jogos que paga no cadastro-'Precisava viver para ter chance de dar o troco': a história de vida de um guerrilheiro armado torturado pela ditadura
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Celso Lungaretti relembra momentos da ditadura militarjogos que paga no cadastroque foi preso, torturado e até acusado de ser delator de uma organizaçãojogos que paga no cadastro de :Temos os melhores relatórios de previsão, você está convidado a participar
“Procuro ajudar a manter algumas coisas”. Essas ‘coisas’ citadas pelo jornalista Celso Lungaretti são as memórias vivas desse período tão violento e repressor que o País viveu durante a ditadura militar, instaurada no Brasiljogos que paga no cadastro1964.
- Esta é a 3ª reportagem da série com personagens que viveram a ditadura militar; leia também a história de Orlando e o relato de Ilda
Celso veio de uma família simples. É filho único, o pai era contramestre de fiação e a mãe ajudava o avô na marcenaria. "A gente vivia duro mesmo. Família antiga honesta, mas sempre meio na corda bamba, com dificuldade", relembra sentado na sala de seu apartamento no bairro da Bela Vista,jogos que paga no cadastroSão Paulo.
Apesar do pouco acesso às coisas da burguesia, sempre teve muita facilidade com o estudo, o que o ajudou a trilhar o caminho para a militância. Enquanto os outros jovens de classe média baixa da Mooca –-região na Zona Leste onde cresceu-- sonhavam com esposa, carro, duas casas, ser engenheiro ou doutor, ele, aos 13 anos, achava aquilo pouco.
“Eu queria alguma coisa que fosse útil para mim e também para os outros, que fosse útil para a sociedade”, frisa.
Com essa idade, começou a frequentar a biblioteca itinerante do bairro, onde passou a devorar obras de Franz Kafka, Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Fiódor Dostoiévski. Emprestava seis livros de uma vez. Até que teve contato com o movimento estudantil secundarista, no qual conheceu uma moça de Salvador, Maria das Graças.
O pai dela era militante, mudou para São Paulo após as coisas complicarem na capital baiana. Ela entrou no colégio MMDC, onde Celso estudava, e começou a juntar alunos para montar uma base. Foram apresentados por Eremias, nome de rua, como ele mesmo diz,jogos que paga no cadastroum recreio. “Foi um caminho. Não era tudo o que eu queria, na verdade, mas eu vi que era tudo o que existia. Na Moca,jogos que paga no cadastro1967, era isso”, aponta.
Na virada daquele ano, eles juntaram mais alguns estudantes e passaram a estudar a revolução, como no filme A Chinesa, uma adaptação do livro Os Demônios, de Dostoiévski.
“Veronique é uma estudante francesa de filosofia que forma um grupo com mais quatro amigos da universidade para debater temas políticos e sociais. Adeptos do maoísmo, os jovens se cansam de teorizar e decidem partir para medidas mais extremas contra o que eles consideram injusto”, diz a sinopse encontrada no site Adoro Cinema.
Mas Celso dá ajogos que paga no cadastroprópria explicação. Segundo ele, “o pessoal vai aprender a revolução, numa casa, ficam lá estudando e fazendo teatro da revolução”. Foi isso que eles fizeram naquele verão. Alguns não quiseram continuar, não foi o caso do jornalista. “Para mim, a opção foi para sempre, não foi brincadeira. Queria a opção revolucionária”, reforça.
Depois de passar o ano todo consolidando um grupo de liderança, com toda a Zona Leste,jogos que paga no cadastrouma sexta-feira, eles pararam a escola. “Foi uma aventura”, ri enquanto se lembra da situação. A confusão estava feita: veio polícia,jogos que paga no cadastrocarros descaracterizados para não chamar atenção, cortaram a luz e trancaram a escola com todo mundo dentro, ninguém podia entrar ou sair.
“A escola ficou com um farolete e a gente ficou circulando. Depois falaram que os líderes fugiram, mas estávamos lá o tempo todo, vocês que não nos achavam. Víamos o farolete, e íamos para a direção contrária. Quando cansaram de procurar, nós éramos três, resolveram soltar, mas todo mundo ao mesmo tempo”, diverte-se enquanto lembra da cena.
A noite acabou com um estudante furando o pneu do carro da polícia, os agentes tentando levar o garoto preso e a multidão de alunos partindo para cima dos policiais para conter a prisão. “O treinado policial pegou um revólver e deu um tiro para o ar. Covarde, né? Para um menino de 15 anos”, ressalta.
Porém, segundo ele,jogos que paga no cadastro1968, “era mágico para caramba”, as coisas eram improvisadas e acabava tudo bem. Ele conseguia conduzir a massa de estudantes, dava discursos, fazia a multidão se movimentar. Entretanto, neste mesmo período, um dos amigos de Celso foi levado naquele mês para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPs), onde foi torturado por dois dias antes de ser solto.
