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site de estatisticas de futebol para apostas-A Democracia na América

12 ago 2019 - 19h29
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Em 1835 foi editado na França o primeiro tomo de um grande livro sobre a importância da democracia na América. O autor era um jovem jurista francês, Alexis de Tocqueville, que iria se celebrizar como um dos mais qualificados escritores de inclinação liberal da história política moderna.

Alexis de Tocqueville.
Alexis de Tocqueville.
Foto: Reprodução

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Dois franceses

“Eu confesso que na América eu vi mais do que a América; eu vi a imagem da democracia mesmo, com suas inclinações, seu caráter, seus preceitos, e suas paixões, o suficiente para aprender o que devemos temer ou o que devemos esperar do seu progresso”. Alexis de Tocqueville, 1834

Os Estados Unidos da América devem muito a dois franceses. Por sinal ambos aristocratas e também  muito jovens. Um deles, o Marquês de Lafaytte, aos 20 anos de idade, por iniciativa própria, navegou para América do Nortesite de estatisticas de futebol para apostas1777  para ajudá-la na Guerra de Independência contra a Grã-Bretanha. Não só isso. De volta à Françasite de estatisticas de futebol para apostas1779, convenceu o monarca Bourbon a auxiliar aos americanos.  O outro, Alexis de Tocqueville, lá aportou aos 26 anos para uma visita de estudossite de estatisticas de futebol para apostas1831, empunhando mais tarde a pena para registrarsite de estatisticas de futebol para apostaslivro a melhor descrição (até hoje considerada insuperável) do funcionamento do regime político norte-americano: La Démocratie en Amerique (A Democracia na América,  cujo 1º volume é de 1835 e o  2º é de 1840, com quase mil páginas).

É um desses estranhos paradoxos da história das idéias de que dois ricos herdeiros de sangue-azul viessem a sentir-se de alguma forma fascinados pelo que  a América simbolizava  naquela época. Nada havia naquela época mais oposto à casta deles do que a democracia americana. Tocqueville, por exemplo, era neto de Malesherbes, o advogado de defendera o rei Luís XVI na Convençãosite de estatisticas de futebol para apostas1794, quase sendo decapitado junto com o soberano condenado.

Tocqueville viaja pela América

Descontente com o novo regime implantado na França com a Revolução de 1830, Alexis de Tocqueville, descendente de um família ultra-realista que padecera o diabo na época do Terror ( 1793-4), decidiu-se viajar para a América do Norte. Ele e outro jovem jurista como ele, chamado Gustave de Beaumont, encontraram um pretexto para vir estudar as instituições penais norte-americanas, aportandosite de estatisticas de futebol para apostasNewport. Rhode Island,site de estatisticas de futebol para apostas9 de maio de 1831. Durante os onze meses seguintes os dois  farão um longo périplo de 7.500 quilômetros  por boa parte da América do Norte, passando por 18 dos 24 estados que então compunham a União,  percorrendo-a de Nova Iorque ao Canadá e dali até o sul, a Nova Orleans. Das margens do Mississipi rumaram depois  para o norte, para Washington DC,  e dali de volta para Nova Iorque,   onde tomaram um barco para a Françasite de estatisticas de futebol para apostas20 de fevereiro de 1832. No caminho entrevistaram até dois ex-presidentes.

A América de Tocqueville

Naquela época os Estados Unidos da América limitava-se, como já se viu, basicamente a 24 estados, concentrados na costa atlântica esite de estatisticas de futebol para apostasparte do meio-oeste. Territorialmente ocupavam um pouco mais de um terço dos atuais Estados Unidos, sendo que asite de estatisticas de futebol para apostaspopulação não ultrapassava a 13 milhões de habitantes (5,2% da de hoje). O restante do continente era território índio, estados da república mexicana (Texas, Arizona, Novo México,  Califórnia) ou ainda se encontravasite de estatisticas de futebol para apostasmãos das potências colonialistas, como a Grã-Bretanha (Canadá, Oregon) e a Rússia (Alasca). A escravidão confinava-se aos estados do sul, nas terras do tabaco e do algodão, enquanto o norte e o oeste recém desbravado acolhiam a gente de livre do mundo todo que para lá se dirigiasite de estatisticas de futebol para apostasbusca de oportunidades. Mas a América estava longe de ser um mar de rosas. No oeste o chefe indígena Falcão Negro,site de estatisticas de futebol para apostasjunho de 1831, relutavasite de estatisticas de futebol para apostasremoversite de estatisticas de futebol para apostastribo para os fundões do Mississipi, enquanto que na Virgínia, Nat Turner,site de estatisticas de futebol para apostasagosto daquele mesmo ano, rebelava os escravos da região do Southampton, naquela que ficou como uma das mais sensacionais e violentas revoltas da história da escravidão americana.

Nat Turner insuflando a rebelião.
Nat Turner insuflando a rebelião.
Foto: Reprodução

O Governo do Povo

“O povo reina sobre o mundo político americano como Deus sobre o universo. É ele a causa e o fim de todas as coisas, tudo sai do seu seio, e tudo se absorve nele”, Alexis de Tocqueville

O que, num primeiro momento, mais chamou a atenção de Tocqueville, no seu contanto direto com os americanos, era de que a soberania do povo (que, na maioria das demais organizações políticas conhecidas jaz oculta, escondida ou sufocada pelas mais variadas artimanhas de reis ou de tiranos), lá estava às escancaras. O dogma da soberania popular não era algo retórico. A preponderância dos interesses dos comuns saltara da vida comunal, estabelecida na época da colonização inglesa, e empalmara o governo estadual e o federal, depois da Revolução de 1776. Mesmo em  Maryland, observou ele, um estado que desde asite de estatisticas de futebol para apostasfundação era dominado por grande proprietários, proclamou-se o sufrágio universal e práticas democráticas outras. Os antigos mandões da república se conformaram. Como não podiam impedir o acesso do povo às instituições e assembléias, o patriciado tratou de bajular as massas.

