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Em Salvador, coletivos buscam fomentar a cultura criada pela população LGBTQIA+ negra e latinaernildo júnior farias pixbetNova York e apontam quais barreiras ainda precisam ser superadas
14 jun 2022 - 13h51
(atualizadoernildo júnior farias pixbet15/6/2022 às 14h52)
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Travesti é fotografadaernildo júnior farias pixbetuma Casa da cultura ballroom
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Foto: Divulgação/Chantal Regnault / Alma Preta

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"A cultura ballroom é o inverso de tudo o que a nossa sociedade é: misógina, transfóbica, racista e podre". É assim que Pietra Fellipa, performer e criadora do coletivo 'House of Astra', define o movimento criado pela população LGBTQIA+ negra e latinaernildo júnior farias pixbetNova York, considerada um dos principais espaços de política e acolhimento de corpos historicamente marginalizados na sociedade, como travestis, pessoas trans, gays e lésbicas.

Criadaernildo júnior farias pixbetmeados dos anos 70, nos Estados Unidos, as 'ballrooms' eram bailes voltados para a população LGBTQIA+, negra e latina que se expressavam através de performances, intervenções artísticas, desfiles e danças. Com a explosão de casos do HIV/Aids por volta de 1980, as comunidades também passaram a abrigar pessoas que viam nesses espaços um refúgio para as violências sociais.

O movimento teve como percussora a drag queen e travesti negra, Crystal Labeija, que passou a fazer protestos contra os padrões racistas e transfóbicos dos concursos de beleza, que excluiam corpos negros, travesti e trans. A partir disso, Crystal criou a 'House of Labeija' (Casa da Labeija,ernildo júnior farias pixbettradução livre), e deu início às primeiras 'ballrooms'.

"A sociedade coloca pessoas pretasernildo júnior farias pixbetlugares de não pertencimento, de não bonitas, de não amadas... Pessoas trans também são colocadas nesse lugar e a ballroom vem para acolher essas pessoas, não só a população LGBTQIA+, mas também pessoas que não são vistas como possibilidade de estar na sociedade", comenta Pietra Fellipa, uma das pioneiras na formação de um coletivo 'ballroom'ernildo júnior farias pixbetSalvador.

Na capital baiana, o movimento passou a ganhar forçaernildo júnior farias pixbet2019, quando coletivos se reuniramernildo júnior farias pixbetbusca de difundir e resgatar a cultura que faz parte da luta política da comunidade LGBTQIA+.

A performer e dançarina Pietra Fellipa foi uma das primeiras a formar um coletivoernildo júnior farias pixbetSalvador, a 'House of Padam', atual 'House of Astra'. O coletivo, que originalmente surgiuernildo júnior farias pixbetBrasília, hoje conta com 18 membros também organizadosernildo júnior farias pixbetunidadesernildo júnior farias pixbetManaus e Rio de Janeiro.

Atualmente, Pietra Fellipa ocupa a posição de "Mother" da 'House of Astra', termo que na cultura ballroom representa a figura da mãe das casas, ou seja, a responsável pelas(os) integrantes do coletivo.

"Quando a gente fala de acolhimento, de amor, a gente não tem como falar outra coisa a não ser a mãe. E o termo "mother" vem para suprir todas as necessidades. É a pessoa que abre mão das suas coisas pelos seus filhos e não só dos seus filhos, mas pelas pessoas que ela gosta", diz Pietra.

Na cultura ballroom, as 'Houses' (Casas) eram uma espécie de "aquilombamento", ou seja, espaços físicos liderados por uma "mãe" ou um "pai" que acolhiam e forneciam cuidados para jovens negros e latinos da comunidade LGBTQIA+ que viviamernildo júnior farias pixbetsituação de vulnerabilidade ou haviam sido expulsas(os) de casa.

Com o passar do tempo, as Casas passaram a ganhar novas configurações, sem necessariamente se estabelecer como um espaço físico, como conta o dançarino e um dos fundadores da 'House of Tremme', Lip Moreira.

"As Casas não necessariamente existem enquanto um espaço físico. A galera se une pela vida, pelos interesses, afetos, pelas necessidades de estudo, trabalho, e cada Casa adota os filhos de uma maneira", conta Lip Moreira.

O performer Ian Tremme, "father" da 'House of Tremme' destaca a importância das travestis na criação de um espaço de acolhimento e cultura para a comunidade LGBTQIA+.

"É uma comunidade que surgeernildo júnior farias pixbetconjunto com a comunidade LGBTQIA+ preta e latina, mas o primeiro grito foi das travestis, foi um espaço que elas criaram para poder existir e a gente precisa entender sobre quem é essa comunidade", afirma o artista.

'Todo mundo quer os nossos corpos, mas a gente não tem valor de mercado'

Além de desfiles e performances, a dança é um dos principais elementos da cultura ballroom. Dentre uma variedade de estilos, um dos movimentos mais populares é o 'Vogue', uma dança que surgiu baseada nas capas de revista da marca e teve como um dos pioneiros o performer e dançarino Willi Ninja.

Mesmo com a contribuição mundial da cultura ballroom para o cenário da música pop, da moda e comportamento, integrantes ainda apontam uma desigualdade no reconhecimento e investimento nas produções feitas pela comunidade LGBTQIA+.

"O que a ballroom precisa hoje, no Brasil e no mundo, é de investimento. Todo mundo quer o 'voguing', todo mundo quer grandes modelos que tenham estéticas diferentes, todo mundo quer os nossos corpos, mas a gente nunca tem esse valor de mercado", destaca Lip Moreira.

A insegurança, a falta de políticas de proteção e de investimento na potência cultural LGBTQIA+ também são apontadas como umas das principais barreiras para os coletivosernildo júnior farias pixbetSalvador.

Segundo último relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), Salvador é a capital mais perigosa para a população LGBTQIA+, sendo a Bahia o segundo estado com maior número de assassinatos da comunidade.

Em 2021, a capital baiana registrou 12 mortes de pessoas LGBTQIA+, seguida por São Paulo, com 10 ocorrências. Os números apontam que o risco de uma pessoa LGBT da Bahia ser vítima de morte violenta é 75% maior ao de um paulistano.

Em relação ao perfil das vítimas, o GGB aponta que os homens gays são os mais vitimizados pela violência letal, o que representa 51% das pessoas assassinadas no ano passado. Em seguida estão as travestis e transexuais, com 36,67% dos casos. Quanto à cor das vítimas assassinadas, 28% eram brancas, 25% pardas, 16% pretas e uma pessoa era indígena.

"Ainda existe um estereótipoernildo júnior farias pixbetrelação a gente, principalmente por ser a maioria pessoas trans, travestis, pessoas pretas e estamos sempre nesse lugar, de corpos dissidentes. Somos pessoas que a sociedade chama como pessoas perigosas e que não merecem afeto", diz Pietra Fellipa.

"A gente (mulheres trans) está à frente da movimentação e somos o alvo principal. Somos um colete à prova de balas da nossa própria comunidade", finaliza Pietra.

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Alma Preta
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Fontes de referência

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