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7games apk do android-Borogodó com sotaque: gringas desfilam na Sapucaí e até aprendem português para ter gingado brasileiro
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Sob a batuta de Carlinhos Salgueiro, a ala de passistas da escola do Andaraí acolhe de canadenses a dinamarquesas7games apk do android de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar
Eram quase oito da noite de uma terça-feira de verão e o calor não fazia nem sinal de trégua no Rio de Janeiro. Enquanto alguns turistas arriscavam um banho de mar, na quadra do Salgueiro a história era outra. Na sede da escola de samba, no Andaraí, um grupo de mulheres se reuniam para ensaiar o samba no pé e fazer bonito na avenida, na segunda-feira de carnaval, 3. Quem vê de longe não imagina que, entre tantas brasileiras, estão passistas do Canadá, Dinamarca e até da Austrália.
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De fora da quadra, os que passam conseguem ouvir: “5, 6, 7 e 8. Vamos, gente!”. É a voz de Carlinhos Salgueiro anunciando que ali dentro está acontecendo uma verdadeira aula de samba. O enérgico diretor da ala das passistas do Salgueiro é o responsável por ‘destravar’ o molejo do samba7games apk do androidalunas de dentro e fora do Brasil.
Além de ser uma figuraça, Carlos Borges - seu nome de batismo - é considerado o Embaixador do Samba Internacional e já foi agraciado com o título de rei do carnaval na Austrália e na Inglaterra, além de ter se tornado embaixador da folia na Alemanha.
Foi levando o samba para o mundo que o bailarino carimbou o passaporte7games apk do android34 países e apresentou o mais brasileiro dos ritmos para estrangeiros ao redor do globo.
Por isso mesmo, a aula de samba de Carlinhos Salgueiro conta com a presença de ‘gringas’ que se apaixonaram pelo gênero e dão tudo para se aprimorarem cada vez mais: desde viagens a cada verão e até mesmo um ‘intensivão’ de português, elas mostram que o borogodó é intraduzível, mas pode vir com sotaque.
As gringas se afinavam na folia
“Naquela hora, eu sabia que tinha mexido comigo.” A canadense Raphaëlle Charron, de 30 anos, descreve de maneira quase cinematográfica o seu primeiro contato com o samba. A jovem tinha apenas 17 anos quando chegou7games apk do androidum novo colégio, decidida a experimentar algo novo: a dança.
Para7games apk do androidsorte, um professor de samba foi convidado para dar uma aula e Raphaëlle achou uma boa ideia participar. O bailarino não era brasileiro, mas conseguiu transmitir a paixão no molejo que tentava ensinar.
Ao final da aula, a canadense, que nunca teve contato com a dança até então, não se via mais longe da cadência.
“A única coisa que eu pensei era: vou buscar mais, preciso entender o que estou sentindo ouvindo uma bateria, ouvindo um samba. Quando você está mexendo o seu corpo, seu quadril, há uma sensação de muita liberdade”, tenta descrever.
O ‘clique’ mágico também aconteceu com a canadense Selina Melo, de 33 anos, mas através de um amigo brasileiro. Aos 18 anos, o colega lhe apresentou músicas do Brasil e até fez um CD para dar de presente a ela.
“Escutei e pensei ‘nossa, que legal’. Me tocou muito. Pesquisando um pouquinho, vi um vídeo sobre o samba e resolvi que queria aprender essa dança”, relembrou. O desejo, no entanto, ficou adormecido. “Eu estava num período da minha vida onde tive muitos problemas, muitas coisas acontecendo com a minha família, então eu não podia realmente me dedicar a isso”, admite.
O tempo certo chegou um pouco depois, quando Selina já estava cursando psicologia7games apk do androiduma universidade de Montreal. “Encontrei uma brasileira7games apk do androidMontreal que estava dando aulas, então eu comecei”, conta.
Se Raphaëlle e Selina descobriram o samba por coincidência do destino, a dinamarquesa Sophia Maria Fonseca, de 31 anos, não existiria se não fosse o gênero. Isso porque seus pais se conheceram7games apk do androiduma escola de samba7games apk do androidCopenhague, nos anos 1980.
O pai da ‘gringa’ ainda é mestre7games apk do androidcapoeira e tem até um centro no Rio de Janeiro. “Cresci no samba e comecei a fazer aulas quando tinha seis anos”, diz. “Então,7games apk do android2018, decidi viajar para cá sozinha pela primeira vez. Fiquei seis meses com meu irmão, que também é capoeirista”, relembra.
Desde o primeiro contato dessas mulheres com o samba, o gênero nunca mais saiu de suas vidas. Cantado7games apk do androidportuguês, nascido na Bahia e reinventado no Rio de Janeiro, o gingado marcou a memória das estrangeiras e as gringas passaram a tentar se afinar na folia, como celebra o Olodum7games apk do androidNossa Gente, de 1992.