“A gente começou a sentir que ia acontecer algo com o Ato nº5. Estava claro o aumento da tensão. As coisas começaram a ficar muito claras. Percebemos que não ia poder continuar. Os agitadores da Zona Leste, todo mundo sabendo quem éramos, onde morávamos, a gente num instantinho ia cair.”
O AI-5 e luta contra a repressão
Ele cita o episódiojogos que paga no cadastroque o grupo ligado ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o Teatro Ruth Escobar,jogos que paga no cadastroSão Paulo, onde era exibido o espetáculo de Chico Buarque, Roda Viva, e agrediu artistas e depredou o cenário do localjogos que paga no cadastrojulho de 1968.
Celso estava certo. Poucos meses depois,jogos que paga no cadastro13 de dezembro de 1968, foi decretado o Ato Institucional, o AI-5, pelo presidente Arthur da Costa e Silva. Com ele, foram promovidas inúmeras ações arbitrárias, como a suspensão dos direitos políticos de pessoas contrárias ao regime militar, e reforçou a censura e a tortura.
Celso e sete amigos se juntaram no começo de 1969, quando já tinha 18 anos, ao grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que tinha o famoso militar Carlos Lamarca. Era “organização subversivo-terrorista” ejogos que paga no cadastrofinalidade era “a derrubada das instituições político-sociais vigentes no País, com a posterior implantação de uma ditadura-marxista-leninista”, conforme os documentos militares da época, obtidos pelo projeto Brasil Nunca Mais.
Como conta, ele entrou para a clandestinidade sem nada. Tinha dia que comia, literalmente, só pão com banana, dormiajogos que paga no cadastrolugares inóspitos, tudo para conseguir sobreviver dentro da militância e treinar. Foi responsável pelo setor de inteligênciajogos que paga no cadastroSão Paulo e, depois, designado para implementar o grupo no Rio de Janeiro. Após um ano clandestino e integrante da guerrilha armada, acabou preso,jogos que paga no cadastro16 de abril de 1970, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
Ele havia marcado com um amigo de guerrilha de se encontrar na manhã de uma quinta-feira, na Praça Sáenz Peña, mas, na noite anterior, esse homem foi preso e torturado, acabou informando aos militares sobre o encontro. Às 6h45, o pegaram. “Eu fui para o bar, pedi café e, de repente, o bar estava com três ou quatro massa bruta pulandojogos que paga no cadastrocima”, descreve.
Seus companheiros estavam tentando um jeito de encapsular cianeto para que,jogos que paga no cadastroocasiões como essas, pudessem morder a cápsula e tirar a própria vida sem que fossem presos ou torturados, mas sem sucesso.
“Se eu estivesse com esse negócio entre os dentes, só a forma como eles chegaram, já me faria morder e não precisaria nem decidir, eles teriam decidido por mim.”
Torturas e tímpanos perfurados
Celso não apanhou ali. O levaram para uma viatura, empurraram para baixo para que não fosse visto pelo vidro, e a tortura começou quando chegou ao quartel, localizado na Tijuca, onde estavam os serviços de inteligência e contra a revolução. “Eles procuravam não fazerjogos que paga no cadastropúblico”, ressalta.
“Lá foi um inferno. Muito violento de cara. Trazem uma multidão para espancar, para a gente ficar sem controle. Soco daqui e dali. Nunca sabe de onde vem. Perguntam tudo ao mesmo tempo. Fazem todo um jogo para desconcertar a gente. Foram dias infernais.”
As sessões de espancamento, com socos, pontapés, afogamentos e choques elétricos por dentro dos ouvidos, testículos e dedos ocorreram naquela quinta e seguiram até sexta e parte do sábado. Só pararam quando um coronel foi visitar a base e percebeu que ele estava com a pressão alta. “Um oficial visitante, mas de patente alta falou lá: ‘Chama o médico aí que esse menino está mal’”, relembra.
O tiraram da sala e o deram calmante. Mas ele aponta que só fizeram isso porquejogos que paga no cadastronovembro o jovem estudante e judeu Chael Charles Schreier morreu durante as torturas e aquilo virou notícia mundial.
“Tive um pequeno golpe de sorte no sábado. Isso já tinha tido uma repercussão mundial. E eles não queriam que morresse outro jovem. A repercussão foi porque morreu um jovem com infarto. Todo mundo sabe que foi tortura, não é uma morte para quem tem vinte e poucos anos.”
