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Era uma tranquila manhã de domingo quando o padre italiano Lino Allegri, que vive no Brasil há mais de cinco décadas, ousou dizer que o governo de Jair Bolsonaro também tem responsabilidade pelas mais de meio milhão de vítimas da covid-19 no país.
Por conta disso, aos 82 anos de idade e quase meio século depois de ter sido ameaçado de morte por grileiros na ditadura militar, o sacerdote voltou a ser alvo de intimidações, só que desta veznovibet online casinoplena democracia.
As perseguições contra o padre Lino começaramnovibet online casino4 de julho, durante uma missa matutina na Paróquia da Paz,novibet online casinoFortaleza (CE). Durantenovibet online casinohomilia, o sacerdote relacionou a palavra de Deus com as dificuldades enfrentadas pelo povo na pandemia, afirmando que o governo Bolsonaro também tinha responsabilidade pelo saldo de mortes por covid no Brasil.
Ao fim da missa, oito pessoas - sete mulheres e um homem - entraram na sacristia e afirmaram, aos gritos, que o padre estava errado e que Bolsonaro era um bom cristão. Esquerdopata, comunista, petista e lulista foram alguns dos adjetivos ouvidos pelo padre Lino, além dos "convites" para voltar à Itália.
"Isso durou alguns minutos, até que os ministros da eucaristia, que estavam na sacristia, se colocaram entre mim e as pessoas e as convenceram a sair. Não foi uma tentativa de diálogo, foi uma agressão verbal", conta o sacerdotenovibet online casinoentrevista por telefone à ANSA.
No domingo seguinte, 11 de julho, o padre Lino não participou da missa das 8h, mas um apoiador de Bolsonaro se levantou após a leitura de uma breve nota da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o caso da semana anterior e começou a gritar palavras de ordem.
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"Eu não estava presente, mas isso criou uma grande confusão", diz. Na semana posterior,novibet online casino18 de julho, outra tentativa de intimidação, apesar de o italiano novamente não estar na igreja.
A missa matutina teve presençanovibet online casinopeso de bolsonaristas, muitos deles vestindo camisas verde e amarelo e com o número 17.
Não houve confusão, mas após a celebração, o grupo posou para uma foto na frente da igreja, como se comemorassem uma conquista. Na visão do padre Lino, a atitude dos apoiadores do presidente de extrema direita na Igreja foi "ostensiva" e até "provocatória".
Desde a confusão de 4 de julho, o sacerdote não voltou a celebrar missas na Paróquia da Paz, cuja secretaria já recebeu telefonemas de tons ofensivos e ameaçadores.
Meio século no Brasil
Nascidonovibet online casinodezembro de 1938,novibet online casinoSan Giovanni Ilarione, cidadezinha de 5 mil habitantes situada na região italiana do Vêneto, Lino Allegri era parte de uma família de oito filhos e se mudou aos seis anos para Bolzano, um importante município do extremo-norte do país.
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Após estudarnovibet online casinoum seminário de Trento, foi ordenado padrenovibet online casino1965 e iniciounovibet online casinocarreira eclesiástica na diocese de Bolzano.
O sacerdote conta que um de seus sonhos quando jovem era atuar diretamente com os pobres e ser uma espécie de "padre operário", seguindo a tradição de uma família de chão de fábrica.
"Minha família toda era operária, então eu queria ser operário na siderúrgica onde meu pai trabalhou. Em julho, que é mês de férias, eu fui lá e trabalhei, mas depois o bispo não deixou. Eu era um padre novo, bastante obediente, então decidi que, se não fosse lá, queria ir para a América Latina", diz o italiano.
Na época, um grupo de padres estava se preparando para partir para o subcontinente, e Lino resolveu se juntar ao movimento, desta vez com a bênção do bispo. "Quando completei cinco anos de trabalho na Itália, o bispo me deixou sair e eu fui destinado ao Brasilnovibet online casino1970", acrescenta.
Em 1974, Lino e outros padres italianos foram enviados à diocese de Bom Jesus da Lapa (BA), que era marcada por conflitos de terra entre latifundiários e posseiros. Os sacerdotes logo tomaram o lado dos trabalhadores e receberam até ameaças de morte por parte de grileiros.
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"Foi um momento tenso, porque os pistoleiros não eram brincadeira. Houve várias mortes de lavradores na paróquia e até de um advogado do sindicato. O momento atual é menornovibet online casinoperigo e violência, mas não deixa de ser preocupante", afirma.
Segundo o sacerdote, causa incômodonovibet online casinoalgumas pessoas ouvir um padre falar sobre opressão, pobreza, desigualdade. "Tem palavras que quase não se pode pronunciar. Falar de pobre, para muita gente, é fazer política."
Esses temas são recorrentes nas homilias e nos discursos de ninguém menos que o papa Francisco, líder da Igreja Católica e que já dedicou até uma encíclica a questões sociais, a "Fratelli tutti" ("Todos irmãos",novibet online casinotradução livre).
Para o padre Lino, o surgimento do pontífice argentino é um "milagre de Deus na Igreja". Já taxado de "comunista" pela ultradireita, Francisco prega desde o início de seu mandato a construção de uma "Igreja de saída", ou seja, uma Igreja que procure o povo ao invés de esperá-lo, especialmente nas periferias.
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Lino seguiu esse exemplo e criou um gruponovibet online casinoFortaleza com pastorais sociais e comunidades de base para estar "no meio do povo". "E acho que isso incomoda. Alguns acham que dá para viver o Evangelho sem se meter nos problemas concretos dos pobres", diz o padre, que não poupa críticas a Bolsonaro - ele já participou até de protestos contra o mandatário.
De acordo com o sacerdote, o presidente contraria todos os ensinamentos de Jesus Cristo, especialmente pornovibet online casinoatitude debochadanovibet online casinorelação à pandemia, pelo apoio ao armamento da população e pornovibet online casinopostura com mulheres, homossexuais, negros e os "que são diferentes".
"Ele vai totalmente contra aquilo que é o ensinamento de Cristo. Não é parcialmente, não, é totalmente. Ele é católico quando interessa, evangélico quando interessa, não está respeitando as religiões", afirma.
Diante das intimidações, não há previsão para o padre Lino retornar às missas na Paróquia da Paz, mas ele garante que vai voltar, "se Deus quiser".