Script = https://s1.trrsf.com/update-1736170509/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE
Ilda Brandle foi sobrevivente da ditadura militar  Foto: Vanessa Ortiz/Terra

vale sportsbet-‘Você nega enquanto o corpo te permitir negar’, diz sobrevivente da ditadura que foi torturada com choques e ficou infértil

vale sportsbet

Ilda Brandle está nas memórias da ditadura e passou por maus bocados durante os anos de chumbo
Imagem: Vanessa Ortiz/Terra
  • Vanessa Ortiz Vanessa Ortiz
Compartilhar
8 jan 2025 - 04h59

vale sportsbet de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar

 Quem vê Ilda Brandle Siegl nem imagina pelo que ela já passou na vida. Hoje, com 80 anos, cabelos brancos e já com o corpo um pouco mais frágil pela idade, nem passa pela cabeça que ela foi torturada e presa há 55 anos pela ditadura militar. Levou choques por todo o corpo e ficou impossibilitada de ter filhos biológicos. 

  • Esta é a 2ª reportagem da série de três episódios com personagens que viveram a ditadura militar; leia também a história de Orlando

Durante muitos anos, ela foi diretora da Escola Estadual Armando Belegard,vale sportsbetBertioga, no litoral paulista. Muitos dos alunos que passaram por lá, entre os anos 2000 e 2010, sequer sabiam que aquela mulher alta e de olhos claros --que até parecem uma bolinha de gude-- lutou pelo fim dos anos mais sangrentos e repressivos que o Brasil teve –-inclusive esta repórter que vos fala. 

Depois de superar e seguir a vida, virou assistente social, depois professora de educação artística. Casou, adotou duas filhas, Gabriela e Rafaela, e por fim, foi diretora de educação. 

Quando a reportagem entrouvale sportsbetcontato com a filha da diretora aposentada, Gabriela Brandle, a resposta foi: “Posso falar com ela, sim, ver como ela se sente”. Por sorte, ela topou falar com o Terra e contar os momentos tortuosos dos anos de chumbo. 

Era 29 de outubro de 1969 quando trabalhadores da fábrica de máquinas de escrever Remington Rand, na extinta Avenida das Bandeiras e atual Avenida Brasil, entre Deodoro e Irajá, no Rio de Janeiro, organizavam uma greve. O objetivo? O fim da ditadura, instaurada há pouco mais de cinco anos. Militares do Exército chegaram até o local, à paisana. Alguns dos funcionários foram chamados para a controladoria. Quando entraram no setor, foram presos, incluindo Ilda.

Da esquerda para a direita: a neta Kailane, a filha Gabriela, a neta mais nova, Mariana, e Ilda
Da esquerda para a direita: a neta Kailane, a filha Gabriela, a neta mais nova, Mariana, e Ilda
Foto: Vanessa Ortiz/Arquivo pessoal

“Me chamaram lá e, de repente, eu estava presa. Sem mais, nem menos”, relata a aposentada enquanto bebe seu café na sala do apartamento onde mora no bairro José Menino, Santos (SP), com a filha mais velha, a neta, de 4 anos, a irmã e o genro. 

A conversa de mais de uma horavale sportsbetque Ilda conta avale sportsbethistória,vale sportsbetuma segunda-feira de dezembro, é perfumada pelo cheiro de biscoito amanteigado de gengibre, daqueles que remetem à boas lembranças de Natal, o que contrasta com o assunto pesado tratado. 

Uma noite inteira de tortura

No livro Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva e que deu origem ao filme protagonizado por Fernanda Torres --vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama pela interpretação da protagonista Eunice Paiva--, um trecho da página 18 diz: “A memória é uma mágica não desvendada. Um truque da vida. Uma memória não se acumula sobre outra, mas ao lado. A memória recente não é resgatada antes da milésima. Elas se embaralham.”

E é verdade. Ilda passou por 80 primaveras, acumulou muitas memórias, no entanto, algumas delas já se perderam no tempo. Ou então, se misturaram às recentes. Durante nossa conversa, ela precisou de alguns momentos para se lembrar de tais questões. “Isso me incomoda. Ficar velha está me incomodando por conta disso. De perder algumas coisinhas assim”, frisa.

Embora tenha encontrado dificuldades para relembrar algumas situações, jamais esqueceu o que passou nos porões do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), localizado na Ilha das Flores, na Baía da Guanabara. O local foi um dos principais centros de tortura durante o período de ditadura. 

Trecho do processovale sportsbetque a Justiça Militar descreve a organização Ação Popular (AP)
Trecho do processovale sportsbetque a Justiça Militar descreve a organização Ação Popular (AP)
Foto: Reprodução/Arquivo/Brasil Nunca Mais

Aquele 29 de outubro de 1969, uma quarta-feira, marca uma série de torturas que ela passaria: foi despida, espancada e levou choque por todo o corpo. Na época, era uma jovem militante de 25 anos, integrante do Ação Popular (AP), iniciado dentro da Juventude Universitária Católica (JUC) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Embora fosse de São Paulo, foi mandada para o Guanabara para integrar o Movimento Operário. 

