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greenbets instagram-Como cachorros salvaram as vidas de todos os moradores de uma cidade americana

1 jan 2017 - 14h48
(atualizado às 15h27)
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No ditado popular, cães são nossos melhores amigos. Mas há ocasiõesgreenbets instagramque também são nossos salvadores.

Em 1925, a pequena cidade de Nome, no Estado americano do Alasca, estava sendo assolada por uma epidemia de difteria. Para proteger os habitantes, 20 times de cães puxadores de trenós transportaram soro por mais de 1 mil km de gelo e neve,greenbets instagramapenas seis dias, enfrentando um dos mais brutais invernosgreenbets instagrammuitos anos.

Huskies têm características ideais para puxar trenós
Huskies têm características ideais para puxar trenós
Foto: Alamy / BBC News Brasil

Dos cães que participaram da Corrida do Soro de Nome, os mais celebrados foram dois huskies siberianos chamados Balto e Togo.

Hoje, cães dessa raça competemgreenbets instagramcorridas de trenó e volta e meia superam alguns dos mais rápidos atletas humanos. Em distâncias superiores a 16 km, eles são o mais rápido mamífero terrestre.

Mas como os cães salvaram Nome?

Huskies foram introduzidos na região por um comerciante de peles chamado William Goosak durante a Corrida do Ouro na região do Yukon no início do século 20. Ele havia notado o potencial dos animais, usados pela tribo Chukchi, da Sibéria.

Por milhares de anos, os Chuckchi empregaram huskies para transporte ao longo da tundra ártica. Cruzamentos seletivos criaram o cão puxador de trenó ideal, perfeito para as condições gélidas e uma vida de trabalho pesado.

Os malamutes do Alasca perderam espaço para os huskies
Os malamutes do Alasca perderam espaço para os huskies
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em 1909, Goosak inscreveu seus cães na Grande Corrida do Alasca, um percurso circular de 657 km entre Nome e Candle que vinha sendo dominado pelos malamutes, uma raça local.

Os "ratos siberianos" de Goosak, como os cães foram apelidados, tinham metade do tamanho dos malamutes, mas terminaram a corridagreenbets instagramterceiro.

Os malamutes eram mais fortes, mas os huskies eram mais rápidos. E suas habilidades estão baseadasgreenbets instagramuma combinação de tamanho e forma.

"Cães maiores têm passadas mais largas e cobrem mais terreno, masgreenbets instagrammassa faz com que superaqueçam", explica Raymond Coppinger, do Hampshire College,greenbets instagramAmherts (EUA), e coautor de um manual sobre cães.

"Os huskies são menores, geram menos calor e têm a mesma área de pele para dissipação, então, mantêm a temperatura."

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Isso pode até sugerir que chihuahuas seriam melhores para puxar trenós, mas é claro que eles são pequenos demais.

Na verdade, os huskies são uma espécie de "cachinhos dourados" do mundo das corridas de trenó: nem muito grandes, nem muito pequenos, com o ângulo certo de pélvis, comprimento das costas e largura dos ombros, o que permite passadas longas.

Eles também galopam, sempre mantendo ao menos uma patagreenbets instagramcontato com a neve. E isso é crucial.

Galgos são mais rápidos que os huskies, por exemplo, mas eles meio que saltam. É uma ótima técnica para corridas de velocidade, mas desastrosa para puxar um trenó. O trenó puxaria os galgos para trás todas as vezesgreenbets instagramque eles "decolassem".

Na Grande Corrida do Alasca de 1910, um time de huskies venceu. Eles pertenciam a um piloto de trenó chamado Leonhard Seppala.

Essa vitória seria lembradagreenbets instagramjaneiro de 1925, quando as autoridades de saúde da cidade se viram às voltas com a epidemia de difteria.

Os Chuckchi usam cães como meio de transporte há milênios
Os Chuckchi usam cães como meio de transporte há milênios
Foto: Alamy / BBC News Brasil

A difteria é uma infecção bacteriana que afeta principalmente o nariz e a garganta. Se não for tratada, pode ser fatal. Hoje, é uma doença rara, porque a maioria das pessoas é vacinada contra ela, mas não era assimgreenbets instagram1925.

O surtogreenbets instagramNome veio na pior hora possível. O vilarejo estava isolado pelo mais severo invernogreenbets instagram20 anos e não havia estoques locais de soro.

Médicos previam uma mortalidade de 100%, já que o lugar mais próximo para buscar soro era Nenana, a 1.085 km de distância. Em 24 de janeiro, ficou decidido que um revezamento de trenós transportaria o soro de Nenana até Nome.

Vinte times se posicionaram ao longo da rota. Seppala estava escalado para a penúltima etapa da viagem, entre Shatoolik e Golovin.

A rota inteira normalmente exigiria 25 dias de viagem, mas era tempo demais, já que as condições brutais de inverno estragariam o sorogreenbets instagramapenas seis dias.

Ou seja: os cachorros precisariam completar a jornadagreenbets instagrammenos de um quarto do tempo normal.

