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Leio com entusiasmo a notícia de que uma rede de supermercados na Holanda vai colocaresporte daoperação caixas especiais para clientes que gostam de conversar com as pessoas que os atendem. O caixa sem pressa foi apelidado de caixa do bate-papo. A iniciativa partiu do Ministério da Saúde do país numa tentativa de identificar sinais de solidão entre os mais velhos e, com isso, adotar ações para a melhoria de vida dessa faixa da população que se sente sozinha. Na Holanda, 1,3 milhão de habitantes têm mais de 75 anos.
Garantir que os mais velhos tenham interações, mesmo que através de políticas públicas, que minimizem o peso da solidão pode ser uma questão crucial quando falamosesporte dalongevidade. Mesmo não me sentindo uma pessoa especialmente solitária, não hesitariaesporte dapegar a tal fila do caixa bate-papo, porque adoro uma prosa.
Tenho a sensação de que mulheres estão mais protegidas da solidão que os homens. Não é raro encontrar um grupo de amigas numa matinê de cinema ou se juntando para viajar em excursão. São apenas exemplos que na minha opinião reforçam que elas parecem sempre mais dispostas a iresporte dabusca de atividades que reforçam laços de amizade, adicionando uma porção de felicidade nessa fase de vida chamada terceira idade.
Pode ser uma característica genuína ou uma construção forjada pela necessidade de sobreviver, uma vez que, historicamente, fomos invisibilizadas, diminuídas, sobrecarregadas, sem ter nossas demandas femininas atendidas. Relegadas a um segundo plano, restou às mulheres poder contar umas com as outras. A amizade é realmente algo muito poderoso e muitas vezes não tem o mesmo status de outras relações de afeto, como a de mãe e filho ou de casais envolvidos romanticamente.
No entanto, a qualidade de afeto que existe numa amizade pode ser até mesmo superior à de um casamento. Ela é o que é. Não exige papel passado, nem as bênçãos de autoridades religiosas ou laços de parentesco.
Quando chegamos perto dos 60 anos, entrando naquela fase de vida que Jane Fonda define como o terceiro ato - assim como no teatro é o momentoesporte daque tudo se resolve - passamos a ver cada vez mais nossas amigas como o porto seguro para encarar a velhice. Sempre vai ter alguém para poder ligar, perguntar se estamos bem ou pedir ajuda quando o momento exigir. Precisa fazer um exame com acompanhante? Chama as amigas que elas nem pensam duas vezesesporte dafazer companhia. Será que é porque não temos receioesporte daparecer vulneráveis, como diria Jane Fonda?
Caminhando para os 86 anos , a atriz não cansa de dizer como as amigas foram essenciais para se curar de um câncer descobertoesporte da2022. O curioso é que Fonda afirma que descobriu a importância da amizade feminina somente depois de se tornar ativista, nos anos 70. Até aquele momento, não tinha amigas mulheres. Foram suas companheiras de ativismo que mudaramesporte daconsciência e a fizeram ver como as relações entre mulheres podiam ser generosas, pautadas por gentilezas e humanidade, destruindo o mito de que mulheres se rivalizam no ambiente de trabalho e na busca pelo afeto dos homens, por exemplo.
Essa ideia de que as mulheres competem entre si é atribuída por uma visão patriarcal. A história está aí para comprovar que a união e os laços de amizade foram armas poderosas para desafiar antigos papéis e abrir caminho para agendas bem mais progressistas.
Nesse Dia Internacional das Mulheres nunca é demais lembrar que somos descendentes de mulheres revolucionárias, saídas da classe trabalhadora e que se uniram para mudar a ordem das coisas. Somos herdeiras de mulheres que se mobilizaram para garantir direitos, tais como o direito ao voto, à licença maternidade e outras conquistas. Mudam as agendas, as reivindicações, os desafios. Só não muda o fato de que unidas por laços de amizade nossas batalhas ficam muito mais ricas.