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bets money-Decisão dos EUA afetará leis sobre aborto no mundo; entenda

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Assim como Roe versus Wade inspirou mudançasbets moneydezenas de países,bets moneyderrubada pode levar a um efeito dominó mundial
12 jun 2022 - 10h53
(atualizado às 15h36)
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Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. 2/6/2022. REUTERS/Leah Millis
Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. 2/6/2022. REUTERS/Leah Millis
Foto: Reuters

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Desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos determinoubets money1973 que o acesso ao aborto era um direito constitucional, mais de 50 países modificaram suas leis de forma a torná-las menos restritivas. Agora, com a possibilidade de a histórica decisão de Roe versus Wade ser derrubada até o fim deste mês, ativistas temem um efeito dominó, com cada vez mais países restringindo acesso ao aborto e limitando leis mais liberais.

A expectativa é de que a Corte tome uma decisão até o fim deste mês ou no começo de julho sobre derrubar ou não a regra que torna o aborto uma prerrogativa federal, já quebets moneybreve o tribunal entrabets moneyrecesso. O recente vazamento do rascunho da decisão ligou um alertabets moneyativistas no mundo todo, já que o documento apontou que a maioria apoia a derrubada da lei.

Segundo dados do Center for Reproductive Rights, que faz o levantamento das legislações de aborto no mundo, há mais de 70 países que permitem o procedimento - apenas com limitações de tempo gestacional. Por outro lado, 24 países proíbem completamente, mesmobets moneycaso de risco para a mulher. Mas nas últimas décadas, mais de 50 países modificaram as suas leis para torná-las mais liberais no tema.

Influência mundial

Muito antes de Roe versus Wade se tornar uma discussão nos Estados Unidos, alguns países já possuíam leis permissivas ao aborto, a maioria dentro da esfera de influência da antiga União Soviética. Mas com a permissão da corte americana, pouco a pouco, outras legislações foram se inspirando no precedente.

"Esse movimento nos EUA é muito importante porque o país se projeta como esse farol mundial, então seu papel é muito importante para divulgar no exterior essa ideia de que os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são importantes e devem ser respeitados", explica Almudena Cabezas González, professora na Universidad Complutense de Madrid.

"Houve uma ampliação dessas lutas nos anos 60 e 70, e então saiu esta importante decisão dos EUA. Em poucos anos, durante os anos 70 e 80, uma legislação também foi aprovada na Holanda (84), na França (75) ebets moneyoutros países", completa. A Tunísia foi o primeiro país muçulmano a liberalizar o aborto,bets money1964, mas apenas sob certas condições como saúde e controle populacional. Poucos meses após Roe vs Wade, o país liberou até os 3 meses.

Em 1994, 179 países se comprometeram a prevenir abortos inseguros no âmbito da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento. Desde então, 15 países reformularam as suas leis para liberar quase completamente o aborto, entre eles: Espanha, África do Sul, Uruguai, Nepal, entre outros. E 18 abandonaram leis que rejeitavam o procedimento sob qualquer circunstância, para abrir algumas exceções, sendo a maioria na África.

O continente africano concentra as maiores mudanças de legislações. Embora a região ainda possua as leis mais restritivas e onde o risco de morrer por um aborto inseguro é o mais alto do mundo, metade dos países que diminuíram as restrições nas suas leis nas últimas décadas estão da África. Em seguida vem a Europa e a América Latina, que vive uma chamada "onda verde" de liberalização.

Paísesbets moneydesenvolvimentobets moneyalerta

Os paísesbets moneydesenvolvimento são responsáveis por 97% dos abortos inseguros no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). É justamente neles, especialmente África e na América Latina, que uma mudança na lei americana poderá causar maior impacto. Ambas as regiões vivem neste momento o processo liberalizante que EUA e Europa viveram nas décadas de 70 e 80.

"Quando o aborto começou a ser legalizado nos EUA e Europa, nós na América Latina estávamos passando por outros processos políticos, sejam ditaduras militares ou guerras civis, especialmente na América Central, o que tornava impossível levantar uma questão como esta", aponta Cora Fernandez Anderson, professora no Mount Holyoke Collegebets moneyMassasshussets e autora do livro Fighting for Abortion Rights in Latin America: Social Movements, State Allies and Institutions.

A região, ao mesmo tempo que possui uma das leis mais restritivas do mundo na Nicarágua e El Salvador, vive o seu momento mais liberal, impulsionado pelo movimento "Ni Una a Menos". Somente nos últimos dois anos houve a histórica decisão da Argentina de legalizar o abortobets money2020, a Colômbia liberou o procedimento até às 24 semanas de gestaçãobets moneyfevereiro deste ano e com o Chile, que tinha uma lei altamente restritiva, inserindo a pauta embets moneyreforma Constitucional.

