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betway saque minimo-Crise climática já condena uma geração inteira a nascer e viver sob condições de calor sem precedentes

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Mesmo num cenário otimista quanto às metas do Acordo de Paris, uma geração inteira ainda terá de viver sob extremos climáticos sem precedentes e fazendo mitigações retroativas dos gases de efeito estufa que emitimos hoje
15 jan 2025 - 09h04
(atualizado às 10h40)
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No anobetway saque minimoque o Acordo de Paris completa 10 anos, é importante entender quais são suas metas de longo prazo e o que elas significam para esta e para as próximas gerações.

Em um cenário otimista, se as metas do Acordo de Paris forem cumpridas, a crise climática terá sido resolvida ao final do século 21. Até lá, porém, a crise deve se agravarbetway saque minimomeados deste século, quando muito provavelmente ocorrerá um período de "overshoot" (do inglês, ultrapassar). Durante esse período, a temperatura média do planeta deverá estar acima da meta proposta pelo Acordo.

Após este período de overshoot - que pode durar de uma a várias décadas -, a temperatura começará a cair até se estabilizarbetway saque minimo1,5°C na virada do século 21 para o século 22.

A geração que fatalmente viverá suas vidas inteiras dentro dentro deste período de calor sem precedentes na história da humanidade já tem nome: "Geração Overshoot".

Para tentar garantir o sucesso do Acordo de Paris, esta geração terá a árdua missão de remover da atmosfera uma enorme quantidade de GEE (Gases do Efeito Estufa). Ainda não é claro, porém, se tecnologias para remoção de GEE existirão na escala necessária para que essa geração possa evitar um colapso climático ao final deste século.

Nessa incerteza quanto ao futuro, o conflito entre os interesses da geração atual e os interesses da geração overshoot é um tema que merecerá mais discussão nos próximos anos e décadas.

Trajetórias possíveis

O Acordo de Paris, firmadobetway saque minimo2015, não estabeleceu um prazo concreto para o cumprimento das metas previstas no Artigo 2, que trata de um limite aceitável para o aquecimento global:

"Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°Cbetway saque minimorelação aos níveis pré-industriais, e envidar esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°Cbetway saque minimorelação aos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança do clima".

A comunidade científica, de modo geral, entende que o Acordo de Paris estipula metas para serem cumpridas até o final do século 21. Existem duas razões para visarmos um marco temporal aparentemente tão distante como esse.

A primeira é uma restrição imposta pelo sistema climático do planeta: quanto mais GEE são emitidos (especialmente o CO2), mais a temperatura média global se eleva. Uma redução imediata das emissões de GEE, porém, não seria acompanhada de um declínio imediato da temperatura média global.

Mesmo que todos os países resolvessem eliminar hoje suas respectivas emissões, ainda assim a temperatura continuaria se elevando por várias décadas, até que a média global comece a regredir e se estabilizarbetway saque minimo1,5°C ao final do século 21.

A segunda razão é uma restrição imposta por princípios de justiça. O Acordo de Paris assumiu que os países mais pobres não poderiam reduzir imediatamente as suas respectivas emissões sem comprometer o próprio desenvolvimento e a perspectiva de erradicação da pobreza. Assim, o Acordo de Paris estipulou também, no Artigo 4, que cada país poderia continuar emitindo GEE até que suas respectivas emissões atinjam, o quanto antes, um pico.

Após o pico, as emissões devem ser então rapidamente reduzidas. A suposição de que a meta de longo prazo, estipulada no Artigo 2, poderia ser atingida bem antes do final do século 21, portanto, poderia se mostrar incompatível com a realidade do sistema climático do planeta e injusto para com os paísesbetway saque minimodesenvolvimento.

O problema, porém, é que o Acordo de Paris não estipula nenhuma "trajetória" (pathway) específica para o cumprimento das metas de longo prazo. Existe uma infinidade de trajetórias compatíveis com essas metas.

O melhor dos mundos possíveis é aquelebetway saque minimoque as metas do Acordo de Paris são cumpridas. No entanto, dependendo de escolhas que se fazem hoje, o melhor dos mundos possíveis pode também significar o pior dos mundos para a geração overshoot, que terá de viver sob extremos climáticos sem precedentes na história da civilização.

Conflito de gerações

Países como o Brasil têm uma prerrogativa legítima de querer alcançar o "nível de país desenvolvido". Com base nisso, o governo atual, ao invés de defender a redução, defende a ampliação da exploração de petróleo. A Organização Nacional da Indústria do Petróleo chegou mesmo a sugerir que a exploração na Margem Equatorial brasileira seria de suma importância para as "futuras gerações".

O problema, porém, é que quanto mais exploramos combustíveis fósseis na geração atual, maior será a elevação da temperatura para a geração overshoot - e por um período mais prolongado.

O que muita gente não percebe é que não importa se o petróleo a ser explorado na Margem Equatorial nos próximos anos será consumido no Brasil ou no exterior, as consequências para o clima são as mesmas, pois GEE não veem fronteiras nacionais.

A suposição de que a exploração na Margem Equatorial não envolverá riscos para o meio ambiente não levabetway saque minimoconsideração que o principal risco não é o de um derramamento de óleo na região, mas o de um aumento da temperatura global incompatível com as metas do Acordo de Paris.

Uma coisa é "perder autossuficiênciabetway saque minimopetróleobetway saque minimomenos de 10 anos", outra bem diferente é perder a Amazônia devido à "savanização" e "colapso de grande escala" da floresta. O mesmo se aplica ao Pantanal. A geração atual pode lucrar com a exploração na Margem Equatorial. A geração overshoot, porém, terá muito a perder.