O primeiro desafio era simples: não morrer congelados. Huskies siberianos têm uma segunda camada de pelos, de acordo com a patologista veterinária Kelly Credille. Isso forma uma espécie de proteção extra que retém o calor junto ao corpo.

Eles também usam suas longas e peludas caudas para respirar ar quente a noite toda ao cobrir o focinho com elas enquanto dormem.

"Também descobrimos que os huskies podem criar uma camada protetora de pelos que 'hiberna'greenbets instagramvez de crescer", explica Credille.

A bactéria Corynebacterium causa a difteria, que pode ser fatal se não for tratada
A bactéria Corynebacterium causa a difteria, que pode ser fatal se não for tratada
Foto: Science Photo Library / BBC News Brasil

Outras raças precisam ter o pelo tosado, porque a maioria de seus folículos está crescendo ativamente, ao contrário dos huskies. E isso os ajuda a conservar energia.

"O pelo é feito a partir de proteínas e lipídios, e os huskies preservam isso ao esperar por um momentogreenbets instagramque o tempo melhora e o alimento fica mais abundante para seu pelo crescer."

A maior parte dos condutores trenós da Corrida do Soro de Nome sofreu com a gangrena causada pelo frio nas mãos e rostos, uma consequência da exposição de humanos ao frio extremo, já que, para proteger nossos órgãos vitais, concentramos o sangue no centro do corpo, deixando nossas extremidades vulneráveis.

Porgreenbets instagramvez, cães não perdem tanto calor pelas extremidades. Vasos sanguíneos na sola das patas o retém, explica Dennis Grahn, da Universidade Stanford, na Califórnia. Isso contribui para manter a temperatura equilibrada e acima do ponto de congelamento.

As patas de cães também são peludas, o que ajuda a evitar a perda de calor. Em cães de trenó modernos, as áreas mais vulneráveis a gangrena são áreas mais peladas, como os mamilos.

Os huskies de Seppala se beneficiaram de tudo isso durante a Corrida do Soro.

Em 31 de janeiro de 1925, eles já tinham viajado 274 km, partindo de Nome, para encontrar o carregamento de soro. Faltavam dois dias para que o material expirasse.

Seppala tomou então a decisão de cruzar a camada de gelo de Norton Sound. Foi quando chegou uma nevasca que deixou o piloto cego. Para sobreviver, ele precisou confiar nos instintos de seu cão-líder, Togo, especialmente para evitar buracos no gelo.

Togo era ideal para isso: bigodes caninos são sensíveis a mudanças no fluxo de ar. A chave são sensores na base do bigode - e huskies têm mais deles que outras raças.

Eles também são inteligentes, graças a séculos de cruzamentos seletivos. Os Chuckchi precisavam de cães que pudessem tomar decisões de navegação súbitas e percorrer de maneira segura a neve e o gelo. Outra coisa necessária era trabalhogreenbets instagramequipe, e, para isso, criaram cães brincalhões.

Leonhard Seppala e seu time de cães puxadores de trenó
Leonhard Seppala e seu time de cães puxadores de trenó
Foto: Alamy / BBC News Brasil

"Puxas trenós é, tecnicamente, brincar. Não há recompensa imediata", diz Coppinger. "E agir como uma equipe também ajuda, além de fortalecer os laços entre pessoas e cães e reduzir a agressão entre os animais."

Os Chukchi escolhiam sistematicamente os cães mais inteligentes e brincalhões para produzir a próxima geração de huskies. Isso fez com que a agressividade praticamente desaparecesse da raça.

Os huskies também eram incentivados a vagar e caçar e também serviam como companhia para crianças. Isso se refletegreenbets instagramsuas personalidades: a raça têm pouco medo e é uma boa exploradora.

Essa seleção moldou a química do cérebro dos cães puxadores de trenó atuais. Eles têm níveis mais altos de um neurotransmissor chamado noradrenalina, associado ao comportamento exploratório.

Trabalhando como um time, os cães de Seppala navegaram as condições traiçoeiras de Norton Sound, ficando a apenas 146km de Nome. Ali, outro piloto, Gunnar Kaasen, assumiu o transporte, com uma matilha liderada pelo huskie Balto. Chegaram ao seu destino com meio dia de vantagem, salvando 10 mil vidas.

Hoje, há uma estátua de Balto no Central Park,greenbets instagramNova York, algo um pouco injusto, pois ele foi apenas um dos cães participantes da corrida.

Os huskies siberianos foram apenas reconhecidos como uma raçagreenbets instagram1930 pelo Kennel Club dos EUA, organização que determina critérios rigorosos para a classificação de cães no país.

Hojegreenbets instagramdia, a maioria desse cães é criada para exibições. Isso foi determinante para que huskies siberianos não sejam mais campeões de corrida de outrora.

"Os cães que hoje ganham corridas são fruto de uma combinação de diversas raças feita no Alasca", diz o geneticista Heather Huson, da Universidade de Cornell (EUA).

