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Só a arte para nos fazer suportar o peso de um passado que ainda não passou, não é mesmo?aposta para o jogo de hoje de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar
A história da escravidão contada pela ótica do escravizador é ótima. Mas completamente irreal. Parece que isso é óbvioaposta para o jogo de hojepleno século 21. Mas não. Ainda é forte a narrativa branca europeia, romantizada e mentirosa, que inseriu no senso comum das nações colonizadas uma imagem heroica do poço de debilidades humanas que é o homem branco.
A verdadeira história ainda não é de domínio público por um motivo muito forte: ela é horrível, cruel e sanguinária. E o pior de tudo é que está mais viva do que nunca.
Mas como romper com a alienação e permitir que a negritude saiba integralmente e sem nenhum tipo de fantasias ou manipulações sobre aaposta para o jogo de hojeprópria história?
O cinema é um bom caminho, porque move os imaginários e atua diretamente no inconsciente coletivo, mesmo quando mesclado a ficção, afinal, só a arte para nos fazer suportar o peso de um passado que ainda não passou, não é mesmo?
Só que nesse sentido, o de usar a arte como lenitivo para as dores históricas, o novo filme de Viola Davis, inevitavelmente, falhou.
Porque não há competência artística que dê conta de aliviar os séculos de sofrimento e exploração da existência negra. Tampouco existem recursos cinematográficos avançados o bastante que possam suavizar o ódio e desprezo que o mundo ainda direciona para nós, mulheres negras.
Mas ainda assim o filme é necessário. E traz a coragem que só os negros norte-americanos conseguem ter ao abordar as dores históricas. Na verdade, essa foi a carta na manga que os salvouaposta para o jogo de hojealgum nível, a consciência racial fundamental na formação do orgulho preto. E isso implica na autocrítica e no reconhecimento do hospedeiro do opressor que háaposta para o jogo de hojenós.
Com essa coragem “A Mulher Rei” (The Woman King) tocaaposta para o jogo de hojeferidas que, principalmente no Brasil, ninguém está disposto a sequer admitir que elas existem.
Duvida?
Então vejamos:
Temos rodas de conversa sobre masculinidade negra com todo tipo de lamentações, mas nenhuma delas discute, por exemplo, o machismo do homem negro e suas manifestações que se voltam contra eles mesmos. O filme coloca issoaposta para o jogo de hojediscussão.
Colorismo?
Assunto tabu absoluto, ainda! Quem quer discutir o que é ser pardo (light skin/bi-racial/mixed) e as vantagens contidas nessa condição racial? O Brasil não, mas o filme, sim.
E vamos falar sobre o quanto a ganância e a soberba do colonizador impregnou na alma de boa parte dos colonizados e destruiu as relações intrarraciais da negritude? Vamos falar de negros que venderam outros negros (os nossos) porque sucumbiram a sedução do dinheiro e da ambição desmedida? Vamos falar do auto-ódio que impede a negritude de viver, de fato, o real significado de coletividade e ancestralidade? O Brasil não quer, já o filme não foge do tema. A rivalidade entre a negritude existe e é a principal força contrária da luta contra o racismo, pelo menos no Brasil.
Por aqui o comportamento do colonizador está impregnado na alma negra. Sergio Camargo e Fernando Holiday é apenas a ponta de um iceberg que Paulo Freire descreveu muito bem no conceito de subpressão. Talvez por isso o Brasil seja um dos focos da publicidade desse filme. Será?
O fato é que o Reino Africano de Dahomey existiu e é pano de fundo para o satisfatório roteiro de Dana Stevens, que dá o passe perfeito para a competente direção de Gina Prince-Bythewood (The Old Guard).
As guerreiras Agojie (ou Ahosi) também conhecidas como “Amazonas do Daomé” compunham o exército feminino de defesa do Reino do Daomé, onde hoje fica o Benin, sendo as mulheres mais temidasaposta para o jogo de hojetodo o continente Africano. Não é a primeira vez que elas são referenciadas no cinema. O clássico da Marvel, Pantera Negra, é a adaptação mais atual do exército de mulheres guerreiras que chegaram a um contingente de cerca de 6000 guerreiras (mais ou menos um terço de todo o exército do Daomé), que combateram arduamente a perversidade de homens europeus e africanos para proteger o reino e libertar cativos a serem vendidos no esquema da escravidão.
Vai ser difícil para o feminismo das mulheres brancas que equivocadamente pleiteiam por uma igualdadeaposta para o jogo de hojedetrimento da equidade, compreender a complexidade das relações entre homens e mulheres que o filme sugere e que está muito mais pautada no respeito e no reconhecimento das forças opostas do que na competição entre sexo frágil e macho alfa.
Não é novidade ver Viola Davis brilhando nas telas da sétima arte. Como a guerreira Nanisca, líder das Agojie, não foi diferente. Sustentar as emoções só com o olhar não é coisa de atriz mediana. É coisa de gigante. E todos sabemos que Davis é gigante, dentro e fora das grandes telas.
Mas sempre há espaço para outros gigantes e aí que a grandiosidade de Viola se confirma. Grande é quem consegue confiar tantoaposta para o jogo de hojesi que não teme ou menospreza a força do outro. Ou da outra no caso. Daí temos o elemento surpresa que ficou por conta das atuações impecáveis de Lashana Lynch (perfeita como a Izogie), Sheila Atim como Amenza e, a Thuso Mbedu como a linda e destemida Nawi. A maior beleza do filme é a reafirmação de que o amor fraternal fortalece e que quando verdadeiramente juntos, somos realmente mais fortes.
O filme é um importante resgate histórico pelas mãos de quem tem propriedade para tal. E merece ser visto e discutido nas nuances mais óbvias e nas mais complexas que o roteiro sugere. É um bom antídoto contra a manifestação da “identidade vitimada” trazida pela sempre presente bell hooks, porque evoca a força da mulher negra. Mas convenhamos, é hora de nos darmos o direito de aposentar as armas e deixar o mundo entender que nossa força está também na doçura e na capacidade de amar e ser amada. É hora de buscar novos caminhos e criar condições para receber a nutrição emocional que o mundo continua nos negando. Esse direito de apenas existir na mais genuína simplicidade humana, longe da aura da heroína salvadora ou da provedora mãe negra, aquela que só é importante enquanto satisfaz as necessidades alheias.
Também é perigoso as narrativas que reforçam a negação da nossa sensualidade como estratégia de se esquivar da objetificação dos nossos corpos. Nosso poder está na manifestação do erótico que háaposta para o jogo de hojenós, como bem disse Audre Lorde.
Não podemos aceitar como sina o que o mundo racista e machista nos nega. Se não nos colocarmos nesse lugar, estaremos para sempre na dianteira das lutas, mais quem cuida de quem sempre foi obrigada a cuidar?