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esportiva bet saque-O caso da menina imigrante de 9 anos detida há mais de 500 dias pelos Estados Unidos

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Mãe e filha, ambas de El Salvador, estão há um ano e meioesportiva bet saqueum centro para migrantes no Texas. Lei limita tempo máximo de detenção de menores a 20 dias.
6 fev 2021 - 18h11
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Pela lei, os menores não devem ficar mais de 20 dias sob custódia das autoridades migratórias americanas
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

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Luisa* tem uma voz doce e animada. Às vezes, costuma soltar expressões como se fosse adulta, ainda que tenha apenas 9 anos.

Isso se deve, talvez, ao fato de que, apesar da idade, ela esteja acostumada a escrever cartas a parlamentares que não conhece pedindo que seja liberada, junto da mãe, do centro de detenção para famílias migrantes no qual se encontra há quase um ano e meio.

No dia 5 de fevereiro, fez 534 dias que elas estão sob custódia do governo dos Estados Unidos.

Natural de El Salvador, Luisa é a criança que está por mais tempo sob poder do Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (Immigration and Customs Enforcement, ou ICE), de acordo com as estimativas feitas por organizações que proveem serviços legais nos três centros que abrigam famílias de migrantes no país — dois no Texas, um na Pensilvânia.

Em quase todo o período, ela esteve no Centro Residencial Familiar do Sul do Texas, conhecido na região como Dilley.

"Todas as minhas amigas foram embora e fiquei sozinha aqui com uma outra amiga", diz Luiza, do outro lado da linha.

As regras expressas no Acordo Flores, vigente desde 1997, limita o tempo máximo de detenção de menores a 20 dias.

Este não foi, entretanto, o caso de Luisa e de mais outro quatro jovens (assim como suas mães),esportiva bet saqueidades entre 3 e 16 anos, que acumulam mais de 500 dias no mesmo centro.

Apesar de a menina ter tido a possibilidade de sair para ficar sob os cuidados de algum familiaresportiva bet saqueterritório americano, ela e a mãe preferiram não se separar enquanto lutam para evitar a deportação.

Desde que começou seu governo,esportiva bet saque20 de janeiro, o presidente Joe Biden tomou diversas medidas que revertem políticas do antecessor, Donald Trump, que promoviam a separação de famílias de migrantes e deportações.

Ainda assim, ele advertiu que esse processo deve levar algum tempo até que seja concluído.

O caso de Luisa eesportiva bet saquemãe revela uma complicada e, para muitos, disfuncional política migratória que se agravou na era Trump e acabou sendo herdada por Biden.

Esta éesportiva bet saquehistória.

*Tanto Luisa quanto a mãe, Ariana, têm nomes fictícios nesta reportagem. Elas pediram para ter a identidade preservada porque correm risco de deportação.

Luisa escreve cartas a parlamentares americanos pedindo que se solidarizem comesportiva bet saquesituação
Luisa escreve cartas a parlamentares americanos pedindo que se solidarizem comesportiva bet saquesituação
Foto: Kako Abraham/BBC Mundo/Getty / BBC News Brasil

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Por que ela está há tanto tempo detida?

"Passei dois Natais aqui. Sinto falta de cozinhar, gostaria de fazer minha própria comida. Aprendi um pouco de inglês, um pouquinho. Quero aprender mais na escola, mas fora daqui."

A mãe diz que a menina tem evitado comer e que seu comportamento foi se alterando com o passar do tempo. "Ela só come fruta, e às vezes nem isso."

Aos 31 anos, Ariana diz ter desenvolvido ansiedade, o que fez com que lhe receitassem medicamentos no centro.

Centro Residencial Familiar do Sul do Texas foi abertoesportiva bet saque2014
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Há um tempo tive um ataque e não sabia o que era; os paramédicos vieram e me disseram que tive um ataque de ansiedade."

"Às vezes penso que não sou eu que estou aqui", diz.

Ambas testemunharam, no último ano, como o centro foi esvaziando, à medida que a pandemia recrudescia e o ICE liberava e deportava as famílias.

Ao mesmo tempo, o governo americano começou a expulsar a maioria dos migrantes que chegava até a fronteira, uma decisão polêmica que foi questionada por organismos de defesa dos direitos humanos.

