quero um jogo de perguntas e respostas-'Poderia ter sido eu', diz Elza Soares sobre chacina no Rio
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"A carne mais barata do mercado é a carne negra". Foi cantando o refrão da canção A Carne a plenos pulmões que a cantora Elza Soares desabafou, há cerca de três semanas, sobre o caso dos cinco jovens assassinados por policiais militaresquero um jogo de perguntas e respostasCosta Barros, no Rio de Janeiro. O vídeo da apresentação se espalhou nas redes sociais.
"Até quanto negros serão mortos nesse país?", pergunta ela,quero um jogo de perguntas e respostasentrevista, à BBC Brasil. "Negro é gente. Precisamos de uma vacina contra essa doença incurável chamada racismo", vaticina.
"Se não tivesse tido oportunidade, poderia ser eu no lugar daqueles meninos", acrescenta.
Aos 78 anos, Elza fala do assunto com conhecimento de causa. Nascidaquero um jogo de perguntas e respostasuma favela no subúrbio do Rio de Janeiro, filha de uma lavadeira e de um operário, ela conseguiu contornar o futuro sombrio reservado a quem é,quero um jogo de perguntas e respostassuas palavras, "pobre e negro".
Elza cantou para mudar de vida. Sem dinheiro para alimentar os filhos pequenos, decidiu tentar a sorte no programa de rádio de Ary Barroso. Usando um vestido da mãe vários números acima e remendado por alfinetes, ela arrancou risos da plateia poucos antes de soltar a voz rouca que se tornariaquero um jogo de perguntas e respostasmarca registrada. Barroso lhe perguntou: "De que planeta você veio, minha filha". Elza respondeu: "Do planeta fome, seu Ary".
A denúncia social nunca deixou de estar presente nas letras das canções interpretadas por Elza. É o caso de seu novo disco, Mulher do Fim do Mundo, o primeiro só de inéditas dequero um jogo de perguntas e respostascarreira,quero um jogo de perguntas e respostasque faz referência não só ao racismo, mas também à violência contra as mulheres e à homofobia.
Dequero um jogo de perguntas e respostascasa, no Rio de Janeiro, Elza falou por telefone à BBC Brasil. Confira os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil: Há três semanas, durante apresentação no Rio de Janeiro, a senhora decidiu desabafar sobre o caso dos meninos assassinadosquero um jogo de perguntas e respostasCosta Barros. Por quê?
Elza Soares: Porque sou negra. Porque sou pessoa. Porque sou gente. E negro é gente. Isso não pode mais acontecer. Temos de dar um fim nisso. Precisamos de uma vacina contra essa doença ainda sem cura. Até quando negros serão mortos nesse país?
BBC Brasil: Qual foiquero um jogo de perguntas e respostasreação ao saber da notícia?
Elza: Me vi no lugar daqueles meninos. Se não tivesse tido oportunidades, poderia ser eu ali. Teria morrido do mesmo jeito.
BBC Brasil: No refrão de A Carne, a senhora canta "A carne negra é a carne mais barata do mercado". A carne mais barata do mercado ainda é a carne negra?
Elza: Infelizmente, sim. Tudo para o negro é mais difícil. É um sacrifício diário.
BBC Brasil: Por quê?
Elza: Por causa desse maldito racismo. O Brasil ainda é um país muito racista. Não acho que o preconceito tenha diminuído e nem que vá terminar tão cedo. Mas hoje, graças a Deus, podemos gritar e denunciar. Antes não podíamos nem abrir a boca. A voz dos negros está sendo mais ouvida.
BBC Brasil: O que é ser negro para Elza Soares?
Elza: É ser um vitorioso. Eu sou negra e vitoriosa. Não tive medo e fui à luta. Essa é a minha recomendação a todas as vítimas do racismo. Não fiquem parados. Você tem de ir à luta, tem de correr muito para conseguir o que quer, tem de denunciar.
BBC Brasil: A senhora já sofreu racismo?
Elza: Sim. Nasci negra e pobrequero um jogo de perguntas e respostasuma favela. Quando cheguei ao programa de Ary Barroso, todos riram de mim. Da minha cor. Da minha roupa. Recentemente, me dei conta de que nunca tive uma festa de lançamento na minha ex-gravadora. Já outras cantoras eram tratadas com todas as pompas e circunstâncias. Tenho certeza de que foi racismo. Mas ninguém pôde abafar a minha voz.
BBC Brasil: Muitas das canções que a senhora interpreta têm forte tom de denúncia social. Por quê?
Elza: É uma decisão natural. Tudo o que canto já senti na pele. Fui vítima de racismo, fui vítima de violência doméstica (do casamento tumultuado com Garrincha). É um grito de alerta. É uma denúncia.
BBC Brasil: 'Mulher do fim do Mundo' é seu primeiro disco de inéditas. Por que um disco de inéditas só agora?
Elza: Tudo tem seu tempo. Sinto que só agora chegou o momento.
BBC Brasil: E quem é a "mulher do fim do mundo"?
Elza: Acho que é uma mulher corajosa, que vai à luta e que defende outra mulheres.
BBC Brasil: O que a música representa para a senhora?
Elza: A música é a medicina da alma. A música nos leva a lugares que nunca pensamos ir. Quando estou muito chateada, canto e espanto meus males. A música é meu êxtase. Há quatro meses, perdi meu filho (Gilson, de infecção urinária). Se não fosse pela música, teria morrido também.
BBC Brasil: A senhora tem uma carreira premiada de mais de cinco décadas. Falta alguma coisa para Elza Soares?
Elza: Falta tudo. Estou viva. Quando a gente vive, falta tudo.