Ter clareza sobre essa questão é fundamental para que possa haver um entendimento nacional e internacional sobre a trajetória a ser seguida no cumprimento do Acordo de Paris.

Existe atualmente a expectativa por uma transição energética justa. Mas a questão é saber: justa para quem? Para a geração atual, para a geração overshoot ou para as gerações que viverão no século 22? Beneficiar os interesses de uma geraçãobetway saque minimodetrimento das outras vai contra a ideia de justiça intergeracional.

Geração overshoot e mitigações retroativas

Seria talvez possível alegar que a geração overshoot não terá de enfrentar os mesmos desafios que a geração atual está tendo de enfrentar. Ela herdará da geração atual os benefícios da transição energética, mas sem que ela mesma tenha de arcar com os custos da transição.

Segundo essa alegação,betway saque minimomeados deste século as emissões globais já terão atingido um pico e estarão retrocedendobetway saque minimoritmo acelerado, rumo à estabilização da temperaturabetway saque minimo1,5°C na virada para o século 22. A geração overshoot, assim, terá todos os benefícios da energia verde abundante, contanto que a geração atual tenha por enquanto a liberdade de emitir o que for necessário para financiar o desenvolvimento humano e tecnológico que beneficiará as próximas gerações.

Essa alegação, no entanto, desconsidera um dado crucial sobre a crise climática - um dado que tem sido inteiramente deixado de lado no debate público sobre políticas para lidarmos com a crise.

Num cenário bastante otimista, a geração overshoot não terá de passar pelo sacrifício de reduzir as suas próprias emissões, já que ela supostamente contará com novas matrizes energéticas que não envolvem a emissão e acúmulo de GEE. No entanto, ela terá ainda assim de mitigar retroativamente as emissões do passado - um passado que, obviamente, inclui o nosso presente. Denominamos esse processo de "mitigação retroativa", ou seja: remover da atmosfera os GEE que não foram mitigados no passado.

Em um relatório de 2014, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) percebeu que a simples redução das emissões de GEE, por si só, já não permitiria mais evitarmos uma tragédia climática no futuro. Seria necessária também uma remoção substancial dos GEE já acumulados na atmosfera.

O IPCC alertou ainda para outro problema: não era claro se tecnologias para CCS (Captura e Armazenamento de Carbono), incluindo DAC (Captura Diretamente do Ar), poderiam ser implantadasbetway saque minimoescala global a tempo de podermos evitar uma catástrofe.

Em 2018, um novo relatório foi ainda mais reticente quanto à expectativa de que tecnologias de CCS pudessem ser implantadas na escala necessária para garantir o cumprimento das metas do Acordo de Paris.

É importante não confundirmos aqui essas tecnologias com o tipo de tecnologia que, por exemplo, a Petrobrás emprega para remoção de CO2 durante a exploração de petróleo. Nesse caso, o CO2 é capturado e reinjetado no poço de petróleo, mas com o objetivo de explorar mais petróleo ainda. O que se ganha com a captura de CO2 é a capacidade de produzir ainda mais emissões de GEE, que a geração overshoot terá de remover da atmosfera depois.

Para agravar o problema, estudos recentes mostram que já praticamente não existem mais trajetórias para o cumprimento das metas do Acordo de Paris sem a utilização massiva de CCS.

Seria talvez possível alegar que já existe um mecanismo bastante eficiente para fins de captura e armazenamento de carbono: as florestas. No entanto, a suposição de que a preservação de florestas e o reflorestamento de áreas desmatadas poderiam servir de alternativa ao uso de tecnologias de CCS é bem pouco realista. A quantidade de GEE que deve ser removida da atmosfera para o cumprimento das metas do Acordo de Paris é superior à capacidade de absorção das florestas atualmente existentes, oubetway saque minimovias de recuperação.

Não seria então mais racional investir no plantio de novas florestas ao invés de investir no desenvolvimento de tecnologias de CCS? Em princípio, sim, mas a criação de novas florestasbetway saque minimoescala global demandaria uma quantidade monumental de terras e de água. Isso poderia comprometer a segurança hídrica e alimentar da geração overshoot.

Além disso, é necessário levar tambémbetway saque minimoconsideração o tempo necessário para o crescimento de novas florestas, e o risco de perdas resultantes de queimadas, que se tornaram mais frequentes devidos às mudanças climáticas. Nesse caso, as florestas deixam de absorver GEE e se tornam elas mesmas emissoras de GEE.

O cenáriobetway saque minimoque a geração overshoot terá de viver não é nada animador, mas ele é ainda menos inóspito do que os cenários que as gerações subsequentes terão pela frente, caso as metas do Acordo de Paris não sejam cumpridas.

Compete à geração atual garantir que o período de overshoot seja tão breve quanto possível. Somente assim a geração overshoot poderá não apenas se adaptar a cenários climáticos sem precedentes, mas também legar às gerações subsequentes a esperança de cenários mais promissores.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

A pesquisa de Marcelo de Araujo para este artigo contou com apoio financeiro da FAPERJ e do CNPq. O autor contou ainda com auxílio da Fundação Alexander-von-Humboldt para pesquisa na Universidade de Frankfurt. O autor agradece ao Prof. Darrel Moellendorf pela cooperação acadêmica nesta universidade. Marcelo de Araujo não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

Pedro Fior Mota de Andrade não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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Fontes de referência

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