Do outro lado do Atlântico, a União Africana adotoubets money2003 o Protocolo de Maputo, que garante às mulheres maior autonomiabets moneysuas decisões de saúde reprodutiva. Dos 55 países membros da UA, 49 assinaram o protocolo e 42 o ratificaram.

"Sabemos que como tudo o que acontece nos EUA afeta a América Latina, já começa a surgir aqui um discurso que legitima qualquer coisa que se oponha aos direitos reprodutivos", afirma Anderson. "Se a lei mudar, então será uma legitimação absurda da narrativa antidireitos."

E este impacto não se restringe à inspirar legislações mundo afora, mas atinge o financiamento de grupos que lutam por leis mais liberais sobre o aborto. "Já vimos isso com as administrações de Reagan e Trump por exemplo, que tiveram uma ênfase muito mais moralista e religiosabets moneyvez de direitos sociais amplos, e isso teve um grande impacto na posição e financiamento das organizações internacionais que afetam diretamente os direitos de mulheres e outros grupos", pontua Almudena Cabezas González.

"Em muitas nações africanas, as principais iniciativas de direitos das mulheres estão sendo sustentadas apenas graças ao financiamento recebido do Ocidente", escreveu a advogada e membro do Aspen Institute, Stephanie Mushobets moneyartigo na Al Jazeerabets moneymaio. "No Quênia, por exemplo, 95% da ajuda à saúde sexual e reprodutiva vem dos EUA. Portanto, os governos africanos muitas vezes se inspiram nas decisões políticas tomadasbets moneyWashington devido à força financeira deste último."

A preocupação maior, segundo as especialistas, centra nos países que ainda não começaram os seus movimentos de mudança, como na América Central. "Nos países da América Latina que já estábets moneycurso, essa revolução feminista é suficientemente forte para sobreviver. Não sei o que vai acontecerbets moneypaíses que ainda não conseguiram experimentar isso, como o Brasil, o Peru ou a Venezuela, por exemplo", pontua Anderson.

Ataques lentos

Se de fato a Suprema Corte derrubar Roe versus Wade, o país que deu força ao movimento pró-lei de aborto mundo a fora estará indo na contramão mundial, como mostram os dados do Center for Reproductive Rights. Ainda assim, ativistas e pesquisadores do tema chamam atenção para as barreiras cada vez maiores que se colocam no acesso ao aborto mesmobets moneypaíses com completa legalização.

"Antes de tirar o direito ao aborto, se vai riscando o aparato institucional que permitebets moneyexecução", explica González. "Se eu não tenho um sistema de saúde pública funcional, como é o caso na Espanha, então é muito fácil que eu não exerça meu direito, mesmo que a lei estejabets moneyvigor."

Cora Anderson, que estuda as legislações da Argentina, Chile e Uruguai, exemplifica que no primeiro país, mesmo dois anos após a legalização ser aprovada pelo Senado, não houve uma campanha de comunicação sobre como as argentinas podem recorrer ao procedimento. Com isso, muitas ainda buscam os mesmos serviços de ajuda e informação que antes funcionavam na ilegalidade.

Caminhando neste sentido está o Equador, que legalizou o aborto para vítimas de estuprobets money2021, ebets money2022 a Assembleia Nacional do país estabeleceu as regras, entre elas a de que a mulher necessitava apenas manifestar o interesse. O projeto foi vetado parcialmente pelo presidente Guillermo Lasso, que exigiu regras mais rígidas, como o período máximo de 12 semanas sem exceções, uma queixa criminal pelo estupro e exame médico. Lasso ainda cita a "hipótese de infanticídio" caso a vida do feto fosse viável fora do útero.

"No caso do Equador, embora tenha sido dado um importante passobets moneytermos de garantir o acesso à interrupção voluntária da gravidezbets moneycaso de estupro, este procedimento está sujeito ao cumprimento de pré-requisitos que de alguma forma constituem uma barreira ao acesso", afirma a advogada e ativista pelo direito das mulheres, Desirée Viteri. "Conceitualmente, o acesso ao aborto não é reconhecido como um direito, mas sim como uma exceção e um crime tipificado no Código Penal".

Já para os ativistas anti-aborto, a derrubada de Roe versus Wade será uma oportunidade para expandir a luta para além da legislaçãobets moneysi, e sim modificar a cultura americana para enxergar um feto como um ser humano. "Será um trabalho diferente", disse Mallory Carroll, porta-voz da Susan B. Anthony Pro-Life America, uma organização anti-aborto nos EUA ao jornal The New York Times. "Em vez de apenas lutar pelo direito de aprovar leis pró-vida, seremos realmente capazes de aprovar e proteger leis pró-vida".

"Estamos preparados para não apenas criar um cenário legal para proteger a vida nos níveis federal e estadual, mas também para apoiar uma cultura de vida", disse ao jornal americano Kristen Waggoner, conselheira geral da Alliance Defending Freedom, que apoia a proibição do estado do Mississippi que desencadeou o caso na Suprema Corte.

Estadão
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Fontes de referência

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