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blaze pt br-Caso do menino Miguel é retrato das injustiças do Brasil

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Três anos depois, condenada por morte de filho de empregada doméstica segueblaze pt brliberdade
30 mai 2023 - 12h27
(atualizado às 12h31)
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Há três anos o mundo estavablaze pt bruma das fases mais críticas da pandemia. Não existia vacina, as aulas estavam suspensas, e a população era orientada a ficarblaze pt brcasa. O bom senso também dizia que o mínimo que quem tinha empregada domésticablaze pt brcasa (um mal do Brasil, o país com mais domésticas do mundo) deveria fazer era dispensá-las (e pagá-las, é claro) para que elas também não se arriscassem.

A então primeira-dama do município de Tamandaré, Pernambuco, Sarí Cortes Real, filha da elite pernambucana, o retrato perfeito de uma "sinhá", não fez nada disso. Em 2 de junho de 2020, Sarí recebeu uma manicureblaze pt brcasa,blaze pt brum condomínio de luxo no Recife. E tambémblaze pt brempregada, Mirtes Renata de Souza, que trabalhava para a família há anos. Como as aulas estavam suspensas, Mirtes levou o filho Miguel Otávio, de 5 anos, para o trabalho.

O resto da história é terrível, mas não pode nunca ser esquecido.

Uma história de terror e simbolismo

Durante a manhã, Sarí pediu que Mirtes passeasse com o cachorro da família. Miguel ficou sob os cuidados de Sarí. Em algum momento, o menino ficou impaciente e chorou pedindo a mãe, como qualquer criança deblaze pt bridade faria.

Sarí colocou o menino sozinho no elevador e apertou o 9° andar. Miguel saiu do elevador e foi procurar a mãe. Ele caiu e morreu mais tarde no hospital. Mirtes voltava do passeio com o cachorro quando encontrou o filho no asfalto.

Tudo nessa história de horror é muito simbólico. Sarí, filha da elite escravocrata, não ligou para a quarentena, e priorizou fazer as unhas e continuar contando com os serviços da empregada. Mirtes teve que largar o filho com a patroa para passear com o cachorro da família, que parecia ser, para os Cortes Real, mais importante que o filho da empregada.

E, infelizmente, essa história é também um retrato da impunidade do Brasil. Sarí Cortes Real foi indiciadablaze pt br2020 e condenadablaze pt br31 de maio de 2022 a oito anos e meio de prisão por abandono de incapaz que resultoublaze pt brmorte. Segundo a sentença da 1° Vara dos Crimes contra a Criança e o Adolescente do Recife, ela deveria iniciar a penablaze pt brregime fechado, mas poderia recorrerblaze pt brliberdade.

Em julho de 2022, o Tribunal de Justiça de Pernambuco indeferiu um pedido de prisão preventiva para a ex-primeira-dama. Resultado: Sarí nunca foi presa. Provavelmente, segue levandoblaze pt brvida e achando que permanecerá impune. Do que, infelizmente, pode estar certa.

Brancos ricos e poderosos como ela eblaze pt brfamília raramente pagam por seus crimes, ainda mais quando esses crimes são contra pobres e negros, mesmo se eles forem crianças.

Luta por justiça

"E se fosse o contrário? E se fosse eu que fizesse isso com o filho da patroa?", pergunta Mirtes há três anos. Ela sabe a resposta, e a gente também: a ex-empregada doméstica estaria presa, sem direito algum.

Mirtes é uma mulher muito forte e inteligente. Desde que o filho morreu, não parou de lutar por justiça. Ao contrário, decidiu estudar Direito para ajudar outras mães vítimas do mesmo tipo de barbárie.

No diablaze pt brque Miguel completaria oito anos, ela escreveu no Instagram: "Hoje era para ser um dia de felicidade, um dia de festa, uma comemoração ao aniversário do meu filho Miguel Otávio. Enquanto a criminosa Sarí Cortes Real está solta e teve o privilégio de comemorar o aniversário deblaze pt brfilha, eu choro por não ter o meu filho no colo."

Mirtes, familiares e apoiadores, assim como entidades de direitos humanos e contra o racismo se reunirãoblaze pt brfrente ao prédio da tragédia no dia 2 de junho, para pedir justiça e homenagear Miguel. "Não descansarei enquanto a culpada não for presa", ela sempre afirma.

Nós também não deveríamos descansar. Esse crime é um retrato de tantas injustiças e desigualdades que deveriam ter parado o país, assim como a morte de George Floyd parou os Estados Unidos.

Deveria ser

"E se fosse o contrário? E se fosse eu que fizesse isso com o filho da patroa?", pergunta Mirtes, mãe do menino Miguel
"E se fosse o contrário? E se fosse eu que fizesse isso com o filho da patroa?", pergunta Mirtes, mãe do menino Miguel
Foto: DW / Deutsche Welle

vir também como uma grande tomada de consciência por várias mulheres que tratam "suas empregadas" (falar assim, com o pronome possessivo, já é horrível) como se fossemblaze pt brpropriedade e agem com descaso atéblaze pt brrelação aos filhos dessas mulheres.

Será que você não conhece alguém que agiria como Sarí?

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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independenteblaze pt br30 idiomas.
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Fontes de referência

  1. jogo do diamante blaze
  2. super gol apostas online
  3. betsul com

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