Em 1º de julho do ano passado havia 138 famílias detidas, com 139 crianças entre os três centros, conforme a agência de notícias AP.

Em Dilley, uma instituição que funciona com fins lucrativos e tem capacidade para 2,4 mil pessoas, atualmente háesportiva bet saquetorno de 54 famílias, de acordo com as estimativas de Mackenzie Levy, uma das representantes legais de Ariana.

O ICE manteve as famílias detidas mesmo depois da ordem expedida por uma juízaesportiva bet saquejunho de 2020 que determinava a saída das crianças, como consequência do aumento de casos de covid-19 nas instalações.

Emesportiva bet saquedecisão, Dolly Gee recomendou que os pequenos fossem liberados junto com os pais ou entregues a familiares que pudessem ser seus guardiões. Ela está encarregada de observar o cumprimento do Acordo Flores, mas não tem, contudo, autoridade sobre a situação dos adultos.

Uma outra juíza federal, poresportiva bet saquevez, decidiu contra a libertação dos pais e o ICE, que tem o poder de fazê-lo, também negou a possibilidade.

Isso acabou criando uma situação preocupante, dizem os defensores das famílias — filhos separados dos pais, que seguem detidos e sob risco de deportação.

O ICE havia sido duramente criticadoesportiva bet saque2018 quando colocouesportiva bet saqueprática uma política de "tolerância zero" implementada pela gestão Trump e passou a separar milhares de crianças migrantes de seus pais.

O governo e o conselho encarregado de garantir o direito dos menores estão hoje discutindo um processo que facilite a liberação das crianças com a permissão dos pais.

"Não há nada como a mãe. Não posso deixar minha filha com eles (os familiares nos EUA). Minha filha é pequena, precisa do meu cuidado, como vou deixar...", afirma Ariana.

Uma das cartas que Luiza enviou a parlamentares americanos
Uma das cartas que Luiza enviou a parlamentares americanos
Foto: Cortesia Projeto Dilley / BBC News Brasil

Asilo negado

Os advogados de Ariana argumentam que não lhe foi dada uma oportunidade justa para que ela pedisse asilo. Por causa de uma série de políticas instituídas por Trump, dizem, mãe e filha foram consideradas ilegais.

"Quase imediatamente depois que chegaram a Dilley, lhes foi negada quase automaticamente a solicitação de asilo", pontua Levy.

Sem querer expor detalhes, a salvadorenha diz que fugia de uma situação de violênciaesportiva bet saqueEl Salvador quando decidiu deixar dois de seus filhosesportiva bet saqueseu país natal e migrar com Luisa.

Em 21 de agosto de 2019, elas cruzaram a fronteira entre o México e os Estados Unidos e, no dia 27, foram levadas às instalações de Dilley. Dois dias depois, foram entrevistadas por um funcionário do governo.

Uma das salas de Dilley, onde Luisa está detida há mais de 500 dias
Uma das salas de Dilley, onde Luisa está detida há mais de 500 dias
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Segundo Levy, a base legal usada para a negação do pedido de asilo foi de que mãe e filha não cumpriram a determinação de fazer a solicitação a partir do México ou da Guatemala antes de fazê-laesportiva bet saqueterritório americano.

"Na verdade eu não entendia o que estava acontecento", afirma.

"A gente chega assustado, por tudo o que passa pelo caminho, e logo dá de cara com pessoas... Supostamente tínhamos de ter pedido asilo no México e não o fizemos, por isso que nos negaram [o pedido]", detalha.

Seus advogados fizeram uma apelação ante um juiz de imigraçãoesportiva bet saquesetembro, que ratificou a decisão de lhe negar o asilo e ordenar a deportação.

Ariana chegou apenas uma semana depois do início da vigência do acordo de "terceiro país seguro", firmado pelos EUA com vários países da América Central e o México.

O governo Trump defendia que o acordo buscava identificar de maneira mais eficiente "quem estivesse usando de forma errada o sistema de asilo como ferramenta para entrar e permanecer no país".

A medida foi implementada quando milhares de famílias migravamesportiva bet saquedireção aos EUA fugindo da violência e da pobrezaesportiva bet saqueseus países.

Ainda que um painel de três juízes de uma corte de apelação tenha determinadoesportiva bet saquejulho do ano passado que a mudança no processo de pedido de asilo era ilegal, casos como o de Ariana foram submetidos à nova política.

