jogo de aposta online é crime-'Nesta escola não há machos': LGBTfobia e conservadorismo impedem avanço de diversidade na educação
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"Só pode ser aquele viado. Não levarei este boletim dessa forma para casa. Nesta escola não há machos". Foi o que o pai de um aluno de uma escolajogo de aposta online é crimeBom Princípio, cidade do Vale do Caí, no Rio Grande do Sul, disse ao professor de língua portuguesa Rafael Backes. O xingamento ocorreu por causa do descontentamento com a nota que o filho recebeujogo de aposta online é crimeuma prova.
- - Este é o terceiro episódio da série de reportagem O Brasil também é LGBTQIA+, que retrata a diversidade e as disparidades do País a partir de histórias da comunidade de Norte a Sul. Leia também o primeiro, o segundo, o quarto e o quinto episódio.
Rafael, que é homossexual assumido para a família desde a adolescência, conta que o caso ocorreujogo de aposta online é crime2015. "Pensei inúmeras vezesjogo de aposta online é crimedesistir de lecionar, mas a ajuda de muitos alunos, alunas, amigos, amigas, minha mãe e meu pai fizeram com que eu continuasse a levantar a bandeira pela educação, pois é através dela que conseguiremos melhorar o nosso país e, principalmente, as pessoas”, pondera o professor.
Ainda com histórias como a de Rafael, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro onde há o maior índice de escolas que têm projetos de temática LGBTQIA+. Ainda assim, a taxa de escolas gaúchas que tratam do assuntojogo de aposta online é crimesala de aula caiu, segundo o Observatório Nacional dos Direitos Humano (ObservaDH), plataforma Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), de 37,20%jogo de aposta online é crime2019, para 29,90%,jogo de aposta online é crime2021, último ano com levantamento disponível.
Em Santa Catarina, também houve diminuição. A variação foi de 30,50%,jogo de aposta online é crime2019, para 22,20%,jogo de aposta online é crime2021. O Paraná não havia enviado dadosjogo de aposta online é crimenenhum dos anos, um dos poucos estados sem informações.
Sobre projetos contra a LGBTfobia em escolas, o Terra fez contato com as Secretarias de Educação dos três estados do Sul e com o Ministério da Educação (MEC), mas ainda não obteve retorno.
Para Rafael, é urgente falar sobre questões LGBTQIA+ para "desconstruir essa cultura" de intolerância contra a comunidade. "Nunca sofri nenhuma intolerância por parte de estudantes, mas por parte de equipes diretivas, várias vezes", afirma, ao destacar a origem do preconceito.
Infelizmente, muitas vezes, o preconceito parte de quem deveria ser exemplo. Normalizaram-se discursos de ódio e de aniquilamento de tudo o que se considera como 'desviante' do padrão - Rafael Backes
Enquanto o assunto demora a engatar, outros professores que tentam abordar a temática LGBTQIA+ continuam a ter problemas dentro e fora de sala de aula. Uma intervenção artística com cores do arco-íris, realizada durante um trabalho de final de semestre por uma turma de ensino fundamentaljogo de aposta online é crimeRio Negrinho,jogo de aposta online é crimeSanta Catarina, repercutiu tão negativamente que fez o professor coordenador das atividades mudar de cidade, com medo das ameaças que sofreu.
Os ataques homofóbicos sofridos pelo profissional começaram quando uma foto do trabalho foi parar nas redes sociais. Em 2021, quando o caso ocorreu, o docente de artes atuava havia poucos meses na escola municipal de Rio Negrinho, no Planalto Norte de Santa Catarina.
No projeto, estudantes coloriram uma escadaria do colégio com as cores utilizadas pela população LGBTQIA+. O grupo também colou papéis com palavras como "bissexual" e "gay", referências à população LGBTIQA+. Por fim, o último papel dizia: "Sou humano".
O trabalho sofreu críticas de grupos religiosos, além de deputados e vereadores catarinenses, que acusaram o projeto de doutrinar estudantes para "virarem" LGBTQIA+.
Ao Terra, o professor, que pediu para não terjogo de aposta online é crimeidentidade revelada, disse ainda sentir medo de voltar a abordar assuntos ligados à comunidade LGBTIQA+jogo de aposta online é crimesala de aula, mesmo passados quase três anos do ocorrido. Ele continua lecionando, mas não mais na cidadejogo de aposta online é crimeque o episódio aconteceu.
"Resolvi ir embora, apesar de ter consciência que não fiz nada errado. Todos os ataques sofridos e perseguições diversas me fizeram e fazem mal. Infelizmente, até hoje não abordei a temática (de diversidade) novamente. Sinto muito receio e medo de vivenciar novamente aquele pesadelo. Não descarto abordar novamente a temática, mas é algo que levará muito tempo", relata ele.
O medo irá me acompanhar e confesso, por vezes, me assombrarjogo de aposta online é crimecada escolha pedagógica ou aula que irei planejar - professor catarinense
De acordo com a advogada que o representa, Jéssica Diane Bail, um dos agressores ainda está sendo investigado pelo Ministério Público pelo crime de homofobia. Há, também, uma ação por danos morais que foi proposta contra o investigado.
"As leis penais não darão conta de tudo enquanto ainda formos um dos países que mais viola e mata a população LGBTQIA+. Entendo que a legislação e a criminalização de condutas não serão suficientes, enquanto a sociedadejogo de aposta online é crimegeral não criar consciência e respeito genuíno", disse.
Para o professor da pós-graduaçãojogo de aposta online é crimeDireito da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Centro de Estudos da Constituição, Leandro Franklin Gorsdorf, a sala de aula é um espaço de construção da cidadania e desempenha um papel de incentivo ao respeito a "regras indispensáveis à vidajogo de aposta online é crimecoletividade".
"Por se tratar de um período de formação do sujeito e cidadão, tratar de tais temasjogo de aposta online é crimesala de aula permite a ampliação da discussão sobre o direito a ter direitos, sobre igualdade e diferença e direitos humanos”, explica.
Ele também enxerga nas escolas um espaço de acolhimento e reconhecimento de jovens LGBTQIA+, "permitindo para muitos uma reflexão sobre seu modo de ser e aceitação dajogo de aposta online é crimeidentidade e/ou orientação sexual. Um lugar de exercício da liberdade", completa.
Porém, ele acredita que o enfrentamento à homotransfobiajogo de aposta online é crimesala de aula só será possível se houver uma gestão escolar comprometida e com o envolvimento dos núcleos familiares na discussão. No recorte dos estados do Sul, apesar de existirem políticas públicas para a pauta de identidade de gênero e sexualidade nas escolas, o sentimento de insegurança do professor citado acima é frequente.
O bolsonarismo se alimentajogo de aposta online é crimecriar narrativas que apontam as pessoas LGBTQIA+ como inimigos da família, e professores têm sido o principal alvo deste discurso - Leandro
Em 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) se elegeu presidente da república, 57,39% dos eleitores do Sul o escolheram. "A ação governamental sistemática de desestruturação das políticas de ensino público, a desqualificação e perseguição de professores e professorasjogo de aposta online é crimesala de aula e a privatização dos serviços públicos educacionais. Basta olhar para propostas como o Escola Sem Partido, as escolas cívico-militares, o homescholling (ensino doméstico), a privatização de serviços nas escolas, o Novo Ensino Médio, entre outros... este quadro geral fragiliza o papel de professoresjogo de aposta online é crimesala de aula. Ele desestimula a efetivar práticas pautadas nas temáticas de identidade de gênero e orientação sexual", aponta Leandro.