onabet afiliados-'A escrava que virou rainha': documentário e livros revivem história da brasileira que rompeu padrões do século 18

2 jul 2016 - 08h37
(atualizado às 10h20)

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A atriz Zezé Motta lembra como se fosse hoje o diaonabet afiliadosque recebeu o telefonema que mudouonabet afiliadosvida. Do outro lado da linha, o produtor Jarbas Barbosa avisava que ela tinha sido escolhida para interpretar o papel-título do filme de Cacá Diegues, Xica da Silva (1976). "Boa tarde, Chica da Silva!", saudou Barbosa, brincalhão. "Quase desmaiei!", recorda a atriz, aos risos.

Zezé Motta como Chica da Silvaonabet afiliadosfilme de Cacá Diegues,onabet afiliados1976
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Foto: Luz Mágica Produções/ Divulgação/ BBC

Quarenta anos depois, Zezé Motta volta a trabalharonabet afiliadosuma produção sobre a escrava mais famosa da história do Brasil. Dessa vez, ela irá dirigir o documentário A Rainha das Américas - A Verdadeira História de Chica da Silva, que pretende passar a limpo a trajetória de Francisca da Silva de Oliveira, que ganhou fama e fortuna ao conquistar o coração do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Sua morte completa 220 anos.

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"Chica é daquelas personagens que a gente não sabe muito bem onde termina a história e começa a ficção. Em muitos registros, é tratada como prostituta. Mas, ela e João Fernandes viveram juntos 17 anos e tiveram 13 filhos. Sempre quiseram desqualificá-la, mas nunca conseguiram", diz a atriz.

O projeto do documentário inclui desde a exumação da ossada de Chica da Silva, sepultada na tumba nº 24 do cemitério da Igreja de São Francisco de Assis,onabet afiliadosOuro Preto, até a reconstrução de seu rostoonabet afiliados3D, tarefa que está a cargo do designer Cícero Moraes.

"Ainda não sabemos como ela morreu, mas já descobrimos que tinha por volta dos 60 anos e que sofria de reumatismo", adianta a roteirista Rosi Young. O projeto prevê, ainda, a construção de uma esculturaonabet afiliadosDiamantina (MG) e a criação de um hologramaonabet afiliadostamanho real. "Se tudo der certo, a imagem de Chica será projetada durante o desfile de uma escola de sambaonabet afiliados2018", diz Rosi.

Exumação da ossada de Chica da Silva faz parte de projeto de documentário
Foto: Jacques Dequeker/ BBC

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Uma Chica, muitas versões

O documentário A Rainha das Américas, que tem previsão de lançamento para 2017, é apenas um dos projetos que prometem recontar o mito da escrava que virou "rainha". Os outros são o romance Chica da Silva - Romance de Uma Vida, da jornalista Joyce Ribeiro, que já chegou às livrarias, e a biografia Xica da Silva - Cinderela Negra, da escritora Ana Miranda, que será lançada no segundo semestre.

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"Chica tinha tudo para desistir, mas lutou até o fim pelos seus sonhos. Viveu um relacionamento inter-racial, zelou pela educação dos filhos e, depois da ida do marido para Portugal, administrou, sozinha, os negócios da família. É moderna até para os dias de hoje", opina Ribeiro.

O primeiro relato de Chica de que se tem notícia está no livro Memórias do Distrito Diamantino, de 1868. Foi seu autor, o advogado Joaquim Felício dos Santos, quem imortalizou a personagem como dona de um apetite sexual insaciável.

"Não possuía graça, não possuía beleza, não possuía espírito; enfim, não possuía atrativo algum que pudesse justificar uma forte paixão", descreveu o autor. Detalhe: ele jamais conheceu Chica ou se baseouonabet afiliadosqualquer fonte histórica.

Quase um século depois, o médico Agripa Vasconcelos lançou Chica que Manda,onabet afiliados1966. Se Joaquim Felício retratou Chica como lasciva e sedutora, Agripa reforçou o estereótipo da mulher sádica e cruel. Num trecho do livro, conta que Chica mandou cortar a boca de uma suposta amante do contratador.

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Autor de Eles Formaram o Brasil, o historiador Fábio Pestana Ramos explica que a ex-cativa viveu segundo os rígidos padrões morais deonabet afiliadosépoca. Prova disso é o fato de ter sido sepultada no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis - um privilégio concedido à elite branca.

"Houve muitas iguais a ela, que ascenderam socialmente graças ao concubinato, mas nenhuma outra teve união estável com figura tão poderosa nem deixou herdeiros que tiveram tanta importância na formação da elite brasileira. Por essas e outras razões, sempre foi alvo de preconceito", explica Fábio.

Fonte de inspiração

Ainda hoje, não se sabe ao certo quando nasceu Chica da Silva. Estima-se que tenha sido entre 1731 e 1735, no povoado de Milho Verde, perto do arraial do Tejuco, atual Diamantina. Filha de um português, Antônio Caetano de Sá, com uma africana, Maria da Costa, tornou-se escrava, ainda adolescente, do médico Manuel Pires Sardinha, com quem teve um filho, Simão,onabet afiliados1751.

Comprada por João Fernandes no Natal de 1753, conquistouonabet afiliadosalforria pouco depois. Entre 1755 e 1770, teve 13 filhos - nove mulheres e quatro homens - todos com o contratador. João Fernandes morreuonabet afiliados1779 e, sete anos depois, Chica, mais exatamente no dia 16 de fevereiro de 1796.

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Ana Miranda lançará a biografia "Xica da Silva - Cinderela Negra" no segundo semestre
Foto: Adriana Vichi/ BBC

Desde então, já inspirou poesia, filme, canção, novela e até enredo de escola de samba. Foi assistindo ao desfile do Salgueiro,onabet afiliados1963, que Cacá Diegues teve a ideia de levar a história de Chica para o cinema.

"Construí meu filme como uma fábula política. O conde português simbolizava o imperialismo, o contratador, a burguesia; os moradores da cidade, a classe média; o inconfidente, os revolucionários, e a Xica, a alegoria vitoriosa e solar do povo", detalha o cineasta.

Muito antes de Cacá Diegues, Cecília Meirelles já prestava tributo à escrava-rainha no livro Romanceiro da Inconfidência, de 1953. "Ainda vai chegar o dia de nos virem perguntar: quem foi Chica da Silva que viveu neste lugar?", eternizou a poetisa. Anos depois, o escritor Walcyr Carrasco convidou a então estreante Taís Araújo para dar vida à protagonista da telenovela Xica da Silva, exibida entre 1996 e 1997 pela extinta TV Manchete.

Agora, chegou a vez de Ana Miranda daronabet afiliadosversão para a história. Para ser o mais fiel possível à realidade, tomou como referência Chica da Silva e o Contratador dos Diamantes - O Outro Lado do Mito, da historiadora Júnia Ferreira Furtado, da UFMG.

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Publicadaonabet afiliados2003, a mais completa biografia já escrita sobre Chica descreve a personagem como uma mãe de família dedicada, leal e religiosa.

Figura histórica é fonte de inspiração para diversas obras
Foto: Luz Mágica Produções/ Divulgação/ BBC

"Nunca chegaremos a um consenso sobre figura tão complexa, misteriosa e inquietante. A imagem de Chica foi sendo interpretada à luz dos tempos e a minha Chica é a soma de todas essas interpretações. É um quebra-cabeça de medos, ânsias e sonhos", define a escritora.

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Fontes de referência

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