cas das apostas-'Faço doutorado e vivo de doação': atrasocas das apostasbolsas faz cientistas passarem necessidadecas das apostasMG
cas das apostas
Desde outubro do ano passado, pós-graduandos de universidades públicas de Minas Gerais beneficiados por bolsas de regime de dedicação exclusiva sofrem com atrasos dos repasses da fundação mineira de amparo à pesquisa; entidade diz que governo tem problemas financeiros.
Leandro Machado - Da BBC Brasilcas das apostasSão Paulo
cas das apostas de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar
A pesquisadora Letícia precisa importar livros da França para terminar seu doutoradocas das apostaspsicologia, pois não existem traduções das obras para o português. Mas ela conta que nos últimos meses teve preocupações mais urgentes e básicas: como conseguir comida?
Já Angélica Samer, doutorandacas das apostasbiologia, está evitando ir à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estuda, para economizar R$ 16 da passagem de ônibus.
Elas estão entre os 7 mil bolsistas de iniciação científica e pós-graduação da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Recebem R$ 2,2 mil mensais para produzir suas pesquisas, mas os constantes atrasos de pagamento do auxílio estão criando dificuldades que elas não imaginavam passar nessa fase da vida acadêmica.
"Em fevereiro a fome bateu, cara. Passei fome, sim. Olhei o armário e não tinha carne, não tinha arroz, farinha", conta Letícia, de 40 anos. A seu pedido, seu nome verdadeiro foi trocado nesta reportagem pois ela teme sofrer represálias.
A acadêmica começou a receber o auxílio da Fapemigcas das apostas2016, quando iniciou o doutoradocas das apostaspsicologia na UFMG. Ela e outros estudantes de universidades públicas de Minas contam histórias semelhantes: até meados de 2016, as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado eram pagascas das apostasdia.
Então elas começaram a chegar poucos dias após o prazo - a data oficial de pagamento chegou a ser postergada para evitar atrasos. A partir de outubro do ano passado, a situação piorou: as bolsas passaram a atrasar por mais de um mês.
Publicidade
As de janeiro de 2018 só foram pagascas das apostasmeados de março e os auxílios de fevereiro ainda não caíram. Após o contato da reportagem, na sexta-feira, a Fapemig afirmou que a verba começará a ser paga nos próximos dias.
Essas bolsas são do tipo "dedicação exclusiva". Para consegui-la, o estudante assina um contrato se comprometendo a não ter outra atividade remunerada que não seja a pesquisa - ele deve dedicar 40 horas por semanas à academia.
Caso descumpra e consiga um trabalho, por exemplo, o bolsista perde automaticamente o benefício e pode ter de devolver toda a verba que recebeu, por meio de processo. Ele também precisa publicar artigos acadêmicoscas das apostasrevistas científicas e participar de congressos.
Letícia é um desses casos. Não pode trabalhar até terminar seu doutorado. O problema é que a bolsa tem atrasado cada vez mais - ela parou de comprar os livros de que precisa. "Sou uma pessoa pobre. Tenho de comprar comida, pagar aluguel, comprar os livros. Como vou fazer isso se a bolsa não é paga?", diz ela, que se mudou para Belo Horizonte para trilhar carreira acadêmica.
Publicidade
Sem o pagamento, as contas se acumularam e o cheque especial passou a cobrar os juros.
Em fevereiro, quando viu seu armário vazio e a conta bancária negativa, ela pediu ajuda a colegas. Pesquisadores de outras universidades arrecadaram dinheiro e alimentos para ajudá-la . "A Fapemig diz que você não pode trabalhar, que precisa se dedicar, escrever artigos. Mas não te paga a bolsa. Eles são muito rígidoscas das apostastudo, menoscas das apostaspagar o nosso dinheiro", conta.
'Tinha o sonho de ser cientista'
Também doutoranda na UFMG, a bióloga Angélica Samer, de 26 anos, estuda a incidência de dengue e zikacas das apostasMinas Gerais, mas não consegue ir à universidade por falta de dinheiro - também desistiu das aulas de inglês e do plano de saúde. Os constantes atrasos da bolsa desanimaram a estudante.
"Sempre tive o sonho de ser uma cientista: fiz graduação, mestrado e, agora, doutorado. Mas o que faço agora? Estou perdida. Me sinto qualificada para trabalhar, mas não posso por causa da bolsa", diz.
Ela cita o cientista britânico Stephen Hawking, que morreu na semana passada. "As pessoas ficaram comovidas com a morte dele. Infelizmente, elas não sabem das dificuldades que os pesquisadores brasileiros passam para produzir ciência."
Publicidade
Renata (nome fictício), doutorandacas das apostasagronomia na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), tem sentimento parecido. "Não desisto porque quero muito terminar, mas me sinto completamente desestimulada. Eu poderia ganhar muito mais atuando no mercado", diz ela.
A agrônoma conta que, durantecas das apostaspesquisa de campo, acabou sem dinheiro para coletar o material que precisava para finalizar seu estudo. Ela também evita se deslocar à universidade, a 23 km decas das apostascasa. "É humilhante você estar no doutorado e ter de pedir dinheiro acas das apostasmãe para comprar produtos básicos de higiene", conta Renata, de 30 anos. Ela tem uma filha de um ano e quatro meses.
Estudante de geografia, Gustavo também tem dificuldades para se manter no campus da UFUcas das apostasItuiutaba, no interior de Minas, cidade para onde ele se mudou por causa da graduação. Ele recebe uma bolsa de R$ 400 para realizar uma pesquisa de iniciação científica - usa parte do dinheiro para pagar o aluguel.
"Sonhocas das apostasfazer mestrado e doutorado, mas já na graduação enfrento essas dificuldades. É muito frustrante. Quando eu me formar, talvez eu vá trabalhar no mercado", diz.
Publicidade
Crise financeira
A Fapemig é mantida pelo Estado de Minas Gerais, hoje governado pelo petista Fernando Pimentel. A fundação foi criada há 32 anos para apoiar "projetos de natureza científica, tecnológica e de inovação considerados estratégicos para o desenvolvimento do Estado", diz a descriçãocas das apostasseu site.
Segundo a fundação, as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado custaram R$ 58,6 milhões aos cofres públicoscas das apostas2017, apesar dos atrasos. O orçamento total do órgão foi de R$ 295 milhões.
A instituição diz quecas das apostasverba é passada pelo governo estadual, que "estácas das apostascrise financeira."
"A Fapemig tem como prioridade mantercas das apostasdia o pagamento das bolsas concedidas pela Fundação. A direção da Fapemig tem efetuado diversas ações junto ao tesouro estadual, fonte dos recursos para pagamento das bolsas, a fim de assegurar esse pagamento", afirmou a instituição,cas das apostasnota.
Membro Associação Nacional de Pós-Graduandos, Laís Moreira faz uma crítica à forma como os governos estaduais e federal tratam a produção científica no Brasil. Ela aponta, por exemplo, o fato de o presidente Michel Temer (PMDB) ter fundido o antigo Ministério da Ciência e Tecnologia com o de Comunicações,cas das apostas2016, e, no ano seguinte, anunciado um corte de verbas na pasta.
Publicidade
"A desvalorização da pós-graduação ocorre no Brasil inteiro. Nossa luta não é corporativista, a bolsa não é um salário. Não existe saída para a crise por meio de desenvolvimento econômico e inovação sem passar pela pós-graduação ", diz Laís.
Veja também
Multidão reage com protesto à morte de vereadora no Rio
Video Player
BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.