Resumo
Série do Visão do Corre narra o nascimento, vida e morte de um Jesus periférico. Nesta reportagem, a vida de um pregador de origem camponesa, marginalizado e, de certa forma, delinquente, pois desafiava o poder político romano e as noções religiosas tradicionais.
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Jesus é cria da periferia. “Se a gente ler os evangelhos com atenção, a única vez que ele entrou numa cidade, foi Jerusalém, e para morrer”, lembra André Leonardo Chevitarese, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus – Lucas, 6:20
Nas cidades viviam os proprietários de terra, os soldados e os governantes, que cobravam altos impostos. Nos centros do poder, Jesus estaria exposto. Andar por territórios periféricos como aldeias e vilas foi uma opção estratégica.
Frei David dos Santos, franciscano, fundador da rede de cursinhos Educafro, diz que “semelhante à época de Jesus, muitos religiosos e sacerdotes estão mais preocupados com o status político e econômico do que, efetivamente, no trato do povo”.
Jesus, homem do povo das periferias
Chevitarese, que escreveu Jesus de Nazaré, uma Outra História, conta que havia um clima de opressão e revolta na época de Jesus. Frutas, legumes, grãos, peixes: de cada quatro, três eram retidosf12 bet grupo telegram minesimpostos.
“É uma exploração violenta, tem uma revolta camponesa muito próxima ao contexto de Nazaré”, diz Chevitarese. De fato, a seis quilômetros, a cidade de Séforis foi invadida por camponeses liderados por Judas, o Galileu. Os revoltosos queimaram as dívidas com os donos de terra.
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É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus – Mateus, 19:23
Profetas como Jesus eram pessoas marginalizadas, “ninguém queria ser pastor, não tinha higiene, dormia ao relento, não podia seguir os rituais de pureza do judaísmo, eram meio andarilhos”, descreve o padre Júlio Lancellotti.
“Os profetas nunca estiveram no luxo,f12 bet grupo telegram minessituação superior ao do seu próprio povo, mas convivendo com ele”, diz o sheik Rodrigo Jalloul, da mesquita da Penha,f12 bet grupo telegram minesSão Paulo – embora muçulmano, respeita Jesus ef12 bet grupo telegram minesmensagem, fazendo trabalho social com pessoas de rua.
Pregação de Jesus só podia dar cadeia
“Há o famoso momentof12 bet grupo telegram minesque Jesus entra no templo e com uma vara enxota aqueles que tentam fazer vendas. Ele precisou agir com assertividade para impedir que negligenciassem a essência da igreja”, diz Frei David.
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres – Lucas, 4:18
Para o padre Júlio Lancellotti, Jesus contesta três pilares básicos da autoridade: Deus, que passa a ser o “pai amoroso que está no meio de nós”; a noção de pátria, pois todos são chamados; e a família, unida por laços de afeto, não necessariamente biológicos. “Isso era insuportável para os poderosos”.
Por isso a condenação de Jesus foi severa. “Crucificados são párias, a cruz é para pobres, miseráveis. Guardadas as devidas proporções, o esquadrão da morte partia para cima desses caras, da classe baixa, o negro, a negra, o indígena, o nordestino pobre. Para esses é bala”, compara Chevitarese.
Quais pessoas seriam abraçadas por Jesus hoje?
O rabino Alexandre Leone diz que “a essência da mensagem dos profetas não nos leva às mansões metafísicas do pensamento, mas aos cortiços de Jerusalém”. Trazendo para a atualidade, “a questão central é o órfão, a viúva, o imigrante, o favelado, é a realização do humano enquanto veículo da ação do divino”.
A ialorixá Roberta de Yemonjá, da Casa das Águas,f12 bet grupo telegram minesSepetiba, extremo da zona oeste do Rio de Janeiro, vai na mesma linha. “Eu compreendo que Jesus foi e seja do povo que pega o trem, metrô, a mãe preta, favelada, o homem preto que tem medo de andar sem RG. Jesus lidera essa população, esse povo”, diz ela.
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“No Brasil, uma situação semelhante é o trabalho de alimentar pessoasf12 bet grupo telegram minessituação de rua e vulnerabilidade social, como as cozinhas solidárias, que refletem a mesma missão de oferecer dignidade e esperança aos mais excluídos”, compara pai Denisson D'Angiles, sacerdote de umbanda.
Para o pastor Leandro Rodrigues, “a mensagem central é a inversão dos valores terrenos: no reino de Deus, o que importa não é a riqueza, mas a solidariedade, a humildade e a busca por justiça social”.