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Escola nos tempos da ditadura militar  Foto: Reprodução/Memórias da Ditadura/Via GGN

roleta ganhar-Ensino público 'ruim', 'ranço autoritário' e 'censura' da sociedade: ditadura deixou marcas na educação no Brasil

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Mesmo após quatro décadas do fim do regime, que durou 21 anos, o País ainda convive com heranças desse tempo
Imagem: Reprodução/Memórias da Ditadura/Via GGN
  • Vanessa Ortiz Vanessa Ortiz
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13 mar 2025 - 04h59
(atualizado às 08h51)

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A professora de Geografia Simone Cibele Paron, formada pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), fez os ensinos fundamental e médio durante a ditadura militar. Naquela época, havia aulas de Organização Social e Política do Brasil (OSPB), matéria que tinha como objetivo exaltar o nacionalismo e o civismo.

Esta reportagem faz parte da série 'Heranças da Ditadura', que fala sobre as marcas deixadas pelo regime militar nas famílias, na educação, na segurança pública e na política 40 anos depois do fim da repressão no Brasil

Ela lembra que, um dia, recebeu uma bronca da professora por questionar o que era ensinado. A aularoleta ganharquestão era sobre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. 

“O Brasil era caracterizado comoroleta ganhardesenvolvimento. E, um dia, questionei minha professora: ‘De acordo com aquilo que você ensinou, o Brasil é subdesenvolvido’. E ela brigou comigo, me colocou para fora da sala, que eu não podia falar aquilo. Depois eu entendi que eu não podia ter dito aquilo. O Brasil não era subdesenvolvido, o Brasil estavaroleta ganhardesenvolvimento. Então, se pintava um Brasil que, na verdade, não existia”, conta. 

Essa lembrança de Simone é um exemplo do como era a escola durante o regime militar. Livros censurados, professores vigiados e com uma formação superficial. Os alunos? Impedidos de questionar e formar senso crítico. Toda uma geração foi desestimulada; geração que formou outras. 

Mesmo após quatro décadas do fim do período ditatorial, o País ainda convive com heranças desse tempo, e a educação, assim como várias outras áreas, carrega inúmeras marcas que custam desaparecer.  

Senta que lá vem história…

Antes da ditadura, o Brasil crescia na área da educação, com mais incentivo e acesso. Os governos do presidente Getúlio Vargas possibilitaram que o ensino, antes elitizado, passasse a ser gratuito e universal --a maioria da população ainda fosse analfabeta. 

Cada vez mais escolas foram sendo criadasroleta ganharcumprimento às leis que obrigavam União, Estados e municípios a investirem no setor. A partir do Movimento Nacional-desenvolvimentismo (ND),roleta ganharque o País deixou de ser agrário para se tornar industrializado, foi necessário que a população tivesse acesso aos estudos para poder se qualificar. 

O sociólogo Florestan Fernandesroleta ganharato de rua,roleta ganhar1961, a favor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
O sociólogo Florestan Fernandesroleta ganharato de rua,roleta ganhar1961, a favor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
Foto: Arquivo/Memórias da Ditadura

“Tem que ter educação e um êxodo rural. Então, as pessoas estavam deixando o campo, indo para a cidade, o que tornava a construção dessa máquina de educação uma coisa mais fácil”, explica o historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Luiz de Souza. 

Foto: Domínio público / Wikimedia Commons

O regime ditatorial é instaurado cerca de dez anos após o presidente que ficou conhecido como “pai dos pobres” tirar a própria vida,roleta ganhar24 de agosto de 1954. Ao longo dos 21 anos seguintes, começou o desmonteroleta ganharvárias áreas: política, social, econômica, cultural e, também, educacional. 

A repressão atingiu a todos, até mesmo quem concordava com o regime. “A questão da escola e do currículo vai se tornando cada vez mais importante como uma máquina de dominação ideológica mesmo. O currículo passa a ser muito disputado”, diz o historiador.

