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Desde os primórdios, desde qualquer resquício de civilização que tivemos na Terra, é conhecida a existência de deuses. Eles sempre foram criados para refletir mais do que nossas crenças espirituais: eles são, na verdade, espelhos das nossas culturas, nossos medos, nossas aspirações e também das estruturas sociais que nos moldam dia após dia.
Foto: Pixabay / Revista Malu
Arquétipos como o da Mãe Terra (presentejogo para jogar no googleGaia, na mitologia grega, Ísis, no Egito, e outras divindades agrícolas) estabelecem uma conexão comum entre as primeiras civilizações e a natureza. Por isso, essas e outras análises das divindades, como Ísis no Egito, provam como essas figuras divinas simbolizavam certos aspectos da vida humana e cotidiana. E, consequentemente, moldavam a organização das sociedades.
Joseph Campbell, mitólogo e escritor norte-americano, famoso pelos seus estudos que envolvem o entendimento dos mitos e das religiões, falajogo para jogar no googleseu livro O Herói de Mil Faces sobre como as mitologias compartilham arquétipos que são universais e que transcendem quaisquer fronteiras culturais. "Os mitos são sonhos coletivos da humanidade, espelhando nossos desejos, medos e lutas mais profundas", escreve o autor.
O livro, publicadojogo para jogar no google1949, é uma das obras mais influentes de Campbell e tornou-se referênciajogo para jogar no googleestudos de mitologia, psicologia e narrativas. Nesse contexto, ele acreditava que os mitos desempenham um papel essencial na psique humana. E, assim, ofereciam 'modelos' de como superar desafios, lidar com transformações e encontrar significado na vida. Como ele dissejogo para jogar no googleuma de suas frases mais célebres e perpetuadas até hoje: "Sigajogo para jogar no googlefelicidade."
Quando falamos sobre análise das divindades, o livro cumpre uma função importante ao trazer luz sobre como os mitos criados pelas culturas são reflexos tanto das batalhas quanto das aspirações humanas. Os deuses e/ou figuras divinas que costumamos adorar frequentemente incorporam características do arquétipo do herói. Seja no papel de guias, opositores ou mesmo representantes de algum tipo de transformação - interna ou externa.
Portanto, é um livro que não apenas desconstrói alguns padrões narrativos sobre mitos divinos. Mas também convida o leitor a refletir sobre como essas histórias moldam nossas vidas, crenças e sociedades - que é o nosso objeto de análise aqui hoje.
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A jornada do herói
Além dessas reflexões, na obra, o autor apresenta e discute o conceito do monomito, ou Jornada do Herói. Que nada mais é do que a estrutura narrativa que geralmente é usada para contar a trajetória dos mitos e histórias de diferentes culturas no mundo. E que não só se limita às narrativas tradicionais. Mas também dá base para conteúdos da literatura moderna, filmes e até mesmo materiais sobre desenvolvimento pessoal.
Campbell sugere que a Jornada do Herói é composta por etapas recorrentes que representam o processo de crescimento, transformação e autodescoberta de um indivíduo. As principais fases incluem:
Partida: O herói é chamado para uma aventura, frequentemente deixando o mundo comum para explorar o desconhecido.
Iniciação: Durante a jornada, o herói enfrenta desafios, testes e aliados, culminandojogo para jogar no googleum momento de transformação ou revelação.
Retorno: O herói retorna ao mundo comum, trazendo conhecimento ou poder para beneficiarjogo para jogar no googlecomunidade.
O inconsciente coletivojogo para jogar no googlebusca de 'ajuda'
Ainda sobre essa jornada, Campbell sugere que os mitos são quem, após essas três etapas, retornam 'aos seus', trazendo respostas que, na verdade, emergem do inconsciente coletivo. A partir disso, ele identifica figuras e temas recorrentes nesse processo, como:
O Mentor, que é quem guia o herói na jornada.
A Prova Suprema, que testa a coragem e a determinação do herói.