Percebeu ele a existência de uma dinâmica irrefreável na democracia. A cada concessão arrancada aos ricos, o regime popular avançava para outra exigência, e desta para mais outra ainda. Convenceu-se, então, que lá “o voto universal dá, pois, realmente, aos pobres o governo da sociedade”. Tanto era assim que dois anos antes de Tocqueville desembarcar,site de estatisticas de futebol para apostas1829, Andrew Jackson assumira a presidência dos Estados Unidos (um coronel da milícia da fronteira e plantador do Tennessee), claramente apoiado no voto das classes de menor renda da sociedade norte-americana.

As células democráticas controlam o corpo
As células democráticas controlam o corpo
Foto: Reprodução

O poder local

Vindo de uma França de tradição centralista, onde durante o Antigo Regime o Palácio de Versalhes mandavasite de estatisticas de futebol para apostastudo (situação que se acirrou depois da Revolução de 1789 com a ditadura de Robespierre, estabilizando-se no Império de Napoleão), Tocqueville espantou-se com a pujança e autonomia política das pequenas comunidades norte-americanas. Os municípios (county) eram tudo, como se fossem as células vivas do regime. Deles partiam iniciativas que, num movimento ascendente, chegavam até as altas esferas do Estado e da União. E isto era possível exatamente porque o poder central era limitado. A autoridade lá de Washington não amealhava força suficiente  para intrometer-se no que ele chamou de “sociedade comunal”. O país nada mais era do que centenas de pequenas localidades – de dois ou três mil habitantes – controladas pelo povo. Um gigantesco corpanzil político dominado pelas articulações e artelhos menores. Os indivíduos que o compunham, não tendo soberano, eram os soberanos de si mesmo. Se o americano não sentia-se obrigado a tirar o chapéu para ninguém, colocava-o sobre asite de estatisticas de futebol para apostasprópria cabeça.

A modéstia da União

Apesar do presidente norte-americano ter constitucionalmente muitas prerrogativas, na prática  pouco uso delas fazia. Devia-se isso às circunstâncias que formaram a jovem república. Ao contrário da França, os Estados Unidos não eram ameaçados por ninguém. Não herdara, como a maioria dos estados europeus, a “mistura de glória e miséria, de amizades e ódios nacionais”. Além disso os imigrantes que não paravam de chegar  vinham cheios de iniciativas. Ávidos por terras e por fazer dinheiro (costume que Tocqueville repudiava), eles não precisavam que lhes dissessem o que deviam fazer. Bastava pegar o rifle, o machado, os víveres e a carroça, e tocar os cavalos para o oeste. A sincronia entre a inexistência de inimigos externos (que levou à política da neutralidade e isolacionismo) com a auto-suficiência dos indivíduos, fazia com que nos Estados Unidos a armada e o exército (uns 6 mil homens no máximo) fossem inexpressivos. Evitava-se assim as possíveis tentações autoritárias ou ditatoriais de parte dos líderes políticos. A isso somava-se o que Tocqueville denominou de “instabilidade administrativa”, o fato de que na democracia americana a rotatividade no serviço público era a tônica, impedindo a formação de uma poderosa casta de burocratas que infernizasse os cidadãos com formulários, carimbos, e outros caprichos. 

A tradição cultural

O sucesso da democracia norte-americana devia-se também a uma razão de fundo cultural. Os ingleses que para lá foram povoar o Novo Mundo estavam acostumados “a tomar parte nos negócios públicos”. Traziam nasite de estatisticas de futebol para apostasbagagem um respeitável acervo de liberdades: de palavra, de imprensa, de organização, de participaçãosite de estatisticas de futebol para apostasjúris, etc., pois é bom lembrar que fora na Inglaterra do século XVII que dera-se a primeira revolução antiabsolutista da era moderna – a Revolução Puritana liderada por Oliver Cromwell (1649-1658). Além disso, na América, não tinham que combater uma aristocracia, podendo desenvolver ao máximo a idéia dos direitos individuais e as liberdades locais. Para eles a liberdade não era tanto algo a ser conquistado, mas sim a ser preservado. Pode-se até inferir que a Revolução de 1776 foi um movimento popular de legitima defesa, visto que para os colonos americanos o rei, com os seus decretos e leis repressivas, é quem estava lhes usurpando as liberdades.

O localismo era a chave da democracia americana
O localismo era a chave da democracia americana
Foto: Reprodução

A multidão dos iguais

A estabilidade geral daquela sociedade vinha da “multidão incontável de homens quase iguais” que, não sendo nem ricos nem pobres, atuava como um freio aos radicalismos e às violências. O “amor excessivo pelo bem-estar” e a difusão das práticas democráticas, tornava-os naturalmente hostis a qualquer solução revolucionária que por acaso viesse a aparecer no futuro. Uma convulsão social só faria eles perderem o que já haviam amealhado, pois o acesso aos bens mobiliários, que lá não paravam de se multiplicar e diversificar, moderava neles qualquer inclinação extremista que viessem a ter. E assim, ricosite de estatisticas de futebol para apostasobservações de toda ordem, seguia o grande livro de Tocqueville, distribuídassite de estatisticas de futebol para apostasquatro grandes partes, sobre o funcionamento daquela novíssima sociedade ainda, por assim dizer, no seu nascedouro.

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Fonte: Especial para Terra
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