Segundo o processo ao qual respondeu, ela “desenvolveu trabalhos de doutrinamento político-ideológico na indústria da Guanabara segundo a atual orientação da Direção Nacional da Ação Popular”. Lá, ela distribuía panfletos e o jornal O Martelo, que informava sobre as movimentações da AP. 

Recorte de um jornal clandestino apreendido por militares
Recorte de um jornal clandestino apreendido por militares
Foto: Reprodução/Arquivo/Brasil Nunca Mais

Em um trecho de seu depoimento, foi retratada a seguinte situação: “O que mais influiu no ânimo da depoente foi o fato de ser mostrado a ela um rapaz, que hoje sabe ser Flávio de Melo e que se encontrava arroxeado no braço e com o rosto inchado, e disseram à depoente que, se não concordassevale sportsbetcolaborar, ficaria igual a ele”. 

Naquela situação, disseram que a tortura era ‘científica’ e não deixava marcas. “Foi espancada e despiram a depoente e provocaram choques elétricos; que, enquanto um aplicava choque, o Dr. Mimoso abanava a depoente para que a mesma não desmaiasse; que havia pausa a critério médico; que aplicaram choques nos seios, no um­bigo e na parte interna das coxas; que, após, foi jogada numa cadeira, já que não podia ficar de pé”. 

Os episódios de violência física duraram uma noite inteira. “Foram muitas horas, na minha opinião”. 

As agressões tinham como finalidade descobrir informações sobre as organizações das quais as vítimas integravam para assim combatê-las e represar. “Eles queriam saber nomes, quem eram os chefes, quem estava conduzindo, o que a gente queria, o que a gente não queria. Então eles queriam saber, quer dizer, basicamente, eles [torturadores] achavam que éramos ligados com o pessoal de Caparaó”, relata.  

Ilda Brandle foi sobrevivente da ditadura militar
Ilda Brandle foi sobrevivente da ditadura militar
Foto: Vanessa Ortiz/Terra

A Guerrilha de Caparaó ocorreu entre 1966 e 1967, e teve como cenário o Parque Nacional do Caparaó, localizado na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo. Foi um movimento de resistência armada contra a ditadura. Ilda nunca teve qualquer relação com isso, embora integrasse uma organização clandestina. 

Ao ser perguntada se contou algo sobre a AP (Ação Popular), prontamente responde: “A gente sempre nega, né? Você nega enquanto você conseguir, enquanto teu corpo te permitir negar”. Quando as agressões físicas acabaram, já era de dia. 

“Os choques elétricos destruíram minha possibilidade de ter filhos. Suponho que eu não fui a única que deixou de ter filho por conta disso”, relata ela antes de ficar um período calada refletindo sobre o que havia acabado de dizer.

Prisão e culpa

Mariana --codinome que usava nessa época e, por coincidência, nome da neta mais nova-- foi presa “no meio daquela agitação toda” do sequestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick. O agente foi capturado por membros do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e da Ação Libertadora Nacional (ALN), organizações da luta armada contra o regime,vale sportsbet5 de setembro daquele ano. 

Ilda permaneceu na cadeia de Ilha das Flores por cerca de dois meses. Ela relatava que estar no reduto da Marinha era como estar detidavale sportsbetum navio. “Você estar presa no meio de um bando de homens… Tem um certo desconforto”. Além do que, sem mais e nem menos, os agentes apareciam para fazer mais algumas perguntinhas, “que tinham esquecido antes”, e manter a pressão. 

Parte do processovale sportsbetque Ilda é mencionada
Parte do processovale sportsbetque Ilda é mencionada
Foto: Reprodução/Arquivo/Brasil Nunca Mais

Ilda foi acusada de “reorganizar ou tentar reorganizar de fato ou de direito, ainda que sob falso nome ou forma simulada, partido político ou associação” previsto no artigo 43 do Decreto-Lei nº 898, de 29 de Setembro de 1969. 

Depois, a encaminharam para o Presídio Feminino de Bangu, atualmente chamado de Instituto Penal Santo Expedito, onde permaneceu por quase dois anos, entre aguardar o julgamento e a sentença de oito meses de prisão. O primeiro sentimento após ser solta não foi liberdade, mas sim, culpa. 

“Eu achava que tinha feito algo que ia prejudicar as pessoas que lutavam comigo, que tinham os mesmos ideais que eu. Tinham normas muito rígidas no partido político. Achava que, talvez, tivesse feito alguma coisa errada e que chamou atenção [dos militares] para mim. Agora, você imagina: uma pessoa assim, do meu tamaninho, moreninha que nem eu, trabalhando de operária, não chama atenção”, disse, ironicamente. 