O Elixir, a recompensa que o herói obtém e leva de volta àjogo para jogar no googlecomunidade.
Quem também reforça essa ideia é o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung. Emjogo para jogar no googleobra Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo sugere que essas figuras divinas surgem de um inconsciente coletivo que, porjogo para jogar no googlevez, tem como objetivo ordenar o caos do mundo. "O inconsciente coletivo contém imagens primordiais que ressoam com os mitos que criamos, dando-lhes poder e relevância ao longo dos séculos", afirma.
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E as deusas?
Também dizem muito sobre a nossa necessidade de reforçar a força e o poder das mulheres e do feminino na construção de diversos aspectos do mundo. Em paralelo, a 'queda' dos mitos das deusas ao longo do tempo mostra como a nossa sociedade foi deixando de lado a importância dessas figuras, para atender à demanda patriarcal que passou a tomar forma.
Em Mulheres, Mitos e Deusas, Martha Robles explora como as figuras femininas eram centrais nas primeiras civilizações. Ísis, por exemplo, não era apenas a protetora da natureza, mas também uma deusa-mãe que simbolizava a fertilidade e a regeneração. Robles ressalta que "as deusas eram celebradas como as criadoras e mantenedoras da vida, refletindo o papel crucial das mulheres nessas sociedades."
De forma semelhante, Kali, na mitologia hindu, era a personificação da força destrutiva necessária para a renovação do universo. Sua imagem aterrorizante é um lembrete de que destruição e criação são inseparáveis.
Contudo, com o avanço do patriarcado, muitas dessas figuras foram diminuídas ou relegadas a papéis secundários - colocando o homem como figura central de todas as histórias. Entre 7000 e 5000 a.C., as divindades femininas tinham um peso equivalente ao dos deuses masculinos. Porém, como Mircea Eliade destacajogo para jogar no googleO Sagrado e o Profano, "o poder das deusas começou a ser eclipsado pelas figuras masculinas dominantes, refletindo as mudanças nas estruturas de poder humano."
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Tentativa de explicar o inexplicável
Além de serem reflexo do que queremos e acreditamos, as figuras divinas também servem como um elo entre o homem e o inexplicável. Além de serem constantemente usadas para legitimar o poder político. Na Grécia antiga, Atena simbolizava sabedoria e estratégia, sendo venerada como um exemplo da glória da cidade-estado de Atenas. Já na mitologia japonesa, Amaterasu, a deusa do Sol, reforçava a ideia de que o imperador era um descendente direto do divino. Ou seja, o mito era uma ferramenta de poder, que legitimava a autoridade por meio de uma conexão sagrada.
A modernidade e os ''novos deuses''
Trazendo essa discussão para os dias atuais, podemos concluir que os mitos modernos não desapareceram, apenas mudaram de forma. As narrativas modernas, como é o caso do capitalismo e do nacionalismo - muito presentes nos discursos hoje - funcionam, para muitos, como religiões secundárias, com ícones que substituem os deuses tradicionais. Tornou-se comum vermos líderes políticos, celebridades e até super-heróis serem tratados como deuses, se tornarem divindades contemporâneas, pois são eles quem refletem os valores da sociedade atual. Assim como Zeus lançava raios para demonstrar seu poder, personagens como o Superman simbolizam esperança e justiça no imaginário moderno, e de uma sociedade atual tão carente de representantes.
E por que continuamos a criar deuses?
Seja na antiguidade ou nos dias atuais, os deuses que veneramos revelam mais sobre nós do que sobre o sobrenatural. Eles mostram nossos medos do desconhecido, nossa busca por poder e, acima de tudo, nossa necessidade de conexão com algo maior. Como Carl Jung escreveu: "Os deuses não são mortos. Eles vivemjogo para jogar no googlenossas histórias, sonhos e símbolos, esperando que os reencontremos." A pergunta que fica é: se nossos deuses refletem nossa sociedade, que mitos estamos criando para o futuro?
