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A alimentação sempre foi um pilar importante na vida de Deborah Martins, 27. Indígena Pataxó e natural de Alcobaça, no extremo sul da Bahia, ela sempre viu a família ter amor pelo ato de cozinhar. A bisavó era doceira, o bisavô era padeiro e o avô era pescador, assim como muitos dos tios e primos.
“Nasci literalmente numa casa na beira do rio, então acompanhava meus tios saindo para o mar e trazendo peixes e mariscos para dentro de casa. Acompanhava toda a ritualística que envolvia, por isso cozinhar é algo tão comum para mim”, define.
“A culinária corre no sangue da família e eu não fugi disso. Apenas decidi seguir nesse ramo profissionalmente, mas já estava predestinado”, explica ela, que começou a cozinhar aos 12 anos de idade.
Antes de seguir essa paixão, no entanto, ela chegou a se formarrollover arbetydireito no fim de 2020. Somente no último ano da faculdade percebeu que poderia investir na gastronomia como profissão. “Inclusive meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] foi sobre a proteção dos territórios indígenas para garantia da alimentação adequada desses povos”, lembra.
Nesse processo nasceu, há dois anos, a página Alecrim Baiano no Instagram, na qual Deborah compartilha a gastronomia anticolonial, ensina receitas e conversa sobre consciência alimentar e alimentação como um direito humano.
“Lido com a alimentação de uma forma muito íntima. Muito próxima e muito distante do conceito de apenas alimentar um corpo físico”, comenta. Atualmente, o trabalho dela como chef se concentra na rede social, que reúne 16 mil seguidores.
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Deborah tem especialidade no preparo de três pratos: a tarioba, uma espécie de ostra pescada nas areias na beira do rio; o peixe assado na folha da bananeira ou da patioba; e o ouriço do mar na brasa. Ela também explica que a base da culinária tradicional do povo Pataxó são os frutos do mar.
“Por vir de uma família de pescadores artesanais, desde cedo aprendi que o animal (peixe, camarão, caranguejo etc.) que vai nos alimentar tem um valor espiritual e que devemos sempre ser gratos a ele”, diz.
“Porque além de alimentar nosso corpo físico, eles nos possibilitam a manutenção da nossa cultura. A gente se conecta com nossos ancestrais através da comida.”
Território como resistência
Desde o mês de março deste ano, Deborah é moradora do Rochdale, bairro da periferia de Osasco, na Grande São Paulo, onde divide a casa com a namorada, a estudante de biomedicina Bruna Carolina, do povo Kariú.
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Uma das primeiras coisas que fez ao se mudar foi visitar as aldeias do povo Guarani, no Jaraguá, zona noroeste da capital paulista. “Esqueci por um momento que estavarollover arbetySão Paulo”, brinca.
“Conheci parentes pessoalmente porque antes só conhecia o pessoal pelo Twitter mesmo. Fui na casa de reza ouvir os cantos do povo Guarani e conversei com parentes de outras etnias”, conta a chef.
Na vida de Deborah, o resgate da identidade indígena começou a aparecer com mais força somenterollover arbety2018. “Comecei a resgatar tarde porquerollover arbetytodas as vezes que tentei antes disso eu fui ridicularizada por alguém. Então sempre deixei para lá”, diz.
“Aí fico pensando: foram quase 60 anos para a minha mãe se entender e falar ‘eu sou uma mulher indígena’, sabe? Não tem tempo certo para você começar seu resgate,rollover arbetyalgum momentorollover arbetycultura vai te chamar. Cada povo tem arollover arbetymaneira, mas o primeiro passo de tudo é conversar comrollover arbetyfamília”, relata.
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Nas redes sociais, Deborah também tem utilizado as publicações para fortalecer a luta indígena. Segundo ela, cada povo passa por dificuldades singulares dependendo da região do país onde estão, ao mesmo temporollover arbetyque a luta é a mesma: a demarcação das terras indígenas.
“Os povos da aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, e da aldeia Jaraguá,rollover arbetySão Paulo, lutam contra a especulação imobiliária. Nos extremos da Bahia, a gente luta contra empresas de turismo, a galera querendo invadir para construir resort, EcoPark e parques aquáticos, ou lutamos contra fazendeiros latifundiários”, diz.
Para ela, território é resistência. “A nossa luta é, de fato, pelo território. O território indígena envolve rios, mares, florestas e lagoas. Tudo aquilo que estárollover arbetytorno e que possibilita que aquela família ou comunidade viva de acordo com suas culturas.”
“Foram 522 anos de genocídio, de etnocídio e os nossos ancestrais resistiram tão bravamente para que essa cultura chegasse na gente. A gente está fazendo isso junto com a tecnologia: usando a nosso favor”, conclui.