Os representantes da salvadorenha pedem que seja outorgada a ela uma ordem para apresentaresportiva bet saquesolicitação a um juiz de imigração.

Consultado sobre o caso, o ICE respondeu à BBC News Mundo, serviçoesportiva bet saquelíngua espanhola da BBC, que não pode discutir sobre assuntos que estão sob sigilo.

'Pelo menos cinco vezes'

Ariana diz que tentaram deportar ela e a filha "pelo menos cinco vezes", e queesportiva bet saquediversas ocasiões elas tiveram de passar por um isolamento compulsório de vários dias como medida de prevenção contra a covid-19 antes de voltarem ao centro.

Elas não chegaram a ser de fato enviadas de volta a El Salvador porque seus advogados travaram uma batalha legalesportiva bet saquevárias frentes e acabaram conseguindo evitar a deportação no último minuto.

Dos 28 menores que estavam sob custódia do ICEesportiva bet saquenovembro de 2020, 6 haviam sido deportados até 1º de fevereiro
Dos 28 menores que estavam sob custódia do ICEesportiva bet saquenovembro de 2020, 6 haviam sido deportados até 1º de fevereiro
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ariana diz que a filha, apesar da idade, "é muito inteligente e entende cada vez mais" quando elas são levadas ao aeroporto.

"Me dá raiva porque me tiram, depois trazem de volta, tiram e trazem de volta", diz a menina, quando questionada sobre como se senteesportiva bet saqueDilley.

O ICE é acusado há anos de não fornecer tratamento adequado aos bebês e crianças que estão sobesportiva bet saquecustódiaesportiva bet saqueDilley. O centro foi inauguradoesportiva bet saque2014, durante o governo de Barack Obama. Já a agência defende o protocolo de atenção médica e educativa que dispensa aos menores.

Uma das questões que geram maior inquietaçãoesportiva bet saqueAriana é o fato de queesportiva bet saquefilha está ficando para trás no currículo escolar.

"Aqui não se aprende o suficiente, são anos perdidos", afirma.

Levy diz que várias de suas clientes falam sobre a deficiência do ensino nas instalações, onde as crianças "passam muito tempo na frente do computador sem aprender muito".

E acrescenta que, durante a pandemia, os alunos têm recebido pacotes de tarefas "que supostamente deveriam levar uma semana para serem feitas, mas que são finalizadasesportiva bet saqueum dia".

O ICE, poresportiva bet saquevez, afirma que a escola do centro retomou as aulas presenciaisesportiva bet saquesetembro e que os pacotes educativos prévios foram entregues de acordo com as diretrizes de combate à pandemia determinadas pelo governo do Texas.

A agência declarou ainda que "respeita a dignidade e a humanidade das famílias".

'Caos e mais dor'

Em novembro do ano passado, mais de 60 organizações que defendem os direitos de migrantes denunciaram a existência de 28 menores detidos por períodos de até 15 meses e exigiramesportiva bet saquelibertaçãoesportiva bet saqueuma carta dirigida a Trump e ao presidente recém-eleito, Joe Biden.

No texto, citavam exemplos vindos de Honduras, El Salvador e Guatemala cujos pedidos de asilo foram negados, mesmo diante de um pano de fundo com histórias de violações e torturas infligidas pelo crime organizado e de mortes violentas de familiares contadas pelos migrantes.

No mesmo mês, contudo, o ICE afirmou, por meio de comunicado, que as famílias haviam tido "amplo acesso aos meios legais e que foi determinado que não há base legal para que permaneçam nos Estados Unidos".

Dos 28 menores mencionados na carta, seis foram deportados e 17, liberados. Cinco, incluindo Luisa, permanecem sob custódia, conforme o Projeto Dilley, organização onde Levy trabalha.

"Esse tipo de política cria mais caos e mais dor. Se você analisar pela perspectiva de quem pede asilo, o que encontra são camadas e mais camadas de burocracia", destaca Sarah Pierce, consultora do centro de análises Migration Policy Institute.

Luisa, poresportiva bet saquevez, mantém o otimismo — especialmente diante do seu aniversário de 10 anos que se aproxima.

"Quero estar fora, na casa da minha tia, pra comemorar esse dia."

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Fontes de referência

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