Gingado com compromisso
Entre sair de Copenhague e se dedicar ao samba no Brasil, levou um tempo para Sophia. A dinamarquesa frequentava o Salgueiro desde criança,7games apk do androidviagens com a tia. Mas foi só7games apk do android2018 que decidiu se aprofundar no gênero e mergulhar na cultura brasileira.
“Eu sabia que se fosse trabalhar com samba, para aprender, melhorar e evoluir eu também deveria me educar e entender mais sobre a cultura”, argumenta.
A convite de Carlinhos, ela passou a acompanhar as aulas da ala de passistas nos preparativos para o carnaval.
Apesar de ter optado por dar entrevista7games apk do androidinglês, a dinamarquesa desenrola bem o português. Quem também conversa muito bem no idioma e até arrisca um sotaque carioca são as canadenses.
A facilidade é explicada pelo tempo que Raphaëlle já dedica ao samba. Afinal, são 12 anos se aprimorando no gênero e uma década vindo ao Brasil. Para o primeiro destino da viagem, ela escolheu o estado que foi berço do samba, a Bahia.
“Comecei a minha viagem7games apk do androidSalvador para entender um pouquinho mais as danças afro-brasileiras e eu fiz um um curso na FUNCEB [Fundação Cultural Do Estado Da Bahia]”, comenta.
Aprender o português também fez parte da estratégia da canadense para mergulhar de vez no samba brasileiro. “Fiz algumas aulas antes de vir para o Brasil, porque eu queria realmente entender as letras, as músicas, as aulas, já que a maioria dos professores falam português… Queria lidar um pouco mais com a cultura”, diz.
Todo o empenho resultou7games apk do androidum verdadeiro encontro com o Salgueiro,7games apk do android2020. “Consegui esse sonho, o Carlinhos me deu a oportunidade de desfilar como passista”, se emociona.
Com Selina, o amor pelo samba cresceu ainda mais quando pisou no Brasil pela primeira vez,7games apk do android2018. “Fiz aulas com muitos professores diferentes e foi como amor à primeira vista. Eu me apaixonei pela cidade [Rio], pelas pessoas aqui e também foi desafiador também, porque o nível aqui é muito mais alto, né?”, analisa.
Em 2025, ela completa7games apk do androidsexta viagem ao Brasil por conta do samba. No ano passado, Selina chegou a desfilar como passista pelo Salgueiro e repetirá o feito este ano, ao lado das colegas Raphaëlle e Sophia. Com Raphaëlle, aliás, a canadense gerencia hoje uma escola de dança focada7games apk do androidsamba lá7games apk do androidMontreal,7games apk do androidcidade natal.
'Apreciação, não apropriação'
“Sempre entro na quadra de forma muito humilde, porque sou uma mulher branca e preciso ter consciência de que não é minha história que está sendo contada”, observa Sophia. Mesmo apaixonada pelo ritmo, considerado um dos pilares da cultura afro-brasileira, a dinamarquesa destaca que não quer “tomar” espaços.
A consciência de Selina também é a mesma. A canadense acredita que projetos de incentivo ao aprendizado do samba no mundo são importantes para disseminar a cultura do Brasil mundo afora.
“É um privilégio podermos participar e aprender diretamente com os professores daqui. Essa é a única maneira que saberemos mais sobre a cultura. Sem estar aqui, o que vemos lá fora são, às vezes, estereótipos, maneiras de dançar muito antigas”, explica.
Por amar o samba, Selina aprendeu a “pisar nesse chão devagarinho”. No carnaval, a ‘gringa’ se considera apenas uma visitante e pondera sobre a apropriação de espaços dedicados à cultura afro-brasileira.
“Eu não quero fazer apropriação cultural. Não posso controlar o que as pessoas pensam de mim, mas eu posso controlar o que eu faço, posso controlar a intenção, o tempo que dedico para aprender o samba, o português, para me educar mais. Com isso, sinto que estamos fazendo mais uma apreciação cultural ao invés de apropriação”, defende.
Para Raphäelle, as opiniões dos brasileiros sobre a participação de gringas7games apk do androiddesfiles de escolas de samba e7games apk do androidaulas de passistas são dividas. "Eu não tenho todas as respostas. Para mim, é uma conversa aberta que sempre está presente. Tem os brasileiros que são super animados com o que a gente faz e dizem ‘uau, nunca tinha pensado que uma estrangeira poderia amar a nossa cultura desse jeito’. E também tem o oposto, quem não acha legal”, pondera.
Apesar de considerar e ouvir com atenção as críticas, a canadense prefere focar na parte boa que o samba trouxe para7games apk do androidvida. Segundo ela, viver o Brasil, nem que seja só no carnaval, é sorte pura.