A cidade de Nome quase foi devastada pela difteriagreenbets instagram1925
A cidade de Nome quase foi devastada pela difteriagreenbets instagram1925
Foto: Alamy / BBC News Brasil

Ainda assim, os huskies siberianos têm um valioso legado genético. Hudson descobriu que cães corredores de longas distâncias têm muito mais genes de huskies siberianos que cães de velocidade, como galgos.

Ele estuda animais que competem na Grande Corrida de Iditarod. Dezesseis times percorrem 1.600 km pelo Alasca, entre Willow e Nome, por oito a nove dias. As temperaturas chegam a -40ºC.

Durante os dias de corrida, cada cão queima entre 10 mil e 12 mil calorias. Isso superagreenbets instagrammuito o gasto total de humanos registradosgreenbets instagramprovas de esforço como o Tour de France, uma competição de ciclismo anualgreenbets instagramque há muitas subidas por montanhas.

Para conseguir essa energia, humanos precisariam de algo impossível: desviar todo o sangue do corpo para os músculos, o que privaria os órgãos vitais e causaria um colapso.

Atletas medem seu desempenho com base no VO2 máximo, o termo utilizado para a quantidade de oxigênio que o corpo pode transferir para músculos durante períodos de esforço físico intenso.

Chris Froome, o britânico bicampeão do Tour de France, teve seu V02 máximo medidogreenbets instagram88,2. Cães puxadores de trenós registraram 200.

Isso porque esses animais têm vantagens naturais sobre humanos. Suas células contêm, por exemplo, 70% mais mitocôndrias, responsável pela fabricação de energia. E eles não precisam desviar sangue de seus órgãos vitais, porque o treinamento para as corridas faz seus corações crescerem até 50% - e bombearem mais sangue.

Mas como é que eles sustentam esses níveis de esforço por tanto tempo? Michael Davis, da Oklahoma State University, pesquisa o assunto há anos e diz que puxadores de trenó contam com uma série de adaptações para o exercício que não vemosgreenbets instagramhumanos.

Passeios de trenó são atração turística no Alasca
Passeios de trenó são atração turística no Alasca
Foto: Alamy / BBC News Brasil

A glicose do alimento é armazenada no organismo pelos músculos sob a forma de glicogênio e liberada durante o exercício.

"O exercício normalmente esvazia as reservas de glicogênio, levando também a um aumento de hormônios de estresse e danos celulares", diz Davis.

Isso significa dizer que atletas de resistência não podem atingir o mesmo ritmo de cães, porque precisam descansar para produzir mais glicogênio e reparar as células.

"Supreendentemente, os cães de Iditarod parecem conseguir reparar esses danos durante os dias de corrida".

Parte do segredo é a dieta "extrema" dos bichos. Como queimam cerca de 10 mil calorias por dia, precisam comer muito para sustentar esse gasto energético. Isso equivale a mais de 30 Big Macs por dia - comida demais para cabergreenbets instagramum cachorro.

A solução é cortar os carboidratos e compensar com a ingestão de gordura. É a forma de nutrição mais energética e fácil de dar aos cães para evitar a perda de peso.

Cães de corrida estudados por Davis conseguiram manter seu glicogênio muscular depois de corridas repetidas, mesmo quando seu consumo de carboidratos correspondia a apenas 15% do total de calorias consumidas.

Um estudo de 1973 mostrou que cães correndogreenbets instagramuma dieta sem carboidratos levam vantagemgreenbets instagramcomparação com rações ricasgreenbets instagramcarboidratos.

Eles têm mais glóbulos vermelhos e níveis mais altos de hemoglobina, além de serem menos vulneráveis às deficiências de minerais que são comumente causadas por exercícios exaustivos. Para cães de corrida, quanto mais gordura, melhor.

O husky Balto foi homenageadogreenbets instagramcom uma estátua no Central Park
O husky Balto foi homenageadogreenbets instagramcom uma estátua no Central Park
Foto: Alamy / BBC News Brasil

"Você não poderia adotar essa dieta com cães domésticos, mesmo um husky siberiano. Alguns tipos de raças podem morrer de inflamações no pâncreas se comerem repentinamente uma grande quantidade de gordura", explica Erica McKenzie, da Oregon State University.

Quando um cão doméstico consome uma grande quantidade de gordura, ácidos graxos aparecem na corrente sanguínea. Mas isso não acontece com puxadores de trenó.

Os cientistas sempre pensaram que os depósitos de gordura eram transportados diretamente do sangue para as células para serem usados como combustível - isso é o que acontecegreenbets instagramatletas de resistência.

Porém, as pesquisas de Davis indicam que os puxadores de trenó queimam carboidratosgreenbets instagramvez de gorduras, mesmogreenbets instagramexercícios de baixa intensidade.

"Todas as vezesgreenbets instagramque achamos ter encontrado a explicação para essa incrível resistência, os cachorros trazem uma resposta diferente, que acreditávamos ser impossível", diz Davis.

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