E continua: “Essa escola está chegandoroleta ganharmais pessoas. Se essa escola está chegandoroleta ganharmais pessoas, esse currículo que é ensinado, como é ensinado, por que e o quanto, é algo que é disputado desde o começo dessa popularização da escola até hojeroleta ganhardia. Então é interesse social. Interesse público, privado, individual, familiar e religioso. O currículo é uma coisa muito séria porque impacta por gerações.”

Souza pondera que as pessoas que foram formadas durante a ditadura formaram outras, que formaram outras. O que é construído por um currículo leva muito para ser desconstruído. Ele chama isso de “ranço autoritário”, que é a ideia da instituição engessada,roleta ganharque o aluno não pode falar e precisa respeitar a hierarquia. 

Naquela época, o objetivo era formar mão de obra barata e não uma população com consciência crítica. O povo precisava ser silencioso para que aceitasse as decisões do regime sem questionar. 

O controle estava por todas as partes. O governo controlava como as pessoas viam o mundo, por meio da educação e censura nas mídias e escolas.

Foto da 'Sexta-feira Sangrenta', repressão a protesto estudantilroleta ganhar21/06/1968, no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar. Conflito deixou mais de 20 mortos (segundo o Centro de Documentação de História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas), além de feridos e mais de mil presos
Foto da 'Sexta-feira Sangrenta', repressão a protesto estudantilroleta ganhar21/06/1968, no Rio de Janeiro, durante a ditadura militar. Conflito deixou mais de 20 mortos (segundo o Centro de Documentação de História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas), além de feridos e mais de mil presos
Foto: Evandro Teixeira/IMS/Memórias da Ditadura

Cortes de investimento durante o regime militar

Duas importantes mudanças foram promovidas na área da educação durante o período ditatorial, com a Constituição de 1967. Uma delas desobrigou a União a investir ao menos 12% do Produto Interno Bruto (PIB) e os Estados e municípios de alocarem 20% de seu orçamento no setor. Ambos os dispositivos estavam previstos na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), aprovadaroleta ganhar1961. 

O investimento orçamentário na educação foi regredindo progressivamente, passando de  7,60%,roleta ganhar1970, para 4,31%,roleta ganhar1975. Em 1978, chegou a 5,20%, de acordo com o citado no artigo O legado educacional do regime militar, do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Dermerval Saviani. 

Assim, livre da imposição constitucional, o investimentoroleta ganhareducação por parte do Ministério da Educação (MEC) chegou a aproximadamente um terço do mínimo fixado pela Constituição de 1946 e confirmado pela LDB de 1961. 

Ainda assim, havia vagas para a população, principalmente das classes mais baixas, mas o investimento na área não atendia à demanda. O que contribuiu para o pensamento de que a escola pública tem um ensino inferior ao do que é ofertado na rede privada. 

“A educação passa a ser fonte de lucro, assim como a saúde. Então, eu descaracterizo a educação pública completamente. Para, justamente, atender a essa demanda criada, na verdade, porque eu deixei a qualidade da escola pública muito ruim, eu crio uma demanda e crio escolas particulares, para que o meu filho não tenha que ser obrigado a estudarroleta ganharuma escola pública de baixa qualidade”, aponta Simone. 

O que vai ao encontro com a segunda alteração feita pela ditadura: abrir os dispositivos educacionais à iniciativa privada, uma realidade vista até hoje. 

“Todo esse ‘boom’ que a gente tem de escolas particulares, de universidades particulares, essa desobrigação do Estado é mais do que um lavar as mãos, é mais que uma terceirização da responsabilidade. É abrir para o capital estrangeiro e privado, que é uma das características mais importantes da ditadura militar. Um alinhamento quase que 100% com interesses norte-americanos, no começo desse período, para grupos muito poderosos ligados à educação entrar na escola”, destaca. 

