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O movimento vegano está crescendo no mundo todo, e no Brasil não é diferente, mas ainda hoje o veganismo é um pouco mais comum nos meios privilegiados. É por esse motivo, que boa parte das pessoas que praticam o veganismo são pessoas que compõem a classe média urbana, pessoas com poder aquisitivo e informação para optar por alternativas, mas isso está mudando.
A maioria das pessoas imagina que ser vegano precisa ter muito dinheiro e tempo, que lutar pelos direitos animais não é coisa da periferia. O que a gente vem mostrando é que existe de fato um movimento completamente elitizado, e uma causa dos direitos animais muito concentrado e voltado para uma bolha, mas isso não é problema do veganismo, e sim do nosso sistema econômico desigual.
O que acontece é muito simples, a periferia precisa se preocupar com questões básicas, com a sobrevivência, como moradia, alimentação e transporte, coisas básicas. A maioria da população não tem a possibilidade de ficar refletindo, pois o cotidiano social não permite. Lugares como as periferias, os sertões e os interiores funcionam de uma maneira muito diferente de lugares e de grupos com informação e grana.
Toda essa organização social que privilegia uma determinada classecasino pobedadetrimento à outra, influencia diretamente nas escolhas das pessoas, e por isso levacasino pobedaconta questões culturais, necessidades, luta pela sobrevivência, entre uma série de outras questões.
Por esse motivo, é muito mais fácil para uma pessoa que cresce com pessoas vegetarianas, com grana para não se preocupar com subemprego, e com tempo para pesquisar, refletir e decidir com o que contribuir e como quer viver.
O que não quer dizer que pessoas de periferias não podem mudarcasino pobedaalimentação, pensar, questionar e refletir questões como meio ambiente, exploração animal, saúde pública, alimentação saudável.
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Realmente é mais difícil algumas mudanças na quebrada, mas quando a informação se torna acessível e temos a mínima possibilidade de discernir, podemos fazer muito, mas muito do que dizem que não é para gente.
Não é absurdo dizer que o churrasco é o momento mais forte entre as famílias brasileiras e principalmente periféricas, porque aprendemos a enxergar o consumo de origem animal e o churrasco como luxo, merecimento e reconhecimento. Se reunir para assar carne no quintal é o momento de comemoração, que gera um sentimento muito afetivo, que ameniza as nossas batalhas cotidianas pela sobrevivênciacasino pobedaum sistema tão perverso.
Falamos de um lugar que estamos acostumados, crescemoscasino pobedachurrascos e sentimos tudo isso desde criança, lembro de sentir o cheiro do carvão queimando e me alegrar sem motivo aparente.
Não tínhamos dinheiro para frequentar churrascarias, mas uma vez na vida e outra na morte íamos, era um momento único e de real satisfação. Éramos do tipo de pessoas que curtia comer carne mal passada e não perdíamos nenhum churrasco.
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Até hoje, somos indagados sobre quando paramos de consumir carne e muita gente acha que isso é um hábito desde a infância, mas não, passamos a vida toda consumindo carne, leite e ovos regularmente.
O que fez a gente repensar o churrasco, repensar esse consumo foi descobrir as facetas da indústria da carne, sobretudo a situação deplorável e a situação insalubre a que os animais são submetidos.
Somos nascidos e criados na periferia, tivemos todas as dificuldades de qualquer jovem periférico, mas isso não foi uma questão para não agir e enxergar a realidade na qual os animais estão inseridos. Ignorar tais atrocidades tendo informação, e poder para escolher o que fazer, não fazia o menor sentido para nós.
É com acesso à informação e motivados a não apoiar a indústria da carne, do leite e de ovos que a gente sai do churrasco e começa a lutar pelos direitos dos animais de maneira muito contundente.
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Na quebrada não tinha cogumelos, tofu, hambúrgueres ou queijos veganos industrializados, isso nos mostrou que o caminho mais viável era uma alimentação completamente vegetal, com muitos legumes, frutas da época e vegetais. Melhoramos a nossa saúde, começamos a economizar, e entendemos que não queremos nunca mais voltar a consumir alimentos de origem animal.
Hoje frequentamos churrascos com outra cabeça, compreendendo tudo que há por trás de cada pedaço de animal sendo defumado na grelha. A gente leva o nosso rango, nossas paradas, a única diferença é a forma de enxergar a carne, o churrasco e tudo que existe nessa convivência. O churrasco não precisa acabar, mas a crueldade animal sim.
Pega a visão:
Não existe mudança individual que seja tão eficaz para mudar uma estrutura, uma sociedade, mascasino pobedahipótese alguma irá existir uma mudança estrutural, sistêmica e ampla sem ações individuais. É importante lutarmos por mudanças políticas e estruturais, mas sempre buscando fazer a nossa parte dentro das nossas possibilidades e realidade.
Não é possível se tornar vegano com dificuldades financeiras, sem a possibilidade de se alimentar bem e se informar de maneira plena sobre o assunto. Toda luta precisa vir com um viés socioeconômico e compreensível da realidade do país.
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Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagramcasino pobedaoutubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.