mali 1xbet-‘Motoboy/SP’ oferece lições de humanidade na metrópole e bom jornalismo na veia
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Programa estreia com motogirl criticando os apps de delivery por pagarem pouco e, logo depois, um comercial do iFoodUma câmera, pessoas comuns e histórias reais do ‘corre’mali 1xbetuma das maiores cidades do planeta. A série documental ‘Motoboy/SP’, parceria da Favela Filmes com a Globo, pega carona na vida dos entregadores motociclistasmali 1xbetSão Paulo.
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Apresenta tantas qualidades que já pode ser considerada uma das melhores produções jornalísticas do ano na TV aberta. Excelente trabalho de humanização de uma categoria invisibilizada, vilanizada e sem o devido reconhecimento financeiro.
O primeiro acerto do formato é deixar os próprios personagens conduzirem o programa, sem a presença no vídeo de um apresentador, repórter ou narrador.
Enxuto e veloz, o roteiro valoriza a vida familiar e as fragilidades dos motoboys. Afinal, embaixo de cada capacete há alguém com amores, medos, sonhos, decepções, traumas.
As histórias se entrelaçam pelas coincidências, a exemplo dos preconceitos sentidos na pele. A motogirl Ilda Nascimento, que passou 10 anos no sistema penitenciário e defende a ressocialização de ex-detentos, citou os motoristas que sobem o vidro do carro ao vê-la parar ao lado, sendo que ela própria sente medo de ser assaltada no trânsito.
Entre as dificuldades da categoria, Ilda apontou a baixa remuneração. “Os aplicativos pagam pouco”, disse. Na ida ao intervalo, um comercial do iFood. Saborosa ironia. Sinal de que não houve censura do conteúdo crítico dos depoimentos.
Pai com 3 filhos também entregadores, Ronaldo ‘Sorriso’ Soares lamentou a discriminação contra o “motoboy de cor”. Contou ter sido ameaçadomali 1xbetcondomínio de bairro chique. “Vou quebrar esse negro”, avisou o cliente irritado com o atraso na entrega. Doeu assistir ao relato. Tal racismo não é exceção, sabemos.
Edgard da Silva, o Gringo, se emocionou ao lembrar a infância sem mínima infraestrutura. Com esforço, conseguiu cursar dois anos de Engenhariamali 1xbetuma faculdade particular.
A mensalidade pesou no orçamento doméstico. Foi obrigado a desistir. Quando conseguiu ser aprovadomali 1xbetuma universidade pública, renunciou ao sonho do diploma para fazer ativismo sindical pelos direitos dos motofretistas.
Ele ressaltou a importância dos motoboys ao longo da pandemia e a contribuição à fluidez na cidade, já que agilizam entregas e evitam a circulação de veículos maiores. Destacou outro tipo de discriminação. “Às vezes, a gente é colocado no elevador com o lixo pra subir”, disse. “Falta um ‘bom dia’, ‘boa tarde’, ‘boa noite’.”
Mais um drama apontado por Edgard foi o da morte de colegas. Segundo o CPTran, 374 ocupantes de motocicletas perderam a vida nas ruas de São Paulomali 1xbet2022. Na média, mais de um corpo no asfalto por dia. “A sociedade não sabe o que é arriscar a vida”, lamentou o entregador-sindicalista ao pedir mais respeito.
Sem nunca ter desejado outra profissão, Ewerton de Lima, o Rizolito, aproveita os ‘corres’ para gravar vídeos. O influenciador “motoboy raiz, cachorro louco” é seguido por mais de 200 mil pessoas entre Instagram e YouTube.
Ele abordou um tema delicado: a desconfiança contra todo entregador. “Virou normal a pessoa se fantasiar da categoria mais unida do Brasil, colocar uma bag nas costas e sair aí roubando pela rua”, protesta. “Quem rouba é ladrão, motoca é motoca.”
Mostrou-se indignado com a violência sofrida pela classe. “Virou moda o motoboy entregar uma pizza e receber um soco de caixinha.” Vídeos nas redes sociais mostram a solidariedade entre os profissionais. Quando um deles é ofendido, dezenas se juntam para fazer buzinaço na frente da casa do cliente arrogante.
O único equívoco do primeiro episódio de ‘Motoboy/SP’ foi incluir o explícito merchandising de uma seguradora de motos no meio de um depoimento. Ok, as contas da produção precisam ser pagas. Vamos relevar.
Os créditos trouxeram o nome de Henrique Mello como ‘piloto moto’ da equipe de gravação. Ele também deve ter boas histórias sobre duas rodas para contar. Com direção-geral de Celso Athayde e Léo Ribeiro, o programa está disponível no Globoplay.