logo estaria protegida por imunidade de rebanho. Estimou que a doença mataria não mais que 800 brasileiros. Mais que isso, seguindo o então presidente dos EUA, passou a recomendar o uso de drogas como a cloroquina, sem efeito algum sobre a Covid, e outras igualmente inúteis.

O resultado, todos sabem, foi desastroso. Morreram mais de 700 mil brasileiros. Quase mil vezes mais que a previsão oficial. Só não morreu mais gente no Brasil graças ao heróico trabalho de divulgadores com alta visibilidade nas redes sociais, que alertaram para o tamanho do problema e recomendaram medidas de distanciamento social.

Eu atuei especialmente comentando a metodologia científica. Em particular, como foi possível usar a ciência para estimar o número de mortos que teríamos se a população tivesse seguido as recomendações do presidente: quase 2 milhões.

Só não chegamos a esse número porque aos poucos a maior parte dos cidadãos brasileiros preferiu buscar informações científicas, e não ideológicas, para entender o que estava acontecendo. Neste aspecto, a ação de divulgadores científicos que atuam nas redes sociais foi de extrema importância. Mas nada fácil, face às tentativas de silenciamento que ocorreram à época.

Democratização do conhecimento: uma obrigação de quem pesquisa

Hoje, o pior da pandemia já passou. Mas a divulgação de ideias anticientíficas continua firme e associada à polarização política do país. Agora buscam desacreditar a importância das vacinas e a elas atribuir supostos efeitos colaterais jamais demonstrados.

Quem não consegue entender como e porquê sabemos que as vacinas são seguras é presa fácil para portadores de desinformação de ocasião. E as consequências desse descaso são muito sérias.

Mais do que nunca, é importante incentivar as pessoas a voltarem a entender o mundo através de um olhar científico. E para isso, a transmissão de conhecimento científico de forma clara e acessível, capaz de comunicar-se com todas as parcelas da população, é fundamental.

Nesse contexto, a sociedade brasileira certamente seria menos vulnerável ao poder deletério das fake news transmitidas via redes sociais se uma parcela importante dos cientistas dedicasse parte do seu tempo a traduzir o saber científico para todos, de forma acessível e democrática.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Leandro R. Tessler recebe financiamento da FAPESP.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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Fontes de referência

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  2. roleta casino gratis
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