Notícia de quando a Educação Moral e Cívica passou a ser obrigatória no regime
Notícia de quando a Educação Moral e Cívica passou a ser obrigatória no regime
Foto: Divulgação/Estadão

O artigo Influência das Agências Internacionais no Brasil: os acordos MEC/USAID no contexto da ditadura militar de 1964, do sociólogo Alex Ricardo Bombarda, aponta que foram firmados uma série de acordos entre o MEC e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional 2 (USAID), que tinha como objetivo financiar políticas e mudanças na área da educação. Os contratos eram articulados por empresários ligados ao Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES).

Além do financiamento dos colegas norte-americanos, esses acordos também abrangiam espectros do ensino primário, médio e superior, treinamento de professores, bem como a produção e veiculação de livros didáticos. 

“Foi tirado História, Geografia, Sociologia, Filosofia, instituíram-se uma disciplina, de estudos sociais, que não era nenhuma coisa nem outra. Todo material era censurado. Isso se estendeu, de alguma forma, até final da década de 1980, mesmo já com o fim do regime militar. E o que a gente tem? Professores que não foram bem formados e uma geração, duas, até três gerações, que não tiveram essa oportunidade de pensar criticamente, de ter instrumentos, ferramentas para você olhar o mundo e fazer uma interpretação do mundo”, destaca a professora de história Solange Paron. 

O historiador Osvaldo Luiz de Souza complementa dizendo que esse momento reflete o que é a escola até os dias atuais, de um embate entre público e privado, porque quanto mais o ensino público é sucateado, mais o privado se beneficia. “Isso é uma das heranças mais marcantes da ditadura militar. É mais uma faceta disso.”

Censuraroleta ganharsala de aula

Além das condições precárias de trabalho e um déficit salarial, os professores foram impactados também na forma de ensinar. A escola não poderia ser um espaço de livre-arbítrio, de criticidade. As instituições eram muito vigiadas, pois o método de censura da época era bem efetivo. 

Foi trazido aos professores o modelo militar de ‘sim’, ‘não’ e ‘sim, senhor’, bem hierárquico, que foi replicado no currículo e na prática pedagógica. Nem todos os professores concordavam com isso, mas precisavam fazê-lo, pois havia uma atmosfera de perseguição e de não criticidade ao País ou ao governo. 

Escola nos tempos da ditadura militar
Escola nos tempos da ditadura militar
Foto: Reprodução/Memórias da Ditadura/Via GGN

Souza, que também dá aulas, diz que, até hoje, a classe é vigiada não só pelos órgãos que impõem uma certa repressão, como também pela própria sociedade. “O professor quando fala na sala de aula, o pai fica sabendo e cobra. Então, não tem como mentir, não tem como ser persuasivo. A coisa corre, você fala, e criança fala, adolescente fala.”

Isso também gerou um questionamento da sociedade sobre o que o professor ensina ou fala quando o que é repassado não está “do agrado”. Imagina ir a um médico, e ele nos diagnostica com uma certa doença, a partir de exames e uma investigação minuciosa. Mas discordamos do que ele diz e questionamos o tratamento que o profissional recomenda.

‘Ranço autoritário’

O plano militar foi arquitetado e construído para que o povo aceitasse o governo. Para isso, o regime gerou na população um grande medo da destruição de instituições, da família e uma falsa ameaça comunista, que transformaria o País. E esse discurso acabou “comprado” pelo povo e amplamente incitado por instituições privadas. 

Esse tempo traz um certo saudosismo até hoje. No âmbito educacional, por exemplo, há quem diga que “aquele tempo que era bom”, porque o professor entrava na sala, e todo mundo levantava, ou então porque a palmatória “corria solta” se o aluno não fizesse a lição. 

