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Passar o final de semana trabalhando, fazer hora extra ou começar a trabalhar de madrugada. Quem adota esses comportamentos pode parecer um profissional dedicado aos olhos do mercado. Os psicólogos alemães Timo Schiele e Bert te Wildt, porém, alertam que essas atitudes podem desencadear uma nova síndrome, o burnon.
O termo é utilizado para definir o profissional que se envolve de forma excessiva com o trabalho, e pode ter uma visão idealizada e romantizada da atividade profissional.
De acordo com Távira Magalhães, diretora de RH da Sólides, empresa de tecnologia para a Gestão de Pessoas, essa relação intensa com o emprego pode ocasionar uma negação dos sintomas.
"A pessoa apresenta sintomas como irritabilidade e insônia, e ela pega isso e se volta para o trabalho. Então, o pensamento e o espaço dela vão para o trabalho. A gente chama isso de mecanismo de defesa", explica Magalhães.
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Entenda a diferença entre Burnon e Burnout
O burnout é entendido como uma sobrecarga no trabalho, o que ocasiona um esgotamento profissional, causando exaustão, irritabilidade e estresse. A demanda excessiva de trabalho, por parte da empresa, é uma das principais causas da síndrome.
No burnon, a demanda excessiva de trabalho vem do próprio funcionário, que ocupa o seu tempo livre com atividades relacionadas ao emprego.
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O burnon lembra um outro conceito, o de workaholic, aquele que trabalha demais. Os sintomas mais destacados são irritabilidade e isolamento social.
Para a psicóloga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Luciana Cavanellas, que estuda saúde do trabalhador, essa é uma questão complexa.
O trabalho ocupa uma posição central na vida das pessoas, e isso é reforçado pela lógica de mercado e de produtividade. A forma como as pessoas se relacionam com ele também varia. O trabalho pode ser um meio de sustento e/ou uma realização pessoal:
"Quando a gente diz que o trabalho é estruturante da identidade da pessoa, é muito simples isso. A primeira coisa que alguém pergunta para outro quando conhece alguém é 'o que você faz?'. Então o trabalho move as relações e a sociedade, se envolver com ele não é uma escolha pessoal", afirma Cavanellas.
É possível ter uma relação mais saudável com o trabalho?
O desejo de ter uma melhor relação com o trabalho é, para Cavanellas, a questão de um milhão de dólares: "A nossa saúde está diretamente relacionada a uma certa autonomia que a pessoa possui de transformar o meio, de fazer o trabalho ter sentido. Só que isso depende das condições de trabalho, dos coletivos de trabalho, da organização do trabalho, das relações sociais no trabalho, dos processos de trabalho. Sem isso, o indivíduo não consegue sozinho, é muito difícil", diz a psicóloga.
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Buscar melhores condições de trabalho é algo que vem crescendo com a geração Z. Uma pesquisa da Sólides indicou que 35,2% dos jovens entre 24 e 28 anos afirmaram que a motivação para pedir demissão foi a falta de preocupação da empresa com saúde mental. O número é 80% maior do que o das outras faixas etárias.
Para Magalhães, esse é um processo de mão dupla: "Do mesmo jeito que a empresa o escolhe, você também escolhe o lugar para trabalhar. Então, se as empresas querem um aumento de produtividade, se elas querem resultados, se elas querem uma redução na taxa de rotatividade, elas precisam olhar o ser humano como integral."