"Temos muita sorte de poder estar aqui e de viver e ver tudo o que acontece no Brasil, com a dança, arte e a cultura. Acho que temos uma sorte imensa de poder sentir essas coisas, porque o Brasil é um lugar muito, muito especial”, elogia.
Carnaval com legenda
Assim como Sophia, Selina e Raphäelle, Sashya Jay Brito veio de longe para sambar no Brasil. A bailarina é acostumada com a mistura. Filha de pais sul-africanos, ela foi criada na Jamaica e atualmente vive na Austrália com o marido brasileiro. Foi lá7games apk do androidSydney, a mais de 14 mil km do Rio de Janeiro, que teve o primeiro contato com o gênero que viria a se tornar seu trabalho.
“Comecei com dança afro-brasileira e, ao mesmo tempo, comecei a fazer shows. Aí as pessoas ficavam perguntando: ‘você ensina samba?’. Então comecei a dar aulas, até que chegou uma época que eu vi que o que a gente estava fazendo lá na Austrália era muito diferente do samba de passista que estava acontecendo aqui no Brasil”, relembra.
“Estávamos fazendo algo muito ‘cabaré’ antigo, muito show. Estava faltando a essência, a conexão do carnaval”, admitiu. Foi quando Sashya decidiu voltar ao Brasil para “reaprender” a sambar e deu certo. A jamaicana entrou na ala das passistas do Império Serrano7games apk do android2017, participou de desfiles do Salgueiro e hoje é musa da Mangueira.
No mesmo período, Sashya conheceu Carlinhos Salgueiro, com quem ‘pegou no tranco’ com a dança e se sentiu confortável para voltar para a Austrália com uma bagagem ainda maior. “Ele me deu uma carta branca para ensinar a técnica dele”, ressalta.
Atualmente, a jamaicana coordena a Escola de Samba Sydney e o Rio Projekt, um grupo show disponível para contratação7games apk do androideventos na cidade australiana. No dia a dia da instituição, a maior preocupação de Sashya é não distanciar as aulas do que realmente acontece no Brasil.
“Temos três dias de aula toda semana, seis níveis de samba, aulas de funk, uma outra que chamamos de ‘raiz’, onde a gente volta às danças afro-brasileiras, além do axé e do pagodão, para dar essa essência para as estrangeiras, né? Porque é uma coisa para aprender técnica, mas você tem que sentir essa energia, de onde o samba veio”, defende.
A musa da Mangueira conta que as alunas são de nacionalidades variadas, mas, inevitavelmente, o público australiano é maior. Entre eles, a maioria se interessa7games apk do androidaprender o samba. No entanto, algumas pessoas chegam ao projeto mirando7games apk do androiduma ideia deturpada da cultura brasileira.
“Existe um interesse genuíno de muitas pessoas. Por outro lado, ainda há uma expectativa de ver um espetáculo que não existe, porque é um estereótipo criado lá fora. Também existe, principalmente do público masculino, uma sexualização desse ofício”, critica.
“Há shows que o povo aqui chama de ‘bate bunda’, aqueles só para ganhar dinheiro7games apk do androideventos, casamentos, restaurantes. E são esses que temos que tomar cuidado. Lá na Austrália, as pessoas veem as mulheres lindas nos biquínis e tem uma outra noção (...) Você tem que tomar cuidado fora do Brasil, porque aqui as pessoas entendem que faz parte da cultura, mas lá as pessoas não vão entender isso”, analisa.
Para Sashya, uma boa passista tem que saber sambar “elegante”. As alunas dela, que aprendem o “mandamento”, muitas vezes vão ao Brasil para desfilar nas escolas de samba. Desde que foi fundada,7games apk do android2016, a instituição da jamaicana até ajudou a ampliar a comunidade do samba7games apk do androidSydney, graças à troca cultural e ao boca-a-boca.
“É uma coisa muito legal, mas também pode ser um pouco perigoso, porque quem está na frente da cultura brasileira fora do país, especialmente a gente que não é brasileiro, tem que tomar uma grande responsabilidade para representar algo que tem tanto respeito. Temos sempre que nos conectar ao Brasil para manter essa integridade. Não podemos criar qualquer coisa e falar: 'isso aqui é samba'”, rebate.
Através do projeto, Sashya desfila como musa da Mangueira no domingo, 2. Outras duas alunas também atravessam a Marquês de Sapucaí pelo Salgueiro no dia seguinte. Para a professora de dança, o objetivo é expandir o negócio e fazer todos brilharem juntos. Afinal, samba é comunidade.
“Criei esse projeto porque não quero ficar nessa vida sozinha brilhando. Para mim não é interessante. Gosto de compartilhar com pessoas e ver outras pessoas felizes. Ninguém nessa vida está sozinho, né?”, frisa.