Celso sabia que não o queriam matar, porque seria perda de tempo fazer algo como aquilo, já que queriam tirar informações sobre a organização. Mas ele fingia acreditar que eles poderiam acabar com ajogos que paga no cadastrovida e não tinha medo de morrer. “Não me assustava a morte, porque aquilo era tão ruim. A gente não tinha perspectiva”, afirma. Eventualmente, era torturadojogos que paga no cadastrouma sessão de interrogatório. Em uma das vezes, levou um tapa na orelha e teve o tímpano perfurado.
Ele buscava soltar informações menores para que os companheiros que estivessem na rua tivessem tempo de “limpar” os aparelhos onde eram guardadas armas, munições e documentos, para despistar a expedição dos militares. Somente informações que não prejudicassem o grupo.
Era importante inventar qualquer resposta e, ao mesmo tempo, tentar descobrir com as perguntas que faziam, o que os militares já sabiam. Para ele, o principal é que não forneceu nenhum dado que pudesse levar à algum companheiro do mesmo patamar que ele, ou acima, pois quando cai algum chefe, caem mais tantas outras pessoas por causa disso.
Acusado de delatar uma área
Ao encontro disso, ele passou anos sendo malvisto por seus ex-companheiros que achavam que Celso tivesse delatado uma área guerrilheira no Vale do Ribeira,jogos que paga no cadastroSão Paulo. A áreajogos que paga no cadastrosi seria desativada pela VPR, pois era muito próxima a uma rodovia e os tiros ecoavam naquele local.
Lamarca deu a entender que o grupo iria para o Paraná, montar esse campo de treinamento. O terreno alijogos que paga no cadastroSão Paulo não tinha importância. Era o que se achava. Sob intensa tortura, ele revelou aquela região, achando que os companheiros não estavam lá. Ledo engano.
“Caiu a área. O Lamarca com nove companheiros tiveram uma fuga aventureira, contra 2.700 soldados, e conseguiram escapar”, diz. Ele e outro companheiro, Massafumi Yoshinaga, que também foi preso e torturado, levaram a fama por terem sido responsáveis por delatar a área. “Só que nenhum dos dois sabia onde era a verdadeira, a nova. A gente saiu da velha para São Paulo, não foi na nova, e muito menos ia dizer. Para quê? O que nos interessava?”, questiona.
Quando ele precisou lutar porjogos que paga no cadastroanistia, conseguiu ter acesso a um relatório de operações do exércitojogos que paga no cadastroque descrevia que ele tinha revelado a área abandonada, mas que os agentes foram até o local e não acharam nada, voltando para o quartel.
“Quer dizer, quinta eu falei e sexta foi o pessoal lá mas não encontrou nada. Sábado ocorreu outra prisão, [de uma mulher que integrava o movimento] e revelou o local exato da área que continuava ativa”, explica.
Massafumi não conseguiu lidar com a fama de ser traidor e,jogos que paga no cadastro1976, tirou a própria vida após outras duas tentativas. “Ele foi abandonado. Ele voltou para a organização, o deixaram sair, mas não lhe deram dinheiro, não deram jeito de chegarjogos que paga no cadastrooutro país”.
Celso respondeu por quatro processos, teve a prisão preventiva determinada e foi condenado basicamente por se filiar a organizações combativas, se associar as associações contra o regime que exerça atividades prejudiciais ou perigosas à Segurança Nacional.
Um novo rumo
Depois de deixar a prisão, meses mais tarde, o jovem ficou um tempo sem saber o que fazer, não voltou para a guerrilha. “A gente, para querer viver tudo, precisa ter uma perspectiva. Quando eu saí, eu estava totalmente sem perspectiva. Todas as coisas que eu acreditava já não serviam mais, eu não tinha mais o que fazer com elas.”
Foi difícil retomar a vida, mas ele conseguiu. Embora estivesse revoltado com a situação, conseguiu voltar a estudar, cursou jornalismo e encontrou novos amigos de luta. Colocou a cabeça no lugar após ter passado por tudo aquilo e tornou-se jornalista.
Passado alguns anos, e algumas cirurgias para voltar a ouvir –-o que não conseguiu, e hoje precisa de aparelhos de audição-–, casou-se e teve uma filha, Lauana, que agora tem 22 anos. Inclusive, por ela que chegamos até a história de Celso.
“Eu sempre soube que precisava viver para ter chance de dar o troco”, afirma. E ele conseguiu. O maior troco que Celso deu ao sistema, foi permanecer vivo e conseguir contar ajogos que paga no cadastroversão da história, tanto no livro que lançoujogos que paga no cadastro2005, Náufrago da utopia: vencer ou morrer na guerrilha, aos 18 anos, quanto nas entrevistas que concede e nos textos que escreve.