Também existia a culpa de ter feito o pai, a mãe e a irmã sofrerem. Antes de ser presa, durante o período da prisão, e depois de já estarvale sportsbetcasa, no Alto de Santana, os militares colocavam vigias de propósito para amedrontarvale sportsbetfamília. Nas conversas por telefone, só era permitido falar amenidades, para que ninguém sofresse nenhuma represália. 

“Sem a menor necessidade. Um negócio ostensivo, me incomodou durante muito tempo”, declara.

Ela voltou para São Paulo, continuou militandovale sportsbetpartido político, porém, somente próximo aos que eram legalizados, como o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), afinal, o que a levou para a militância foi a vontade de lutar por justiça social. Também nesse período, foi presa algumas outras vezes por pichar na rua. “Nada assim, grave”, brinca. 

Anistia e Diretas Já

Quase dez anos depois,vale sportsbet3 de outubro de 1979, Ilda foi anistiada. Quem governava nesta época era o militar João Figueiredo, o último do regime entre 1979 e 1985, presidente responsável pela abertura política, permitindo que o País deixasse de ser bipartidário e tivesse cinco partidos. 

Ilda conseguiu ser anistiadavale sportsbet3 de outubro de 1979
Ilda conseguiu ser anistiadavale sportsbet3 de outubro de 1979
Foto: Reprodução/Arquivo/Brasil Nunca Mais

Com a Lei da Anistia, de 28 de agosto de 1979, foi permitido que exilados e perseguidos políticos voltassem ao Brasil, os presos fossem soltos e tivessem seus processos anulados. Tambémvale sportsbetseu governo foi revogado o Ato Institucional número 5, o AI-5 --que marcou o período de chumbo da ditadura e permitia que a suspensão dos direitos políticos de qualquer cidadão que fosse opositor, além de dar carta branca para que os militares partissem para a repressão e a tortura. 

A volta dos perseguidos políticos também trouxe força ao movimento 'Diretas Já'. Em 1984, houve ainda a mobilização para a aprovação da emenda do deputado Dante de Oliveira, que pedia por uma eleição com voto popular, mas não teve o efeito esperado no Congresso Nacional, quevale sportsbet25 de abril, foi derrotada faltando 22 votos para avale sportsbetaprovação. 

Três meses depois, a Frente Liberal fez um acordo com o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) no qual indicou o senador José Sarney candidato a vice-presidente na chapa de Tancredo Neves (PMDB) à Presidência da República.

Os militares foram deixar o poder sóvale sportsbet1985. Em outra eleição indireta, Tancredo Neves acabou eleito. Porém, teve problemas de saúde na véspera da posse e não conseguiu assumir. Sarney foi quem ficou no comando durante o período. 

“Para mim, foi glorioso. A eleição do Tancredo foi uma coisa maravilhosa, e de várias outras pessoas, como Mário Covas para prefeito de São Paulo [entre 1983–1985], O secretário de transporte dele, Getúlio Hanashiro, quando eu estava na faculdade, a gente fez algumas coisas juntos. Eu não tinha coragem naquele tempo de fazer grandes coisas, mas um pouquinho eu fazia. A gente era do mesmo diretório central da PUC”, relembra. 

Nunca se sentiu muito livre

A sensação de liberdade plena nunca a alcançou. Mesmo depois de ser anistiada, viver o processo do voto para eleger um candidato e recebido uma indenização por danos morais pela violência –-a vitória judicial só aconteceu durante a pandemia--, Ilda nunca sentiu que de fato era livre. 

“Eu sempre fui muito crítica, né? Um troço que me decepcionou assim horrivelmente foi a situação do [Michel] Temer, da traição que eles fizeram pra Dilma [Rousseff]. Pensei: ‘Pô, os caras não mudaram nada’. Ainda faltam bastante coisas para consertar aqui”, aponta. 

Muito embora ainda exista esse sentimento, ela conseguiu retomarvale sportsbetvida. Prestou concurso no Estado para lecionar como educadora artística. Casou com um amigo de infância, o Milton, e ambos adotaram as meninas. Depois de se mudar para o litoral, passou de professora para diretora. Hoje, tem uma família linda e completa, com quatro netos. 

“Foi quase uma vida nova. Eu fico pensando, nossa, o que eu fiz para merecer tanto assim?”, questiona. Quando digo que tenho certeza que ela fez muitas coisas boas durante toda a vida, ela responde: “Eu sempre tento, sempre tentei fazer o melhor.”

Por fim, ela espera que com a temática de Ainda Estou Aqui --que relata os momentos da família Paiva após o desaparecimento e assassinato do ex-deputado Rubens Paiva,vale sportsbet1971 –, os jovens estejam mais conscientes. 

Fonte: Redação Terra

Fontes de referência

  1. galera bet força
  2. tudo sobre o betano
  3. jogos casino online las vegas

    1. TAGS
PUBLICIDADE