“Tem toda uma memória ‘desafetiva’ ou ‘ranço autoritário’ que a gente lida até hoje. E tem muitos professores que foram criados nessa lógica e ainda reproduzem essa lógica. São 40 anos do fim do regime. Tem professor ainda que acha que, quando entra na sala, todos os alunos têm que levantar e manter o silêncio absoluto. Nesse ponto, o regime militar fincou raízes muito profundas na educação brasileira, que a gente tem dificuldade de quebrar”, reforça o historiador.  

Historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Luiz de Souza
Historiador formado pela Universidade de São Paulo (USP) Osvaldo Luiz de Souza
Foto: Vanessa Ortiz/Terra

Doutrinação nas instituições e Escola Sem Partido

Esse amplo questionamento da sociedaderoleta ganharrelação ao que é ou não ensinado nas escolas e universidades é uma herança dessa época. Um exemplo disso é o movimento Escola Sem Partido, criadoroleta ganhar2004 e mantido até 2019. Ele foi encabeçado pelo advogado Miguel Nagib, com apoio social, e pregava que, nas instituições de ensino público e particular, há um “grau de contaminação político-ideológica”,roleta ganharque há “doutrinação” e “instrumentalização do ensino para fins ideológicos, políticos e partidários”. 

No entanto, a essência da escola é o oposto disso, sendo um espaço que dá a oportunidade para alunos formarem o pensamento crítico e, inclusive, debaterem com o professor. O historiador salienta que essa discussão sobre a “lenda” da doutrinação das escolas é fomentada tanto por quem propaga fake news e, obviamente, se beneficia disso, como também por quem é leigo, aprendeu dentro desse ensino autoritário e rejeita essa escola plural. 

Quando há estímulo para o debate dentro do ensino, isso é entendido como algo que deixa os “princípios” da família de lado . Apesar do currículo escolar ser muito debatido, ele é norteado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um dispositivo criado e discutido socialmente, com pedagogos, sociólogos e antropólogos, que chegam a um consensoroleta ganharrelação ao que estároleta ganhardéficit na educação. 

“Quando você abre para a opinião de alunos, vai longe. Você vai construindo coisas novas. A ideia de construir e não só reproduzir incomoda. [...] Isso de doutrinação na escola não existe. O Brasil tem uma legislação com relação às escolas que é muito bem feita. Todas as discussões acontecem mesmo de uma maneira muito social e aberta para saber como é o currículo brasileiro, que é muito avançado, mais do queroleta ganharvários lugares do mundo. A gente vai colocar uma história da África. A gente vai colocar um pouco sobre a questão feminina. Sobre direitos. Sobre igualdade de gênero. A gente tem que abordar isso aqui. Currículo é responsabilidade”, afirma o historiador. 

Protestoroleta ganharsessão da Câmara contra o projeto de lei conhecido como Escola Sem Partido,roleta ganhar2018
Protestoroleta ganharsessão da Câmara contra o projeto de lei conhecido como Escola Sem Partido,roleta ganhar2018
Foto: Bruno Rocha / Fotoarena / Estadão

Tomar distância para enxergar o todo

Por fim, Souza pontua que é importante “tomar distância” para enxergar o todo, ter um panorama. O professor explica que, na história, por exemplo, não se analisa a narrativa. Existe metodologia, documentação e dados que ajudam a construir o que é estudado. “Quanto mais você se distancia, mais você tem ciência e menos memória”, afirma. 

Isso porque, para algumas pessoas que viveram na época da ditadura no Brasil, o período pode não ter sido tortuoso como foi para tantos outros. Seja porque conheceram um amor, ou por não terem sofrido diretamente com as represálias, ou por terem “feito a vida” durante essa fase, o chamado casuísmo. Mas isso não quer dizer que, para a população e o País como um todo, aquilo foi bom. 

“Isso não quer dizer que o Brasil ia bem. Isso não quer dizer que a economia estava boa. Quando a gente vem com uma informação, mais do que isso, com um dado histórico conflitante, gera um embateroleta ganharcasa [para os alunos].”

Edição e supervisão: Fabiana Maranhão

Fonte: Redação Terra
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