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Meu nome é Túlio, tenho 37 anos, eu nasci na cidade de Pirassununga (SP), mas logo fui vivercasa apostasLimeira (SP), onde estou até hoje. Minha infância foi o que pode ser considerada normal. Eu tenho mais dois irmãos mais velhos.
Meu irmão que é dois anos mais velho do que eu sempre foi meu parceiro na infância, período que já percebia que não gostava das brincadeiras que diziam ser de meninas. Sempre tive dificuldade de me reconhecer no gênero que eu nasci.
Quando chegava o Natal, por exemplo, a gente fazia uma brincadeira de ‘amigo secreto’ e os meus parentes me presentearam com maquiagem ou uma roupa feminina. Eu odiava. Meus pais achavam normal e nunca me obrigaram a brincar com outros brinquedos ou vestir o que eu não queria, embora existisse uma pressão social.
Nunca convivi com pessoas na minha infância que fossem transexuais ou homossexuais, então era um tabu na minha família. Quando virei adolescente, entrei para a catequese e viver todas as obrigações da religião católica. Eu fui ajudante na igreja e comecei a frequentar os grupos de jovens e de oração e a conhecer algumas instituições religiosas. E fiquei fascinado com isso por volta dos 15 anos.
Nessa idade, eu já tinha dificuldade de namorar e não me sentia atraído por meninos e isso começou a reforçar a ideia de que eu tinha, na verdade, uma vocação para a vida religiosa. Nunca tive familiares que seguiram a vida religiosa como freira ou padre, mas começou aflorarcasa apostasmim, principalmente, pelo fato de que eu não queria namorar. Eu achei que realmente era minha vocação.
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Comecei a fazer os retiros vocacionais e me identifiquei muito com o carisma franciscano. Com 16 anos eu já queria ir para o convento, mas meus pais não autorizaram. Com 18 anos, eu decidi entrarcasa apostasum instituto religioso que era de uma linha de São Francisco de Assis e, assim, fui morar no convento.
No primeiro ano, eu comecei ter algumas dificuldades. O convento que eu morava era apenas de mulheres. Comecei a ter afinidade com algumas irmãs e a sentir algumas coisas, que hoje eu entendo que era uma vontade de ‘ficar’. Eu fiquei cinco anos no total e estava me preparando para ser consagrado como uma freira, mas a cada dia que passava só piorava, eu sentia muito desejo.
Eu achava que estava com o demônio no corpo, me sentia muito mal comigo mesmo. Quando precisava conversar com a madre superiora, sofria preconceito e isso fazia com que eu fosse visto como problemático.Chegou um momentocasa apostasque eu beijei uma menina, lá dentro mesmo, e aí eu mesmo percebi que não era aquilo que eu queria. Sai do convento e voltei para a casa dos meus pais.
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Apesar de ter saído do convento, eu não me assumi logo de cara, na época, como mulher lésbica. Levei por volta de mais quatro a cinco anos para estar realmente ‘ok’ comigo mesmo. Quando comecei a conviver com pessoas parecidas comigo, entendi um pouco melhor e me aceitei.
O meu estopim para me reconhecer como homem trans foi quando conheci minha atual esposa. Ela sempre foi muito bem resolvida e a avó dela é casada há mais de 20 anos com outra mulher. Isso pra mim começou a se naturalizar e essa representatividade na família dela foi muito importante pra mim.
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Sempre rolava uma conversa com minha esposa de “ai se eu fosse” ou “ai se eu tivesse”. E ela sempre falava que eu ainda era novo para fazer a transição, mas ela me deu total apoio a partir do momento que decidi iniciar a transição, que ocorreucasa apostas2021.
A família dela me deu muito apoio e eu tive essa virada de chave na minha vida. Foi maravilhoso me reconhecer, me olhar pela primeira vez e me ver assim.
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Atualmente, continuo casado com a Paloma e nós criamos juntos uma filha dela que é uma criança incrível. Foi a primeira pessoa que nunca errou meu nome, meus pronomes. Quando a gente conversou, ela desde o primeiro instante aceitou e corrige todo mundo.
Eu trabalho numa empresa de grande porte na área de recrutamento de seleção, então passei também pela transição nessa empresa. Apesar de ser uma empresa grande com bastante abertura e diversidade, eu fui a primeira pessoa trans a passar pelo processo lá dentro.
Houve muito aprendizado e foi muito bacana passar por isso, e a empresa abriu os braços para mim. Hoje eu trabalho bastante nessa parte de diversidade.
A transição é um processo que acontece a vida toda. Nesse momento eu estou muito feliz, com certeza, muito realizado e tento levar essa representatividade para todos os espaços que eu frequento porque pode ser muito importante para a vida de uma criança ou de um adulto.